sexta-feira, 25 de setembro de 2015

“Estado de Sítio”, de Albert Camus – primeiro ato – Peste dá duas horas para que o governador lhe entregue os poderes; sem dar crédito ao tipo corpulento, o político local ameaça prendê-lo; a Secretária fez um risco em seu caderno e “irradiou” um dos guardas; acuado, o governador aceitou “transmitir” o cargo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus_22.html antes de ler esta postagem:

O Governador assustou-se ao ver o tipo forasteiro se autodenominando Peste.
Peste explicou que estava desolado... Ele estava muito atarefado... Necessitava ocupar o governo da cidade imediatamente... Então perguntou se duas horas bastariam para que os poderes lhe fossem totalmente transferidos.
O Governador não levou aquilo a sério... O tipo só podia ser um impostor... Fez a sua ameaça de punição e chamou os guardas.
Peste o advertiu que não desejava assumir a cidade à força... Tratava-se de “personalidade correta”... Entendeu que a postura defensiva do governador, já que ele nem o conhecia... Quis que ele entendesse que não seria interessante dar mostras do que verdadeiramente podia fazer.
Mas não houve jeito... O Governador esbravejou que não tinha tempo a perder e ordenou que o prendessem.
Dando mostras de aborrecimento devido à conversa enfadonha e à postura irreversível do governador, Peste solicitou que a Secretária despejasse uma irradiação.
Dois guardas avançavam na direção de Peste... A Secretária ergueu o braço para um deles e depois fez um risco no caderno que trazia consigo... Imediatamente ocorreu um estrondo e o guarda caiu... A mulher o examinou e disse que três manchas o marcavam... Depois explicou a todos que uma mancha significava que a pessoa era suspeita; duas garantiam a contaminação; três manchas traziam a completa irradiação ao afetado.
(...)
Peste apresentou formalmente a sua secretária e desculpou-se por não tê-lo feito antes. Depois deu mostras de seu reconhecimento pelos serviços prestados por ela, figura sempre alegre e cuidadosa.
A Secretária respondeu que não havia nenhum mérito nisso... E garantiu que “o trabalho é mais fácil entre flores frescas e lindos sorrisos”.
Peste interrompeu o diálogo que, dadas as circunstâncias, beirava o absurdo... Voltou para o Governador e viu que ele estava assustado com a “prova de serenidade” que ele acabara de assistir. Disse-lhe que aquilo não representava o seu modo de agir... Preferia mesmo o entendimento amistoso e baseado na confiança... Eles podiam entrar num acordo honroso... Perguntou se as duas horas eram suficientes para que a transferência de poderes se efetivasse...
O governador balançou a cabeça em sinal de negação... A Secretária disse que aquela obstinação, sem dúvida, significava contratempo desagradável.
Peste voltou a dizer que fazia questão de ouvir a aprovação das lideranças políticas locais... Era um princípio do qual não desejava desviar-se... No entanto podia autorizar a Secretária a proceder muitas irradiações se isso fosse necessário.
(...)
A Secretária teria apenas o trabalho de apontar o seu lápis... Para tudo havia jeito... Ela disse qualquer coisa a esse respeito enquanto calibrava sua ferramenta.
Tudo pronto, Peste ordenou que Nada se aproximasse... Pelo visto ele seria o próximo a ser “riscado do caderno”...
O vagabundo bêbado soltou uma tremenda gargalhada. A mulher explicou ao chefe que aquele tipo era dos que em nada creem.
Tudo indicava que a escolha era inconveniente... Então Peste sugeriu que ela poderia começar por um dos alcaides.
Os altos funcionários entraram em pânico... O Governador solicitou que o intruso parasse com aquele terrorismo.
Peste e a Secretária se voltaram para ele.
O homem estava pálido... Perguntou se seus alcaides seriam poupados no caso de os poderes serem transferidos... Peste garantiu que essa era a sua praxe.
(...)
O Governador conversou com seus alcaides por um instante.
Depois se voltou ao povo de Cádiz para anunciar sua decisão.
Em síntese, falou que teria de deixar o poder... Um novo governo seria instalado... Todos deveriam compreender que o acordo evitaria o pior... Conservaria sua equipe para além dos muros da cidade com a certeza de que um dia ela ainda seria útil a todos.
Ele garantiu que não estava agindo unicamente para cuidar da própria segurança... E estava neste ponto quando Peste solicitou que ele declarasse que o acordo que haviam firmado era totalmente livre.
A Secretaria, lápis à mão, o observava com atenção... Ao vê-la, o Governador anunciou que sim, se tratava de um acordo livre.
Sem titubear, recuou e fugiu...
Seus auxiliares o seguiram imediatamente.
Todavia Peste barrou o primeiro alcaide.
Leia: Estado de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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