Evidentemente o trenó era adequado ao gelo... Durante os invernos mais rigorosos, os trens deixavam de circular, então eram veículos como aquele que levavam passageiros de uma estação para outra.
Os mais conhecidos trenós são puxados por animais... Aquele que Phileas Fogg contratou, impulsionado pelo vento, era bem diferenciado. Era certo que ele deslizava satisfatoriamente pelas pradarias congeladas... Pode-se mesmo dizer que podia viajar tão rápido quanto os trens expressos.
(...)
Não demorou e o inglês conseguiu um acordo com Mudge... O americano
garantiu que podia levá-los até Omaha...
O vento lhes era favorável, assim, em “poucas horas”, atingiriam o objetivo.
Uma
vez em Omaha, teriam muitas opções graças à grande quantidade de ferrovias e
trens que servem Chicago e Nova York.
Portanto aquela
alternativa não era desprezível. O tempo perdido podia ser recuperado! É claro
que se tratava de mais uma aventura na longa jornada, mas, diante das
circunstâncias, o mais razoável era correr o risco.
(...)
O
desconforto era evidente...
O vento gelado seria
torturante... Ainda mais se o trenó desenvolvesse alta velocidade como sugeria o
seu proprietário.
Fogg achou melhor
propor à Aouda que permanecesse na estação de Kearney. Passepartout lhe faria
companhia... Mais tarde o francês providenciaria transporte mais adequado.
A jovem não aceitou.
De modo algum se afastaria de seu protetor... Passepartout aprovou sua
decisão... Ele também não achava conveniente o patrão seguir no trenó na
companhia de Fix.
Quanto ao policial,
sabemos que suas opiniões em relação àquele que desejava prender estavam
abaladas, todavia resolveu manter-se firme quanto ao seu dever... Não era por
acaso que mostrava-se apressado enquanto se preparavam para a partida.
(...)
O trenó começou a deslizar às oito horas da manhã.
Fogg e os que o acompanharam se acomodaram no veículo. O frio intenso os
obrigou a se envolverem em pesados cobertores.
As velas encheram-se e o trenó alcançou a
velocidade de 65 quilômetros por hora. Em “linha reta”, até Omaha, teriam de
percorrer 320 quilômetros. Se as boas condições persistissem, e se nenhum
acidente ocorresse, chegariam ao destino às 13:00.
Evidentemente o maior
desconforto para os passageiros era o vento gelado. Por isso se mantiveram uns
junto aos outros... Isso ajudava a suportar a friagem. Como era impossível
conversar, mantinham-se em silêncio.
A sensação que se tinha a respeito do deslizar do trenó era a de que se
assemelhava à navegação em águas tranquilas. Mudge entendia bem da condução e
era com maestria que manipulava o leme. Dessa forma, as “guinadas bruscas” eram
evitadas.
O
vento continuou favorável e por isso o americano sentenciou que, se nenhum
acidente ocorresse, chegariam a tempo.
O americano estava
focado no objetivo de conduzir o trenó velozmente e em segurança porque o
acordo com Fogg lhe renderia boa gratificação. Ele conhecia o caminho mais
curto...
(...)
A
ferrovia serpenteava para sudoeste e depois para noroeste... Percorrendo a
margem direita do reio Plate, as composições puxadas por locomotivas
atravessavam Grand Island, Columbus (uma das cidades mais importantes de
Nebraska), Schuyler, Fremont até chegarem a Omaha. No caso do trenó, as águas congeladas
do rio se tornavam um caminho totalmente livre de qualquer obstáculo.
O vento continuou a
soprar as velas e assim a condução prosseguiu ligeira. Os fios metálicos que as
fixavam ao veículo sibilavam ao sabor do sopro. Fogg chegou a comentar que o
som que ouviam era o da quinta e o da oitava.
Esse comentário foi a
única fala que se pronunciou durante toda a viagem... Os passageiros permaneceram
contraídos em seus capotes, peles e cobertores... Em seu silêncio, Passepartout se animou com a
possibilidade de chegarem a Nova York no começo da tarde e com o embarque para a Inglaterra.
O
francês reconhecia que era graças a Fix que a viagem pela América podia ser concluída.
Se não fosse o policial, ainda estariam em Kearney. Mas não se atrevia a cumprimentá-lo...
Enquanto sentia o ar gelado em seu rosto, Passepartout se lembrava que tinha de
agradecer mesmo ao seu patrão, um homem corajoso e capaz de arriscar a fortuna e
a própria vida para salvá-lo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/08/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_8.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto