É neste momento da peça que o Governador manifesta em seu palácio que tem esperança, pois acredita que tudo se arranjará... Apenas lamenta que devesse ir à caça (algo importante a se realizar)... O primeiro alcaide emendou que em nenhuma hipótese ele deveria faltar à atividade, pois a caçada demonstraria sua serenidade... Seria um bom exemplo a dar.
(...)
Na
igreja teve prosseguimento a confissão coletiva... Os fiéis pediam perdão a
Deus... Por tudo o que haviam feito e também pelo que jamais haviam feito.
O coro cantou que os
arrependidos não teriam nada a temer... Terrores da noite, flechas que voam de
dia, peste que caminha na sombra ou epidemia que se arrasta à luz do dia...
Uma
voz à parte exclamou: Ó grande e terrível
Deus!
(...)
Na
casa da família de Vitória, o juiz Casado fazia leituras de salmos... Ele
estava cercado pela família: O Senhor é
meu refúgio e minha cidadela. Pois é Ele que me preserva da armadilha do
passarinheiro. E da peste assassina.
A
mulher do juiz gostaria que pudessem sair da casa... Mas Casado a repreendia
afirmando que ela saíra demais durante a vida, e aquele comportamento não
trouxera felicidade à família... Ela argumentou que Vitória ainda não retornara
e que isso a afligia, pois a moça podia ser atingida pelo mal.
Casado
respondeu que a esposa nunca receara por nenhum mal... Deviam permanecer em
casa porque ele mesmo providenciou tudo para que não passassem necessidades...
A casa permaneceria “tranquila no meio do flagelo”... Contariam com a benevolência
de Deus, e nada sofreriam...
O
homem recomendou que ela pensasse mais no filho e que mandasse buscar provisões
para armazenar... Disse isso e retomou a leitura dos salmos.
(...)
E agora, o que vemos?
A
luz dos holofotes evidencia a praça...
Vitória surge e chama por Diogo... Onde ele estaria?
Uma mulher responde que o
rapaz se encontra entre os doentes, a quem procura prestar atendimento...
Vitória se dirige às
pressas para um dos lados... Choca-se com o próprio Diogo... O rapaz traz no
rosto a máscara dos médicos que atendem os infectados.
(...)
A moça soltou um
grito de pavor... Diogo perguntou-lhe se ele causava tanto medo assim. Ela
disse que ele devia retirar a máscara e abraçá-la... Se estivessem juntos,
nenhum mal a acometeria... Fazia um bom tempo que o procurava por toda a parte,
então quis saber se algo havia mudado entre os dois... Temia que o mal o
houvesse atingido... A visão daquela máscara não era nada animadora...
Novamente
Vitória pediu-lhe que tirasse a máscara e a abraçasse... Ele tirou a máscara,
mas não a abraçou... Ela manifestou sede e insistiu que a beijasse. Não podia
suportar o fato de há apenas um dia terem se comprometido, e de passar toda a
noite querendo estar ao seu lado e ser por ele beijada...
Diogo explicou que sentia
piedade... Vitória respondeu que também tinha esse sentimento, mas por eles
mesmos... Mais uma vez ela falou sobre como esteve desesperada à sua procura.
Ela
se aproximava cada vez mais de Diogo... Ele se afastou e pediu que ela não o
tocasse...
Vitória
quis saber os motivos... E ouviu do amado que ele mesmo já não se reconhecia...
Jamais sentira medo que pudesse ser provocado por outro homem... Mas aquela
situação era diferenciada... A honra não lhe bastava e, além disso, sentia-se
como que abandonando a si mesmo...
(...)
A
donzela parecia avançar sobre seus braços... Diogo a advertiu que nem sabia se
já estava contaminado e, por isso, devia precavê-la.
Ao
fundo podiam ser ouvidos gemidos... Diogo lamentou que também não sabia como
ampará-los... Suas mãos tremiam de horror e seus olhos estavam cegos de
piedade.
Vitória
implorava que não a deixasse... Ele respondeu que tudo aquilo teria fim... A
morte seria vencida...
Ela
parecia não entender... Disse que estava viva! (não abdicava de seu amor).
Diogo respondeu que se sentia envergonhado
porque, na verdade, sentia medo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/09/estado-de-sitio-de-albert-camus_22.html
Leia: Estado
de Sítio. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto