sexta-feira, 5 de agosto de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – ainda no restaurante; acomodada opinião de Philipp sobre a política do Departamento de Estado; frias comparações durante passeio pela cidade; fim da noite no Delisa

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-no_5.html antes de ler esta postagem:

Anne refletiu sobre as palavras de Philipp e o modo como ele as defendia. Pensou que dois anos antes ele não se posicionava com tanta firmeza e convicção das ideias...
Quando se conheceram se entendiam melhor... Via-se que, com o passar do tempo, a propaganda oficial o havia convencido com certa facilidade.
Neste ponto de suas reflexões, Anne lembrou-se das palavras de Lewis sobre serem “cada vez menos numerosos” os que se opunham à política imperialista do país.
(...)
Foi a esse respeito que ela perguntou quando se referiu à política do Departamento de Estado... Quis saber se, para ele, se tratava de postura “exigida pela situação”. Philipp respondeu que ele é que não seria capaz de impor outra política... Em sua opinião, a recusa da proposta oficial era inviável... E emendou que a única solução seria “retirar-se para algum recanto perdido e lá viver, à margem do mundo”.
(...)
Estava claro que os amigos de Anne pretendiam levar a “confortável vida de estetas” despreocupados com as graves questões que engendravam a Guerra Fria. Então ela disse que não valia a pena continuar a discussão que podia durar a noite toda sem os levar a um consenso.
Philipp concordou. Sentenciou que estavam felizes por revê-la, e que confiavam em seu bom gosto na condução do resto da noite.
Saíram do restaurante enquanto ele a incentivava ao dizer que ela seria um “guia admirável”.
(...)
Anne os levou à beira do lago... Os comentários foram positivos...
Philipp fez diversas comparações... Garantiu que o lago de Chicago era mais bonito do que o de Nova Iorque... No entanto suas “casas de gênero burlesco” eram inferiores às de Boston... Certamente San Francisco possuía bares de vagabundos mais interessantes...
Seguiram para o Delisa.
Anne ouviu a tudo sem deixar de notar que o rapaz falava como se todos aqueles locais não passassem de pontos específicos de um mapa... Não conseguia comungar de seus conceitos... Eles não levavam em consideração algo que lhe era caro, principalmente porque aqueles sítios lhe haviam sido apresentados por Lewis.
(...)
O ambiente, malabaristas e dançarinos do Delisa foram elogiados por Philipp...
Anne o ouvia e ao mesmo tempo tentava imaginar o que teria ocorrido no caso de terem se acertado dois anos antes em Hartford (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne_5.html e http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/05/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html)... Pensou que não o teria amado verdadeiramente e que o acaso havia determinado o seu destino...
Se Philipp tivesse desistido do compromisso com os amigos em Cape Cod para encontrar-se com ela em Nova Iorque (ou então ousasse encontrá-la no quarto quando estivera hospedada na casa de Myriam), provavelmente não teria se envolvido com Lewis Brogan...
Ela bem sabia que o caso lhe custara muitas lágrimas, mas não aceitaria que o extraíssem de sua história...
Saber que o levaria para sempre em seu coração e no mais íntimo de seu ser era um consolo.
(...)
Deixaram o Delisa quando a madrugada alcançava altas horas...
Philipp insistiu em passar novamente pelo lago.
Contemplaram a névoa e os reflexos na água...
Anne só pensava em recomeçar a vida.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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