Os dias que se seguiram foram mesmo de “menos distanciamento”.
Voltaram a curtir juntos a praia, as leituras e os discos... Abraçavam-se com naturalidade, beijavam-se e por “duas ou três vezes” se entrelaçaram em “breve coito conjugal”.
Dorothy forneceu cartelas com várias pílulas de narcóticos... Os comprimidos proporcionavam-lhe noites de sono... Mas seus sonhos eram sempre pesadelos. Sem dúvida, isso tinha a ver com o fim da temporada... Em breve retornaria para Paris.
Decidiram que na última semana permaneceriam em Chicago.
Depois de um telefonema de Myriam ficou acertado que Anne retornaria um dia antes. A ideia era a de fazerem passeios, trocar ideias... Depois voltaria a se encontrar com Lewis na casa junto ao luminoso “Schiltz”.
(...)
Na manhã de sua partida pairou certa dúvida...
Enquanto passeavam pela praia, Anne vacilou... Observou as várias
cabanas fechadas e as redes de pesca estendidas junto a um dos barcos...
Borboletas jaziam pela areia... Contemplou o lago sabendo que aquela era a
última vez na vida que teria tão próximo aquela paisagem.
Virou-se para Lewis e disse que telefonaria para cancelar o programa.
Preferia ficar mais um dia... Ele ficou surpreso, pois sabia de sua animação
por rever Myriam e Philipp.
Lewis não a persuadiu. Mas julgou absurda a mudança de planos.
Isso parece ter pesado na decisão final... O fato é que Anne resolveu
não telefonar... Organizou-se para partir e despediu-se de todos... Dorothy
quis saber se ela retornaria... Respondeu afirmativamente. Depois deixou as
malas com Lewis.
Ele quis saber se ela
queria “se despedir da represa”. Anne agiu como se não o tivesse escutado.
No ponto de ônibus,
despediram-se com um beijo no rosto... Ela carregava apenas uma pequena “bolsa
para a noite”.
Lewis desejou-lhe boa
diversão ao mesmo tempo em que a porta do veículo se fechava.
(...)
A viagem de trem até Chicago foi marcada por suas reflexões sobre o
epílogo que se avizinhava... Em breve se despediriam novamente, e dessa vez
seria para sempre.
(...)
Ao chegar, Anne deparou-se
com uma cidade pulsante. Chicago era toda movimentação de pessoas rumo aos
ambientes anunciados por luminosos... E também pelo rio que permitia o avanço
de gigantescas embarcações que obrigavam as pontes do lugar se abrirem para a
sua passagem.
“O amor estava morto”, mas a música, o movimento e os
odores expelidos pela cidade eram um convite à vida e às emoções.
(...)
Haviam marcado o encontro num conceituado restaurante.
Anne pôde contemplar-se num grande espelho... Vestia a
blusa feita do pano indígena e gostou do que viu. De modo algum se considerou
envelhecida ou desfigurada.
Dirigiu-se ao bar para aguardar a chegada de Myriam e Philipp...
Bebericou um martine e constatou que se sentia muito bem... Então lembrou que “a
solidão pode ser suave”, e que algumas esperas podem ser tranquilas.
(...)
Achou que os amigos estavam muito bem...
Philipp carregava um pouco do encanto
adolescente... Ele estava um pouco mais gordo... Myriam se mostrava disposta e
apresentava um semblante jovial.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-no_5.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto