sábado, 6 de agosto de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – despedindo-se de Philipp e Myriam; cinema para passar o tempo; de volta ao “saguão funerário”; início da última semana

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html antes de ler esta postagem:

No dia seguinte Anne encontrou-se mais uma vez com Philipp e Myriam...
À tarde fizeram passeios por parques, avenidas, mercados...
Depois que os amigos se foram para Nova Iorque, ela não se sentiu à vontade para seguir à casa de Lewis (conforme tinham combinado, deviam se encontrar à meia-noite).
Definitivamente não queria ficar sozinha no ambiente cuja atmosfera era de luto e abandono.
(...)
Resolveu entrar num cinema... Depois vagou pelas ruas... Era a primeira vez que passeava por Chicago à noite...
Não precisava que a guiassem... Sabia se virar. Mas não sabia o que podia fazer para passar o tempo.
Sentia-se como se adentrasse a “festa sem ter sido convidada”. Percebeu que seus olhos se enchiam de lágrimas. Depois de algum esforço conseguiu evitar o choro.
Era preciso suportar, sobreviver ao amor perdido... Pensou que o mundo é rico demais, e pobre também... O passado era-lhe pesado, mas também tem muito de leveza...
O momento era belo... Todavia ela sabia que não havia como “fabricar a felicidade”.
(...)
No momento que considerou mais conveniente, Anne tomou o táxi...
Ao chegar à “alameda balizada por latas de lixo” entendeu que vivenciava os momentos derradeiros da temporada com Lewis... Ouviu um apito de trem ao longe.
Quando entrou, notou que havia iluminação no quarto. Viu que Lewis estava dormindo. Deitou-se ao seu lado e pensou o quanto havia chorado ali... Perguntou-se por que chorara tanto. Definitivamente aquele não era o Lewis por quem devotara tanto amor... Era um desconhecido que lhe permitira um “pedaço de sua enxerga”.
De repente ele perguntou-lhe as horas... Meia-noite (conforme haviam combinado)... Ela disse que não quis chegar antes... Lewis explicou que não haveria nenhum problema, pois já fazia duas horas que retornara.
Estivera acordado o tempo todo. Sua voz denunciava isso...
Comentou que a atmosfera da casa era triste. Anne concordou e comparou-a a um “saguão funerário”.
Lewis emendou que, ainda por cima, o ambiente perdera sua serventia... Tipos que a frequentaram (a pequena meretriz, a louca, o batedor de carteiras...) certamente não o visitariam em Parker... Sua nova residência seria “mais ajuizada”.
Ela quis dizer que na casa de Chicago havia mais magia... Ele não admitiu tanto... Todavia concordou que ali apareciam pessoas... E “coisas aconteciam”.
As palavras de Lewis soavam poéticas... Era mais ou menos como Philipp entendia o modo de ser dos índios da América Central...
(...)
Ela sabia que ele passara por muitas decepções, inclusive as do amor... Também para ele devia ser difícil “retomar a posse de si mesmo”.
Anne pensou sobre isso se convencendo de que não mais choraria... Tinha de aceitar que, para ele, nenhuma saudade permaneceria.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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