sexta-feira, 9 de agosto de 2019

“A Invenção dos Direitos Humanos – uma história”, de Lynn Hunt – pequena síntese das postagens sobre “Os Direitos Humanos” de Ari Herculano de Souza e a pertinência de sua publicação; uma introdução sobre “A Invenção dos Direitos Humanos”, de Lynn Hunt, considerações sobre a história do cotidiano e o foco na empatia a partir da reflexão sobre a preservação da individualidade e integridade das pessoas

As postagens sobre “Os Direitos Humanos” nos conduziram ao panorama de transição pelo qual a sociedade brasileira passava em meados dos anos 1980.
A expectativa era de mudança para uma realidade democrática. Inspirado por essa esperança, o autor selecionou os fragmentos de matérias jornalísticas que nos revelam situações diversas de desrespeito aos direitos básicos das pessoas. Cada uma delas nos ajuda a refletir sobre a temática dos direitos, pois mostram realidades injustas que precisavam ser corrigidas.
Os jovens leitores certamente se sensibilizavam com as contradições... A produção textual ensina que os direitos resultaram de lutas históricas. Eles não “caíram do céu” ou foram concessões de generosos líderes políticos! Todavia, apesar de estarem há muitos anos definidos e consagrados por Declarações Internacionais e por legislações nacionais, os direitos básicos continuarão sofrendo afrontas sempre que houver pessoas em condições sub-humanas e desnutridas; sem oportunidades de educação formal e trabalho para o sustento digno; cerceadas em sua liberdade de expressão e manifestação religiosa ou de opinião política.
Apesar disso, o livro deixa uma mensagem positiva... A luta pelos direitos é constante e não se trata de ação individual. Ela é coletiva e constantemente animada pela utopia de uma realidade melhor, na qual todos possam viver mais plenamente e em harmonia.


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Bem mais recente, “A Invenção dos Direitos Humanos” é livro da professora Lynn Hunt que também trata da temática dos direitos. Seu texto reforça algumas teses destacadas nos conteúdos sobre os valores intrínsecos a eles, suas origens e como a luta de setores desprezados socialmente resultou em ampliação e mudança das legislações.
A autora revisita três das “declarações de direitos” historicamente mais importantes (dos Estados Unidos, 1776; da França, 1789; das Nações Unidas, 1948)... Como não podia deixar de ser, eventos políticos e conceitos filosóficos estão no centro da discussão.
Como se sabe, as declarações norte-americana e a francesa foram muito importantes para a história das lutas contra as estruturas que legitimavam o Antigo Regime. Todavia esses documentos não garantiram a universalização dos direitos... Em “A Invenção dos Direitos Humanos” acompanhamos movimentos sociais que evidenciaram essa contradição ao mesmo tempo em que buscaram expandir os direitos.
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Por muito tempo, a autoridade e poder exercido pelos reis, magistrados e eclesiásticos foram entendidos como sagrados... Isso pautou a mentalidade em que prevalecia o poder masculino, e mais especificamente dos ricos proprietários brancos.
Em “A Invenção dos Direitos Humanos” a história do cotidiano mereceu atenção especial e graças a isso aprendemos, por exemplo, que alguns romances da literatura clássica (“Clarissa”, de Samuel Richardson; “Júlia ou a Nova Heloísa”, de Jean Jacques Rousseau) alimentaram a empatia que o público em geral passou a nutrir em relação às mulheres indefesas da sociedade.
Além das mulheres, crianças, negros, determinadas comunidades religiosas e trabalhadores pobres foram vistos como pessoas de segunda classe e considerados incapazes de exercer autonomia.
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Lynn Hunt sustenta que algumas “noções de interioridade” foram se constituindo e aos poucos certos hábitos passaram a ser considerados repulsivos e inaceitáveis (comer alimentos com as mãos, jogar alimentos no chão ou “limpar excreções nas roupas”). Também o autoritarismo da relação dos pais em relação aos filhos passou a ser questionada...
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O modo de ser das pessoas mudou...
Atitudes que julgamos as mais comuns (como apreciar espetáculos teatrais e músicas em silêncio ou contemplar os retratos produzidos por artistas) contribuíram para um novo entendimento a respeito da necessidade de se preservar a individualidade e integridade de cada um.
Como veremos nas próximas postagens, essas “novas concepções” foram muito significativas também para o entendimento de que as torturas nos processos judiciais eram práticas abusivas. A intolerância em relação aos supliciados passou a ser repudiada, pois ela evidenciava uma atrocidade inaceitável para o modelo de sociedade fundada em princípios de direitos humanos.
Leia: A Invenção dos Direitos Humanos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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