quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

“Meu avô africano”, de Carmen Lucia Campos – uma sugestão de leitura com a temática “africanidades para crianças” – Segunda Parte

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/01/meu-avo-africano-de-carmen-lucia-campos.html antes de ler esta postagem:

De meados do mês de outubro do último ano até o final de novembro reservamos algumas aulas (grupos de sextos anos do Ensino Fundamental) para a leitura compartilhada de Meu Avô Africano, livro de Carmen Lucia Campos, com ilustrações de Laurent Cardon (São Paulo: Panda Books, 2014 – 4ª impressão – Coleção Imigrantes do Brasil).
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Depois de conversar com o avô a respeito de seu nome diferente e saber que se tratava de uma homenagem aos antepassados africanos da família, garoto Vítor Iori entendeu que isso o tornava uma pessoa especial.
Quando ouviu a lenda do baobá quis saber quantos são os países africanos... A tia Jô poderia tirar essa sua dúvida, mas os dias seguintes foram de expectativa pela viagem que fariam de Van até a praia, onde a vó Inês (mãe do André, o pai do Vítor) mora. Ela convidou-os para uma festa... A ansiedade pela viagem fez com que o garoto deixasse sua curiosidade pela África um pouco de lado.
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Era comum a pequena Luanda perguntar sobre as palavras que não entendia nas conversas dos adultos... No domingo, enquanto a família seguia da capital paulista para o litoral, a garota estranhou o nome “Rodovia dos Imigrantes”.
A tia Jô explicou que a estrada tem esse nome em homenagem aos imigrantes que há muitos anos, e em ocasiões diversas, se transferiram para o Brasil... Renato, o pai do Vítor e da Luanda, completou falando que a Jô se referia aos “italianos, portugueses, espanhóis japoneses, árabes...”.
As crianças ficaram sabendo que toda aquela gente buscou melhores condições de vida em nosso país... Trabalharam, e assim também contribuíram para que o Brasil progredisse... Muitas novas famílias se formaram da união desses vários povos e é por isso que é muito difícil encontrar alguém que não seja descendente de alguma família imigrante...
Foi o avô Zinho quem acrescentou que há muitos brasileiros que descendem de africanos também... Vítor Iori quis saber se os africanos não eram imigrantes... A tia Jô deixou claro que há uma diferença que não pode deixar de ser considerada, pois enquanto europeus e asiáticos escolheram vir para o Brasil (deviam ser pagos pelo trabalho que desenvolviam por aqui), os africanos vieram (muito antes da maioria dos “imigrantes voluntários”) depois de terem sido comprados como mercadorias em suas terras...
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Jô disse mais a respeito da tragédia imposta aos africanos forçados a se transferirem para o Brasil... Eles eram colocados acorrentados em embarcações abarrotadas, imundas e inseguras... Boa parte morria de fome e sede durante a viagem... De fato não se pode comparar a condição dos imigrantes que a estrada homenageia com os africanos escravizados no Brasil...
Vítor percebeu que o vô Zinho estava bem triste enquanto falava sobre o trabalho extenuante e os cruéis castigos impostos aos antepassados africanos... O menino se espantou mais ainda quando a vó Helena completou que também as crianças não eram poupadas, pois também apanhavam e sofriam as mais diversas ofensas e humilhações.
Luanda também ficou triste ao ouvir sobre aquelas atrocidades... Ela não deixou de manifestar o seu lamento ao mesmo tempo em que se mostrava aliviada por não ter de enfrentar as mesmas condições... É claro que sua compreensão acerca da realidade escrava era bem limitada, e é por isso que disse que Vítor “merecia ser escravo” para não mais provocá-la...
Júlia, a mãe de Vítor e Luanda, chamou a atenção de sua caçula ao dizer que “nenhuma pessoa merece ser maltratada e explorada por outra”... O vô Zinho argumentou que isso justifica os motivos de tantas fugas e revoltas registradas pela História.
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Nesse ponto da conversa, a tia Jô explicou sobre os quilombos, suas características, organização e possibilidades de uma vida mais digna para os fugitivos...
Esse debate durou a viagem inteira... Vítor Iori não pôde deixar de pensar sobre tudo o que ouviu... Refletiu sobre a escravidão... A tia Jô dissera que aquela crueldade chegara ao fim há muitos anos... Será que ela e o vô Zinho tinham sido escravizados? Seus antepassados também tiveram de fugir para algum quilombo?
Leia: Meu Avô Africano. Panda Books.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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