Além de proporcionar a visita à centenária vila, o colégio em que a filha cursou o Ensino Médio propôs a dramatização aos estudantes como parte de projetos que vinham sendo desenvolvidos no decorrer do semestre.
(...)
Primeiro temos de levar em
conta o ambiente de encenação...
A investigação de temas
relevantes do passado de nossa sociedade é uma constante do Grupo XIX de
Teatro. A proposta é levar o público a locais históricos, prédios do final do
XIX e de início do século passado, tombados pelos institutos de patrimônio.
No caso da apresentação na
Vila Maria Zélia, o ambiente era o vasto salão de um antigo armazém... Nada de
palco em evidência.
A “historicidade” parece
invadir a atmosfera local... Vê-se logo que o prédio é velho e que (infelizmente)
padece do descaso das autoridades com o patrimônio. Mas, isso à parte, podemos
entender que a construção cumpre o seu papel (neste caso, literalmente).
14h...
Não há palco,
cortinas, holofotes, efeitos especiais ou sonoplastia... Ao fundo foi
organizada uma arquibancada de madeira destinada a acomodar os homens (alunos
do colégio, alguns pais e professores)... Também de madeira eram os bancos que
circundavam o vasto salão. As mulheres (alunas, algumas mães e professoras)
foram orientadas a ocuparem esses bancos.
(...)
Essa disposição inicial foi conduzida pelas atrizes já caracterizadas
com uns surrados vestidos típicos do final do século XIX. É como se de um
momento para outro tivéssemos sido transportados para local e tempo passados. Portas
e janelas foram trancadas, então tudo à nossa volta passou a representar uma
ala do Hospício Pedro II (Praia Vermelha) destinada a mulheres com diagnósticos
de histeria.
Desde o início ficou claro que o público da arquibancada assistiria à
dramatização e que todas as mulheres dos bancos vivenciariam a realidade
proposta pela peça e interagiriam com as personagens. Também elas seriam “internas
do Pedro II”.
(...)
Dramas do passado... E do presente...

Quatro internas ocupavam lugares em meio ao público feminino. Umas
estavam mais “enturmadas” e se mantinham nos bancos. Conforme se pronunciavam,
revelavam desejos, sonhos e os hábitos típicos de personalidades tidas como
“alienadas” para a sociedade da época que estavam representando.
Todos espectadores puderam perceber
que por motivos diversos aquelas mulheres haviam sido banidas do convívio
social. Para os que estavam na arquibancada ficou claro que o machismo que
imperava na sociedade explicava as exclusões.
A lucidez de cada uma das
internas provocou certo desconforto. E mais: reconhecemos que seus dramas e “modos
de ser” se repetem na atualidade!
(...)
Somos levados a questionar sobre qual era o “lugar da mulher” no início
da República. Então, a partir das várias falas das personagens entendemos que
se esperava que as mulheres fossem capazes de serem educadas para servir ao
marido e satisfazê-lo em todos os sentidos, realizar tarefas domésticas, educar
os filhos com retidão e recato religioso para que, dessa forma, fossem
ajustados à sociedade.
A
rigorosa enfermeira está ali para advertir sobre os desvios e para lembrar a
todo momento o que cabe às mulheres ajustadas: as aptidões do corte e costura,
a dedicação da boa esposa fiel ao lar e ao marido, a religião e os mais
singelos gestos...
Indicação (14 anos)
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/01/hysteria-segunda-parte-mais-sobre-peca.html
Um abraço,
Prof.Gilberto