Isto não é uma reportagem.
No
meio do caminho havia uma pedra...
Os últimos dias de férias foram
marcados por esta tragédia de 25/janeiro em Brumadinho, Minas Gerais. O mundo
inteiro acompanha com tristeza o trabalho dos bombeiros e de toda gente (demais
militares e voluntários civis) envolvida na busca dos corpos das vítimas em
meio ao mar de lama.
Quem é que não se sente incomodado com a tragédia e
sensibilizado com o drama das pessoas? De repente estamos acompanhando
depoimentos desesperados daqueles que perderam parentes e amigos queridos e
revendo cenas de salvamentos em paisagem apocalíptica... É de chorar!
Meu Deus! Faz apenas três anos que
aconteceu aquela tragédia na histórica Mariana!
Novamente nos vemos interessados pelos
esclarecimentos transmitidos pelas autoridades... De tanto que as vemos e
ouvimos até já nos sentimos familiarizados. Mas isso também nos incomoda, pois
percebemos que a nossa condição é a do conforto da distância geográfica.
Homens, mulheres e animais silvestres
e domésticos arrastados a lonjuras impensáveis, atolados no lamaçal, sufocados
até a morte... Esquartejados, enrijecidos e escondidos. No meio do caminho (da
lama) havia pedras, árvores e essas pobres criaturas.
O trabalho é imenso, a operação é de
guerra com máquinas e equipamentos “de guerra”... As linhas telefônicas para
“maiores esclarecimentos” aos parentes dos desaparecidos não funcionam, a “área
quente” de resgates é palco para poucos...
Que bom! Anunciaram a chegada de soldados israelenses
com aparelhos de última geração utilizados em desastres mundo afora para ajudar
na localização dos corpos. (...)
O repórter está dizendo que o
desespero maior é o dos familiares que estão sem informações. O esforço das
equipes de resgate é hercúleo e “salta aos olhos”. Vemos bombeiros enlameados e
atolados na imundície, mas os resultados tardam a aparecer. Como explicar isso
a quem tem passado os últimos dias transtornado pelo drama e pela perda de seus
entes?
Há os que dizem que a lama avança com potencial para
atingir o Rio São Francisco... Outros garantem que ela não chegará lá...
A lama turvou as águas do Paraopeba e contaminou as
margens onde se localiza a aldeia Naô Xohã (Pataxó Hã-hã-hãe e outros). Morte do rio,
morte de toda vida silvestre.
Os entendidos seguem dando
explicações enquanto os ativistas ambientais mostram que já alertavam a
respeito dos perigos... Especialistas de diversas áreas do Direito esclarecem potenciais
punições e indenizações. Cientistas políticos explicam que muitos congressistas
estão ligados visceralmente às mineradoras e delas receberam muita verba para financiamentos
de campanhas eleitorais. Um horror.
Está tudo perdido...
Lá no alto estava a barragem que
acumulou rejeitos venenosos por muitos anos. Disseram que estava desativada e
que dessa maneira o resíduo era seco. Então como explicar a imensa e violenta
torrente?
Ali havia uma horta... Da pousada restaram as antigas
fotografias... Aonde foi parar o restaurante? Veículos e mesmo pesados vagões
foram retorcidos e engolidos pelo lamaçal.
Infelizmente os prognósticos se
confirmaram e logo se viu que as chances de sobrevivência eram mesmo reduzidíssimas.
* A imagem foi extraída de https://www.viomundo.com.br/denuncias/barragem-da-vale-estoura-em-brumadinho-na-grande-bh-videos-mostram-o-inicio-e-a-destruicao-inicial-veja.html
Lindas paragens de “mares de
morros”...
O poeta (só pode ser Drummond) se
encantava com a beleza natural de sua terra natal. É claro que sua
sensibilidade o levava a refletir também a respeito da labuta dos homens na
retirada de gigantescas “pedras do caminho”. Morros inteiros foram britados!
A extração do minério ocorre há
muitos anos naquelas lindas paragens de incontáveis morros... Todavia os
investidores enxergam muito mais do que a bela natureza... Acima de tudo veem
as altas somas e pouco se importam se só buracos e miséria restarão. Quanto
menores os custos nas extrações, maiores os lucros... Eis a regra.
É isso.
Um abraço,
Prof.Gilberto