sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Centro Cultural São Francisco, João Pessoa/PB – dica e considerações

Um passeio que se pretende “cultural” por João Pessoa não pode deixar de incluir a visita ao Centro Cultural São Francisco.
Todo ambiente é tombado pelo Iphan desde o começo da década de 1950 e impressiona por sua beleza e grandiosidade... De fato, sua atmosfera é tomada pela História.
Ficam a dica e essas considerações.
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A igreja domina a visão de quem chega à Praça São Francisco... Mas não há como não se impressionar com o grande cruzeiro (todo em pedra calcária) que está à frente, no vasto terreno (adro) diante da igreja. Nos muros do adro estão painéis de azulejos portugueses com os “Passos da Paixão”.
Os guias esclarecem que a construção da igreja e de seus anexos (convento de Santo Antônio; capela da Ordem Terceira de São Francisco; capela de São Benedito; capela de oração e o convento dos enclausurados que pertenciam à Ordem Terceira) ocorreu entre o final do século XVI (1589) e o final do XVIII (1788).
A atuação dos padres franciscanos na catequização de índios locais explica ao começo da edificação... No início ela era dedicada a Santo Antônio, mas conforme o tempo passou a devoção ao “santo protetor dos animais” acabou prevalecendo.
As mudanças não foram apenas no nome... O local sofreu algumas alterações durante a época em que os holandeses dominaram a região (a partir do início da década de 1630) e o transformaram em centro militar...
Também durante os anos que marcaram as passagens da Monarquia para a República no Brasil as fortificadas instalações serviram de Escola da Marinha e Hospital Militar.
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Para muitos, ela é a igreja mais bonita do país... E para esses, ela mereceria mais atenção do que as históricas igrejas de Minas Gerais, Salvador ou Recife/Olinda...
O que há para ser contemplado além de suas edificações e traços arquitetônicos? Há os afrescos, azulejos portugueses, a arte sacra, os entalhes em madeira, a suntuosa área reservada para o coro...
Um dos ambientes foi reservado para a exposição da arte popular e, de alguma maneira, ele nos remete à engenhosidade, manifestações religiosas e “modo de ser” dos mais simples...
O barroco rococó caracteriza as pinturas e os ornamentos diversos. O púlpito localizado na parte superior e à direita mereceu o reconhecimento da UNESCO...
Não há consenso a respeito da autoria das pinturas dos tetos, embora alguns guias insistam em citar os nomes de José Joaquim da Rocha e de seu discípulo José Teófilo de Jesus... Também o nome de José Ribeiro é lembrado.
Autoria à parte, os tetos são maravilhosos e impressionam também pela sensação de profundidade que transmitem... Magnificamente ilustrados, a Santíssima Trindade, a Virgem Maria, os eventos da vida de São Francisco e dos mártires da Ordem Franciscana são imponentes e levam os devotos ao recolhimento da oração.
A "parede nua" do fundo do altar apresenta um singelo crucifixo. Do rico altar original (devorado por cupins) só restou o registro fotográfico...
Apesar de alguns danos, os azulejos portugueses resistem ao tempo... Na igreja, os painéis registram didaticamente a história bíblica de José do Egito exalta os fiéis à contemplação.
A capela da Ordem Terceira é local disputado por noivos que desejam celebração pomposa... Ali se encontra o São Francisco prostrado de joelhos. A imagem revela expressão de humilde adoração e, segundo as informações dos guias, é escultura ímpar.
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O reconhecimento da importância histórica da Igreja de São Francisco está registrado em vários artigos e pesquisas acadêmicas.
Instalar-se em João Pessoa e não visitar o Centro Cultural “é um pecado”!
Entendemos que assim deve ser... Monumentos como este não podem ser desprezados, e sua preservação passa pela utilização dos espaços (além das exposições e celebrações religiosas, alguns espaços são cedidos para concertos). Tudo isso deve ocorrer de modo cuidadoso.
Infelizmente, nota-se que no dia-a-dia os guias locais permitem liberalidades (fotografar e até tocar no mobiliário) que não se percebem em outros monumentos/patrimônios históricos/religiosos do país... Demonstrando familiaridade com o que apresentam, alguns deles tocam os entalhes displicentemente apenas para mostrar que muito das pinturas com películas de ouro foram raspadas! Isso, de fato, é chocante e desperta a indignação dos que se preocupam com a preservação do patrimônio.
Vê-se que os tetos apresentam falhas... Há muito pó e também o piso da sacristia está bem desgastado por onde os visitantes passam...
Uma senhora que fazia parte do nosso grupo sugeriu que os guias solicitassem uma proteção de madeira para evitar maiores estragos. Isso não é algo simples?
Sinceramente não deu para sentir firmeza nas respostas... É triste, mas tudo o que dizem é que a burocracia e as altas somas previstas emperram as iniciativas que proporcionariam maiores cuidados...

Um abraço,
Prof.Gilberto

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