A expectativa era de mudança para uma realidade democrática. Inspirado por essa esperança, o autor selecionou os fragmentos de matérias jornalísticas que nos revelam situações diversas de desrespeito aos direitos básicos das pessoas. Cada uma delas nos ajuda a refletir sobre a temática dos direitos, pois mostram realidades injustas que precisavam ser corrigidas.
Os jovens leitores certamente se sensibilizavam com as contradições... A produção textual ensina que os direitos resultaram de lutas históricas. Eles não “caíram do céu” ou foram concessões de generosos líderes políticos! Todavia, apesar de estarem há muitos anos definidos e consagrados por Declarações Internacionais e por legislações nacionais, os direitos básicos continuarão sofrendo afrontas sempre que houver pessoas em condições sub-humanas e desnutridas; sem oportunidades de educação formal e trabalho para o sustento digno; cerceadas em sua liberdade de expressão e manifestação religiosa ou de opinião política.
Apesar disso, o livro deixa uma mensagem positiva... A luta pelos direitos é constante e não se trata de ação individual. Ela é coletiva e constantemente animada pela utopia de uma realidade melhor, na qual todos possam viver mais plenamente e em harmonia.
(...)
Bem mais recente, “A Invenção dos
Direitos Humanos” é livro da professora Lynn Hunt que também trata da temática
dos direitos. Seu texto reforça algumas teses destacadas nos conteúdos sobre os
valores intrínsecos a eles, suas origens e como a luta de setores desprezados
socialmente resultou em ampliação e mudança das legislações.
A autora revisita três das
“declarações de direitos” historicamente mais importantes (dos Estados Unidos,
1776; da França, 1789; das Nações Unidas, 1948)... Como não podia deixar de
ser, eventos políticos e conceitos filosóficos estão no centro da discussão.
Como se sabe, as declarações
norte-americana e a francesa foram muito importantes para a história das lutas
contra as estruturas que legitimavam o Antigo Regime. Todavia esses documentos
não garantiram a universalização dos direitos... Em “A Invenção dos Direitos
Humanos” acompanhamos movimentos sociais que evidenciaram essa contradição ao
mesmo tempo em que buscaram expandir os direitos.
(...)
Por muito tempo, a autoridade e poder
exercido pelos reis, magistrados e eclesiásticos foram entendidos como sagrados...
Isso pautou a mentalidade em que prevalecia o poder masculino, e mais
especificamente dos ricos proprietários brancos.
Em
“A Invenção dos Direitos Humanos” a história do cotidiano mereceu atenção
especial e graças a isso aprendemos, por exemplo, que alguns romances da
literatura clássica (“Clarissa”, de Samuel Richardson; “Júlia ou a Nova
Heloísa”, de Jean Jacques Rousseau) alimentaram a empatia que o público em
geral passou a nutrir em relação às mulheres indefesas da sociedade.
Além das mulheres, crianças, negros, determinadas
comunidades religiosas e trabalhadores pobres foram vistos como pessoas de
segunda classe e considerados incapazes de exercer autonomia.
(...)
Lynn Hunt sustenta que algumas “noções de interioridade” foram
se constituindo e aos poucos certos hábitos passaram a ser considerados
repulsivos e inaceitáveis (comer alimentos com as mãos, jogar alimentos no chão
ou “limpar excreções nas roupas”). Também o autoritarismo da relação dos pais
em relação aos filhos passou a ser questionada...
(...)
O modo de ser das pessoas mudou...
Atitudes que julgamos as mais comuns (como apreciar
espetáculos teatrais e músicas em silêncio ou contemplar os retratos produzidos
por artistas) contribuíram para um novo entendimento a respeito da necessidade
de se preservar a individualidade e integridade de cada um.
Como veremos nas próximas postagens, essas “novas concepções”
foram muito significativas também para o entendimento de que as torturas nos
processos judiciais eram práticas abusivas. A intolerância em relação aos
supliciados passou a ser repudiada, pois ela evidenciava uma atrocidade inaceitável
para o modelo de sociedade fundada em princípios de direitos humanos.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/08/a-invencao-dos-direitos-humanos-uma_12.html
Leia: A
Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto