Estamos neste ponto em que Anne fez a visita a Paule...
O cenário é dos mais deprimentes, já que o estúdio mais se parece com uma câmara mortuária cheio de rosas que já exalavam cheiro ruim...
Paule imaginava que Henri apareceria para se reconciliar com ela... Anne sabia que a moça só podia estar delirando sem admitir a verdade dos fatos...
Vemos que Paule mergulhou fundo num enredo de lógica insana...
Quando bateram à porta, seu coração deve ter disparado de emoção... Mas quando ela viu que, em vez de Henri, quem chegava era uma senhora procurando a clínica que funcionava no mesmo prédio, seu humor se alterou completamente.
Anne percebeu aquela alteração e procurou entretê-la conversando sobre seus afazeres de escritora.
(...)
Anne perguntou sobre a sua produção textual... Paule quis saber se ela
se interessava mesmo por aquilo e foi passando-lhe um maço de folhas azuis que
estava na escrivaninha...
A moça não desviava o olhar da direção da porta... Anne via que a
redação dela estava bem confusa e com muitos erros, então disfarçou interesse
pelos papéis pedindo a ela que lhe fizesse uma leitura em voz alta...
Não há detalhes sobre o conteúdo dos textos de Paule... Anne o resume em
uma palavra: “aterrador”.
(...)
Num dado momento da leitura de Paule ouviu-se o som da campainha... Ela
deu um salto e acionou um dispositivo que abria a porta do térreo.
Em pouco tempo um tipo em
uniforme apareceu anunciando a entrega de um telegrama... Paule recebeu a
correspondência e passou-a para Anne pedindo para ela abrir e ler.
A mensagem era de Henri e o
conteúdo era bombástico... Dizia que não havia nenhum mal entendido e que só
poderiam ser amigos quando ela admitisse que tudo se acabara, pois entre eles “o
amor morreu”...
Por fim, Henri
solicitava também que não lhe escrevesse mais.
Na sequência Paule atirou-se violentamente sobre o divã... Gemia e
vociferava que não compreendia o telegrama...
Anne ficou transtornada...
O que poderia fazer para mantê-la calma? Disse-lhe que “o amor não é tudo”,
disse que ela devia se curar e que “é preciso sarar”...
(...)
Tudo indica que as duas amigas se afastaram...
Provavelmente Paule se acalmou e Anne se despediu...
Os dias se passaram sem que novo contato ocorresse. Anne retirou-se em
Saint-Martin num dos finais de semana e depois de retornar recebeu um recado
escrito de Paule sobre um jantar para a noite do dia seguinte... Tomou posse do
telefone e, quase que automaticamente, ouviu Paule confirmar o jantar do outro
lado da linha.
(...)
Mais uma vez vemos Anne chegando ao estúdio onde Paule
vivia... Ao avistá-la sentiu angústia imediata... A moça não estava maquilada e
trajava uma velha vestimenta... Também os cabelos estavam descuidados.
Surpreendia a grande mesa organizada para doze pessoas... Paule foi
perguntando se Anne trazia-lhe felicitações ou condolências pelo seu “rompimento
com o amante”. Isso ficou sem resposta e, na sequência, Paule perguntou sobre
os “outros”... Naturalmente Anne não tinha a menor ideia a respeito do que ela
dizia...
Via-se que a situação se agravara ainda mais... Paule perguntou o que
Anne gostaria de comer, mas acrescentou que não tinha preparado nada... Sugeriu
preparar-lhe macarrão...
Anne desconversou... Disse que normalmente não jantava... Notou que a
expressão de Paule era sinistra... Entendeu que só podia ser ódio o que ela
carregava em seu olhar... Perguntou-lhe sobre quem ela esperava para o “jantar”.
Paule respondeu que
esperava que “todos viessem”. Quem? Além da própria Anne, Henri, Volange,
Claudie, Lucie, Robert, Nadine, enfim “toda a coalizão”.
(...)
Sim... Agora Paule
anunciava suas novas conclusões... Tudo o que vinha sofrendo desde a separação
de Henri só podia ser o resultado de um acordo entre aqueles seus conhecidos...
Ela deixou claro que, se tinham entrado em conluio
para ajudá-la, tudo bem, agradeceria e partiria para a África para lidar com
leprosos, mas, se quiseram prejudica-la, teria de se vingar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-de_28.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto