Anne relata sobre a tristeza que sentiu ao ler os textos de Robert e Henri estampados lado a lado em L’Espoir... As acusações de ambos só podiam ser comparadas àquelas que inimigos ferrenhos trocam entre si... Também Nadine mostrou-se indignada e culpou Lambert, seu desafeto e único capaz de influenciar Henri...
(...)
Por que faltava confiança a Henri? Por que insistiu no julgamento
errôneo em relação a Dubreuilh? Também este demonstrou fraqueza quando não se
posicionou abertamente a respeito dos campos soviéticos... Havia outros tantos
motivos que Robert dera para o acumulado de decepções de Henri... O caso que
envolvia Trarieux no financiamento de L’Espoir era apenas um exemplo...
Anne pensava sobre essas coisas... Atormentava saber
que o SRL fosse pura indefinição...
Certamente perderia filiados, e sem um jornal para divulgar seus ideais
dificilmente sobreviveria...Lenoir agitava os simpatizantes comunistas a proporem aliança... Não foi
por acaso que visitou os Dubreuilh.
Robert deixou claro que aguardaria as eleições... Um
dos cenários possíveis seria o enfraquecimento do PC a partir da repercussão
dos textos de Henri... Mas Dubreuilh nunca cogitara aproximar-se do partido...
Por outro lado, não havia impedimentos estatutários que impedissem os membros
do SRL de se filiarem ao PC... Era
quase certo que isso ocorresse.
(...)
O próprio Lenoir foi o primeiro a debandar... Até Marie-Ange estava
militando em L’Enclume, a revista dos
comunistas...
Marie-Ange apareceu solicitando uma entrevista, mas Robert rejeitou
prontamente... É claro que ele estava chateado com Henri por causa do
rompimento que via como traição, mas é verdade também que repudiou sinceramente
o artigo de Lachaume (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_14.html) que desclassificava
Perron na mesma revista.
(...)
Lenoir estava satisfeito com a vitória comunista nas eleições... Pelo
visto, Perron e demais simpatizantes da causa anticomunista não conseguiram
alterar as intenções dos eleitores... Então, para ele, bastava Robert sinalizar
apoio ao PC que todo o SRL o
seguiria.
Dubreuilh foi “curto e grosso” e respondeu que o SRL estava morto... Lenoir quis dizer que a batalha política
prosseguia e que, além do mais, os membros do SRL continuavam vivos...
Robert disse ao rapaz que
antes de todo barulho provocado pelas denúncias sobre os campos soviéticos de
trabalho forçado ele não tinha intenção de fazer nenhum chamamento de apoio ao
PC aos agremiados... Após a divulgação ele se sentia menos empolgado ainda.
Em todo caso, Lenoir
aplaudiu a recusa de Robert a participar do “conluio de Scriassine e Henri”...
Dubreuilh acrescentou
que não participou das denúncias, mas isso não significava que não acreditasse
na existência dos “campos soviéticos de morte”...
Como Lenoir insistisse demais que a sinalização de apoio ao PC era
necessária, Dubreuilh achou por bem garantir que não se envolveria mais com
política.
(...)
Depois de mais essa visita de
Lenoir, Anne quis saber se o marido abandonaria mesmo a política... Ele
respondeu que, ao que tudo indicava, a política o havia abandonado...
Dubreuilh não enxergava mais espaço para a sua atuação
ou de qualquer outra “minoria”... Por outro lado se recusava a apoiar os
comunistas ou atuar contra eles...
Anne disse que ele poderia continuar a escrever seus artigos políticos na
Vigilance... Então ele fez
referências às palavras de Lenoir, concordando que os artigos de Henri não
exerceram a menor influência nas eleições... Com ele também não seria
diferente.
(...)
Henri desejava influenciar algo?
Anne não estava certa a esse respeito... Dubreuilh arriscou dizer que talvez nem o
próprio Henri soubesse...
Anne quis que o marido refletisse sobre a transformação de L’Espoir que,
no final das contas, não se transformou em ferramenta anticomunista... Robert
ponderou que o melhor seria aguardar um pouco mais para saber...
(...)
Era assim que o inverno passava...
Anne via que Robert estava se tornando cada vez mais solitário...
Também as cartas que ela
recebia de Lewis não lhe traziam conforto... O namorado relatava a respeito da
neve sobre Chicago enquanto imaginava um festivo reencontro e passeio de barco
pelo Mississipi...
Haveria uma “primavera” para aquela relação?
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto