Anne refletiu sobre as palavras de Philipp e o modo como ele as defendia. Pensou que dois anos antes ele não se posicionava com tanta firmeza e convicção das ideias...
Quando se conheceram se entendiam melhor... Via-se que, com o passar do tempo, a propaganda oficial o havia convencido com certa facilidade.
Neste ponto de suas reflexões, Anne lembrou-se das palavras de Lewis sobre serem “cada vez menos numerosos” os que se opunham à política imperialista do país.
(...)
Foi a esse respeito que ela perguntou quando se
referiu à política do Departamento de Estado... Quis saber se, para ele, se
tratava de postura “exigida pela situação”. Philipp respondeu que ele é que não
seria capaz de impor outra política... Em sua opinião, a recusa da proposta
oficial era inviável... E emendou que a única solução seria “retirar-se para algum
recanto perdido e lá viver, à margem do mundo”.
(...)
Estava claro que os amigos de Anne pretendiam levar a “confortável vida
de estetas” despreocupados com as graves questões que engendravam a Guerra
Fria. Então ela disse que não valia a pena continuar a discussão que podia
durar a noite toda sem os levar a um consenso.
Philipp concordou. Sentenciou que estavam felizes por
revê-la, e que confiavam em seu bom gosto na condução do resto da noite.
Saíram do restaurante enquanto ele a incentivava ao dizer que ela seria
um “guia admirável”.
(...)
Anne os levou à beira do lago... Os comentários foram positivos...
Philipp fez diversas comparações... Garantiu que o lago de Chicago era
mais bonito do que o de Nova Iorque... No entanto suas “casas de gênero
burlesco” eram inferiores às de Boston... Certamente San Francisco possuía bares
de vagabundos mais interessantes...
Seguiram para o Delisa.
Anne ouviu a tudo sem
deixar de notar que o rapaz falava como se todos aqueles locais não passassem
de pontos específicos de um mapa... Não conseguia comungar de seus conceitos...
Eles não levavam em consideração algo que lhe era caro, principalmente porque
aqueles sítios lhe haviam sido apresentados por Lewis.
(...)
Anne o ouvia e ao mesmo
tempo tentava imaginar o que teria ocorrido no caso de terem se acertado dois
anos antes em Hartford (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne_5.html
e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html)... Pensou que não o teria amado verdadeiramente e que o acaso havia
determinado o seu destino...
Se Philipp tivesse
desistido do compromisso com os amigos em Cape Cod para encontrar-se com ela em
Nova Iorque (ou então ousasse encontrá-la no quarto quando estivera hospedada
na casa de Myriam), provavelmente não teria se envolvido com Lewis Brogan...
Ela bem sabia que o caso lhe custara muitas lágrimas, mas não aceitaria
que o extraíssem de sua história...
Saber que o levaria para
sempre em seu coração e no mais íntimo de seu ser era um consolo.
(...)
Deixaram o Delisa quando a madrugada alcançava altas
horas...
Philipp insistiu em passar novamente pelo lago.
Contemplaram a névoa e os
reflexos na água...
Anne só pensava em recomeçar a vida.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_6.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto