As reflexões deprimiam Passepartout...
Houve ocasiões em que procurou Aouda para desabafar... Ele a via ensimesmada, então retirava-se sem nada dizer.
Por volta das sete e meia da noite Fogg solicitou-lhe que consultasse a jovem... Conforme anunciara pela manhã, tinha intenção de falar-lhe.
(...)
Ela
notou que a fisionomia de Phileas Fogg era a mesma.. A calma o caracterizava
mesmo num momento como aquele, de tantas adversidades.
Ele ajeitou uma
cadeira para ela. Depois de alguns minutos de completo silêncio, dirigiu-lhe o
olhar e pediu perdão por tê-la levado à Inglaterra...
Aouda
quis dizer algo, mas foi interrompida por ele, que manifestou a necessidade de
concluir o que dizia. Então explicou que, na ocasião em que a libertara dos
perigos que a ameaçavam na Índia, ele era um homem rico que estava disposto a “colocar
parte de sua fortuna” à disposição das necessidades dela.
A moça viu que ele se
colocava com toda a sua sinceridade. Ele confessou que havia imaginado que ela
pudesse viver uma “existência feliz e livre”. No entanto tornara-se um homem
arruinado.
Aouda respondeu que
conhecia a situação... Disse que reconhecia todos os esforços de Fogg e por
isso pediu-lhe perdão porque sentia que também ela contribuíra para o fracasso
de sua “volta ao mundo em oitenta dias”.
O inglês argumentou
que jamais poderia deixá-la na Índia. Entendia que teria de afastá-la ao máximo
daquele ambiente porque sua vida corria risco. Sabia que os fanáticos a
perseguiriam implacavelmente.
Definitivamente a
jovem reconhecia a dedicação de Fogg... Mas não pôde deixar de manifestar sua
admiração ao ouvir que ele “se sentia na obrigação de garantir” seu “futuro
fora da Índia”.
Fogg explicou que ela entendera perfeitamente os seus propósitos.
Acrescentou que restara-lhe bem pouco, no entanto esperava que ela não se
importasse com a singela contribuição a que estava disposto a lhe fazer.
(...)
Era inacreditável... Aouda ouviu que Fogg destinaria seus parcos
recursos ao seu bem-estar. Sem saber o que dizer, ela perguntou o que ele faria
para remediar a própria situação.
O cavalheiro respondeu que não tinha necessidade
de nada... Aouda ficou apavorada... O que ele imaginava a respeito do próprio
futuro? Ele deu de ombros... O futuro não lhe pertencia... Afinal, quem pode controlá-lo?
A conversa
prosseguiu... A jovem deu a entender que um homem como ele não podia ser
atingido pela miséria... Até porque havia os amigos...
Fogg respondeu que não possuía amigos ou parentes. Ela lamentou e
sentenciou que é muito triste viver no isolamento. Todos precisam de alguém a
quem se possa “confiar os pesares”. Mesmo numa vida a dois a miséria torna-se
suportável.
Era
o que se dizia... Isso foi tudo o que Fogg manifestou. Por sua vez, Aouda levantou-se
e estendeu-lhe a mão. Depois perguntou se ele a aceitava como esposa.
(...)
Fogg levantou-se no
mesmo instante.
Via-se
que seus olhos brilhavam...
Fechou-os e os
reabriu depois de breve silêncio.
Na
sequência confessou que a amava por tudo o que há de mais sagrado no mundo”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/08/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_64.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto