quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

“Ocupação Ilê Aiyê” no Instituto Cultural Itaú – Segunda Parte; a beleza é o povo; deusas do Ébano; Curuzu, lugar santo; recortes de “A Tarde” e “Bahia Hoje” a respeito de críticas à inovação do Ilê Aiyê na avenida e protestos contra a igreja católica

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/01/ocupacao-ile-aiye-no-instituto-cultural.html antes de ler esta postagem:

A beleza está com o povo. A beleza é o povo.

“Ocupação Ilê Aiyê” não deixou de expor cenas do último desfile e sua vibração...
Todos os anos a associação promove a “Noite da Beleza Negra”, momento em que a comunidade elege a rainha do desfile carnavalesco. A escolhida recebe ainda o título de Deusa do Ébano.
Muito significativa foi a exibição (em tela) do encontro de Mirinha Cruz e Jéssica Nascimento, respectivamente primeira rainha (de 1976) e rainha do último ano.

Evidentemente a exposição não poderia deixar de destacar o terreiro de Candomblé do Curuzu, lugar sagrado da religião de todos os membros do Ilê Aiyê.
Depoimentos e imagens de renomados cantores da Música Popular Brasileira e de vários integrantes do Ilê Aiyê colocam em proeminência esse vínculo. Entre eles está Hildelice dos Santos, filha de Dona Hilda.


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Um recorte de “A Tarde”, de 12 de fevereiro de 1975, deixa claro que o Ilê Aiyê não foi bem recebido pela “imprensa especializada”. A matéria tece críticas aos “mocinhos do bloco”, aponta que os mesmos não passavam de uma imitação do movimento negro norte-americano (referência aos Panteras Negras) ao carregarem cartazes com inscrições provocativas (“Mundo Negro”; “Black Power”; “Negro para Você”) e que, ao manterem apenas negros em seu desfile, só podiam ser ridicularizados e apelidados de “Bloco Racista”.
O jornal refutou a iniciativa também por considerar que no Brasil “não temos felizmente problema racial” e que isto “é uma das grandes felicidades do povo brasileiro”.
A título de sugestão, o texto indicava que esperava que o bloco ressurgisse modificado no próximo ano. E concluía sua crítica ao garantir que a inconformidade dos integrantes do bloco estreante se justificava na medida em que pretendiam “somar aos propósitos da luta de classes o espetáculo da luta de raças”. Todavia, ainda de acordo com o jornal, ao procederem daquela forma, denunciavam “a origem ideológica a que estão ligados”.
O recorte apostava que a iniciativa não tinha a menor chance de dar certo, já que tinha certeza de que em nossa sociedade a harmonia reina “entre as parcelas provenientes das diferentes etnias”.

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Outra matéria destacada pela exposição está no recorte de “Bahia Hoje”, de 1º de novembro de 1993.
O texto deixa claro que o Ilê Aiyê estava protestando contra a Igreja Católica que, através do Cardeal (Don Lucas Moreira Neves), posicionou-se contrária à celebração de uma missa pelos 20 anos de atividade do bloco.
O recorte destaca a posição oficial do “Grupo Cultural Olodum” e suas severas críticas à Igreja como “Instituição racista e discriminatória”, historicamente vinculada à “articulação e manutenção do tráfico e sistema escravagistas” e última a “apoiar a campanha abolicionista”.
O Olodum juntou-se ao Ilê Aiyê no protesto e marcou presença em “ato ecumênico no Pelourinho” com representantes católicos e do candomblé diante da “igreja do Rosário dos Pretos” que permaneceu de portas fechadas.
Indicação (livre)
Um abraço,
Prof.Gilberto

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