sábado, 5 de fevereiro de 2011

O Seminarista, de Rubem Fonseca

Acabei de ler O Seminarista, de Rubem Fonseca. Um texto policial... Em poucas horas você pode iniciar e finalizar a leitura. Um capítulo desperta a nossa curiosidade de conhecer o próximo e, assim, a leitura segue rápida e fácil. Textos assim costumam ser adaptados para as telas.

A personagem principal é um ex-seminarista, que tem um gosto por leituras (notadamente poesia) e por filmes clássicos. É um frequentador de Sebos e cinemas, gosta de fazer citações em latim, rememorando os ensinamentos clássicos que teve ao tempo em que conviveu com clérigos.

A situação é que ele sobrevive, depois de ter deixado o Seminário, como matador profissional. Recebe as “encomendas” do Despachante, que é outro personagem importante na trama. O ex-seminarista chama-se José, tem ascendência portuguesa e, devido à sua eficiência nas execuções que lhe são encomendadas, tem a reputação de Especialista.

O nosso protagonista é um profundo conhecedor de armas e sua ferramenta de trabalho não o decepciona. Ele tem uma assustadora frieza na execução de suas tarefas. Conforme parte para elas, reflete sobre os tipos humanos e apresenta sua interpretação sobre os seus modos de viver. O texto segue narrando, também, as preferências que ele tem em relação às mulheres. Por se tratar de um homem que vive perigosamente, é natural que não se interessasse por um relacionamento mais duradouro com alguém.

Apesar de toda frieza e eficiência, o Especialista quer se aposentar. Ele conseguiu guardar algum dinheiro, já que o seu trabalho era muito bem remunerado. O seu afastamento causa muita surpresa ao Despachante, porém ele se demonstra irredutível, tanto é que consegue uma nova identidade, assumindo o nome de José Joaquim Kibir. O nosso personagem faz referências à História de Portugal e mostra como seus antepassados estiveram envolvidos nas Lutas da Reconquista contra os mouros. Para ficar claro que não queria mais saber do trabalho sanguinário, José livra-se da arma.

Era mesmo de se esperar que José não tivesse paz. Ele começa a ser perseguido por um violento pessoal que quer um CD que tem informações valiosíssimas acerca da contabilidade do tráfico de drogas com conexões na Colombia. Isso acontece porque ele executou “El Gordo”, um tipo carregado de pulseiras, brincos e anéis, e que cuidava de importante parte financeira. Mas ninguém sabe da preciosa mídia... Daí concluírem que ela só pode estar com o sujeito que esteve com “El Gordo” em seus últimos instantes.

José envolve-se física e emocionalmente com Kirsten, uma alemã, que na verdade era filha do Despachante (Gunther), colocada no encalço do ex-matador para que seus serviços fossem recuperados. A vida tornou-se muito perigosa e José volta a armar-se, também para defender Kirsten, por quem está sinceramente apaixonado. Em uma emboscada acaba capturado e torturado.

O ex-seminarista percebe que pessoas que fizeram parte de seu passado voltam a fazer parte de sua presente existência. Uma delas é o “Sangue de Boi”, um tipo que José conhecera logo que saíra do Seminário. De repente o miserável se tornava poderoso e perigoso, tanto é que assumia importante papel entre os traficantes que perseguiam José. Outro que voltou a participar da vida dele foi D.S, ex-seminarista e companheiro de estudos no passado. Este estava milionário, curtindo a alta sociedade, suas festas e torneios de golfe. De alguma forma, José percebeu que esse antigo colega poderia ajudar na resolução da trama que estava se formando no seu entorno.

Outras personagens devem ser citadas aqui. O Gralha (Gaspar Telles), também é ex-seminarista da época de José. Só que este vive uma situação bem diferente de D.S. O Gralha enfrentava muitas dificuldades e pede ajuda a qualquer um. É o que acontece quando reencontra José que, já que deu uma força para o desfavorecido, não vê nenhum mal em pedir um favorzinho... Isso custou muito caro ao Gralha. Há ainda um certo M. M. Ziff, tipo da alta sociedade carioca, assim como Suzane, viúva de um playboy que promovia encontros de figurões em sua cobertura da zona Sul. Além desses há o senhor Simplício Gamela...

Não dá para escrever muito mais que isso porque que o meu objetivo é instigá-los à leitura, e não contar a história inteira... Mas não dá para deixar de citar que o texto segue certo esquema já consagrado de conduzir o leitor por uma linha de raciocínio e, depois, as revelações mudam completamente o curso dos acontecimentos... O texto é carregado de linhas violentas e de envolvimentos humanos bastante traumáticos.

Leia: O Seminarista. Editora Agir.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas