sexta-feira, 23 de agosto de 2019

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – J. B. Schneewind e a “invenção da autonomia”; direitos humanos, uma revolução contínua; mais do que conceitos, autonomia e empatia são compreendidas na vida prática; necessidades de respeito à individualidade e integridade pessoais; questionamentos às posturas outrora usuais e toleradas

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/08/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_19.html antes de ler esta postagem:

Direitos do homem (ou direitos humanos) passaram a ser relacionados diretamente à autonomia das pessoas e à condição de igualdade em sua vida em sociedade. Somos levados a pensar que essas duas premissas são elementares e “naturais”. Todavia, a leitura do livro nos leva a entender que “elas só ganharam influência no século XVIII”.
J. B. Schneewind, filosofo moral, esclarece que ocorreu uma “invenção da autonomia”. Para ele, no final daquele século os pensadores e todos os que se dedicavam à questão dos direitos passaram a sustentar que aquela perspectiva “centrava-se na crença de que todos os indivíduos normais são igualmente capazes de viver juntos numa moralidade de autocontrole”.
Logo no começo das postagens sobre este “A Invenção dos Direitos Humanos” destacamos que nem todos eram considerados “capazes de autonomia”. Vimos que isso estava de acordo com o “estado de coisas” vigente no qual prevaleciam os homens (brancos, adultos e proprietários).
Crianças, insanos, escravos, criados e pobres, por tudo o que foi anteriormente exposto, não eram vistos sequer como sujeitos dotados de capacidade de raciocinar a respeito da moral! Como sabemos, as mulheres também sofriam exclusão e foram por muito tempo consideradas “inferiores” e inaptas ao exercício de qualquer forma de autonomia. Assim, passavam a vida dependendo dos pais e/ou de maridos.
Apesar de a empatia aos poucos ter quebrado resistências a alguns preconceitos, a citada misoginia perdurou por muito tempo mesmo em sociedades que vivenciaram processos revolucionários... Para termos uma ideia, em 1791, “o governo revolucionário francês concedeu direitos iguais aos judeus”; “os homens sem propriedade foram emancipados” no ano seguinte; em 1794 a escravidão foi oficialmente abolida.
Como se vê, as restrições que as mulheres sofriam em relação aos direitos permaneceram “aceitáveis” por muito tempo. Evidentemente essa situação foi questionada, provocou insatisfações e motivou lutas históricas.
(...)
As muitas declarações e manifestos em defesa de direitos provocaram reações dos que defendiam abrangência mais significativa. A própria dinâmica da sociedade e dos movimentos de reivindicação nos indicam que “os direitos não podem ser definidos de uma vez por todas”.
As prerrogativas anunciadas pelas declarações e manifestos são constantemente discutidas também porque há os que insistem em restringir os direitos e a sua aplicabilidade. Daí a conclusão de que “a revolução dos direitos humanos é contínua”.
Empatia e autonomia são experiências humanas que, para além da mera definição, só são compreendidas se incorporadas por cada um e vivenciadas na prática das relações sociais. Tanto uma prática quanto a outra tem a ver com a nossa compreensão sobre a integralidade do próximo. Reivindicamos o respeito à integridade de nossos corpos e a compreensão em relação às nossas necessidades. Então devemos entender que nossos semelhantes têm as mesmas necessidades e que todos precisam de garantias e proteção física e emocional.
A capacidade que temos de nos sensibilizarmos com os ataques às individualidades e integridade de nossos semelhantes nos leva a entender que ocorrem “desigualdades de direitos”. Isso se processou ao longo dos séculos, desde quando os indivíduos passaram a se apartar da vida comunitária marcada por “extrema proximidade”. Bem aos poucos, alguns elementos como a vergonha e a necessidade de respeito à privacidade em função das necessidades próprias do organismo passaram a ser mais levados em consideração.
Alguns comportamentos à mesa passaram a ser considerados repulsivos... Entre eles, o hábito de jogar restos de comida no chão. O uso de utensílios que consideramos básicos e essenciais para as refeições foram adotados conforme as noções destacadas anteriormente se incorporaram à consciência das pessoas.
(...)
Ressaltamos nessa postagem que a empatia com os outros provocou mudanças significativas no modo de se relacionar das sociedades ocidentais do século XVIII.
Como vimos já nas primeiras postagens sobre este “A Invenção dos Direitos Humanos”, além do respeito à privacidade e individualidade, diversas posturas autoritárias que marcavam a relações de família também foram questionadas. Logo as atrocidades das torturas judiciais passaram a ser consideradas intoleráveis.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas