A “ocupação” teve início a 3 de outubro e se encerrou no último dia
6 de janeiro.
Esta postagem e a próxima são dedicadas à importância dos documentos
expostos e à relevância do aprendizado que ela proporcionou.
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Costumamos associar o Ilê Aiyê aos tradicionais desfiles de blocos
carnavalescos de Salvador. Está correto, mas sua existência não se resume à tradicional
e festejada folia. O Ilê Aiyê é bem mais que um bloco que sai às ruas
arrastando multidões.
Fundada
a 1º de novembro de 1974, desde o seu início essa associação marcou posição
contrária ao racismo e segregação que se notava durante as festividades nas
ruas de Salvador. Assim, o Ilê Aiyê se destaca pela afirmação da raça e
valorização da história e cultura afro-brasileiras. Não somente seus desfiles
são protagonizados apenas por negros, mas toda a sua organização é marcada por
intensa pesquisa que resulta em celebração dos temas que a comunidade consagra.
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Os ambientes
organizados para a exposição destacaram vídeos e diversos outros tipos de mídias
interativas visuais e audiovisuais, além de vários painéis com textos e/ou fotos.
Estampas de tecidos de fantasias desde a fundação, manequins com trajes, adereços
e máscaras, recortes de reportagens e os depoimentos de personalidades
históricos contribuíram para a reflexão sobre os propósitos do Ilê Aiyê até a
atualidade.
Numa
sala determinada foi montada uma tela que exibia o Mestre Kehindê Boa Morte e
suas orientações a respeito dos instrumentos utilizados pelo bloco em evolução.
Surdo, Caixa, Repenique e outros têm suas especificações e participam da
harmonia rítmica. O visitante que quisesse podia experimentá-los ali mesmo.
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Mãe Hilda (Hilda Dias
dos Santos; Mãe Hilda Jitolu, Ialorixá – que significa “sacerdotisa líder” em
iorubá) foi quem permitiu que o bloco (idealizado por seu filho Antônio Carlos
dos Santos, conhecido como Vovô*, e por Apolônio de Jesus) tivesse um local
para que pudesse se organizar. Ela cedeu uma área de seu terreiro para este
fim.
Os brasileiros vivenciavam o período mais autoritário dos anos de
Ditadura Militar e particularmente a comunidade negra era constantemente
agredida em suas manifestações, sobretudo aquelas de afirmação do protagonismo
da gente negra. Logo na primeira vez que o Ilê Aiyê saiu, havia o temor de que
a polícia usasse da costumeira repressão. Os registros dão conta de que Mãe
Hilda se colocou à frente de todos para defender os próprios filhos e os filhos
dos moradores do Curuzu. Se algo ocorresse, ela seria “a primeira a ir para a
cadeia”.
* Mãe Hilda foi fundadora, matriarca e líder espiritual do Ilê Aiyê; Vovô,
nascido em 1952, também fundador do bloco, segue presidindo a associação e é referência
nacional no debate sobre a formação da “identidade negra”.
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Uma das telas de “Ocupação Ilê Aiyê” exibiu
ininterruptamente uma entrevista que ela concedeu à TV Educativa da Bahia, nos
primeiros anos do bloco.
Enquanto viveu
dedicou-se ao Ilê Aiyê e insistiu para que suas atividades não se resumissem ao
Carnaval. Graças a isso, a comunidade passou a contar com ações sociais e
outras especificamente voltadas à Educação das crianças do Curuzu.
A “Escola Mãe Hilda”, por exemplo, garante ensino formal vinculado a
“conteúdos sobre a cultura negra e africana durante o ano todo”. Outros
projetos são o de Extensão Pedagógica; a Escola de Percussão, Canto e Dança
“Band’Erê”; a Escola Profissionalizante e mais o Projeto Dandarerê (especificamente
para a terceira idade).
A exposição destacou que Mãe Hilda deixou o preceito da “interdição dos
rituais de santo no cotidiano do bloco – nas músicas, nas danças e nas roupas”.
Imagens de documentários mostram Mãe Hilda invocando a benção dos santos a
todos que participavam das saídas do Ilê Aiyê. Tal preceito segue mantido.
“Para descer do Orum, o
céu, para o Aiyê, a terra, os ritos são
recriados. E em todos
persistem os ecos do sagrado.”
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/01/ocupacao-ile-aiye-no-instituto-cultural_10.html
Indicação (livre)
Um abraço,
Prof.Gilberto