sexta-feira, 8 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – rompimento

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_7.html antes de ler esta postagem:

Via-se nos atos de Dubreuilh que ele se agitou com as palavras de Henri em defesa da publicação no L’Espoir das denúncias dos campos soviéticos de trabalho forçado. Irritado, começou a bater no mata-borrão ao mesmo tempo em que dizia que não se importava com aparências... Em vez disso, interessava-se pelas implicações dos próprios atos, e argumentou que as “considerações morais” aludidas por Henri não lhe diziam respeito.
Henri disse que não se tratavam de aparências... Dubreuilh garantiu que aquilo era justamente a preocupação dele, Henri, que “se aborrecia por se sentir intimidado pelos comunistas”. Sobre isso, Henri deixou claro que o que sempre buscou (e nisso esperava contar com a parceria de Robert) era a independência em relação aos comunistas. Depois quis saber qual era o motivo de se sentir acuado a ponto de ser encarado como desagradável aos comunistas.
Dubreuilh disse que não se importava em ser agradável ou desagradável aos membros do PC... Explicou que o que queria evitar era engrossar uma campanha antissoviética, o que, em sua opinião, constituía um crime... Henri devolveu que “crime” seria não denunciar os campos de trabalho forçado. Deixou claro que deviam usar todos os meios de que dispunham para afrontá-los... Depois, em tom de conclusão, admitiu que compreenderia a posição de Dubreuilh se, de fato, ele fosse membro filiado ao PC. É claro que um comunista negaria a existência dos campos ou os defenderia até o fim.
(...)
Henri não queria ser “passado para trás” por Robert... Entendia mesmo que ele pudesse estar mentindo... Então quer dizer que não tinha nada a ver com as “considerações morais”? Será que Dubreuilh desconfiava das suposições de Henri?
(...)
Dubreuilh anunciou que a única saída seria a convocação do comitê para o dia seguinte, assim a questão seria resolvida de uma vez por todas... Henri respondeu que todos sabiam que o comitê seguiria a orientação definida por ele... Então Dubreuilh falou que se Henri fizesse uma boa defesa de seus pontos de vista o comitê o apoiaria... Henri respondeu que aquilo pouco significava, pois Charlier e Méricaud eram votos certos para Dubreuilh qualquer que fosse a disputa... E havia ainda a condição de Lenoir, que estava “ajoelhado diante dos comunistas”.
Então Dubreuilh quis saber se Henri agiria contra as decisões do comitê... Ele respondeu que dependendo do caso agiria, sim, contra as decisões da instância maior do SRL... Dubreuilh emendou que Henri estava disposto a chantagear, pois parecia uma questão de “ficar com as mãos livres, ou levar o L’Espoir a romper com SRL”.
(...)
Henri disse que estava disposto a falar... Positivamente denunciaria... Dubreuilh tornou-se pálido e perguntou se ele tinha noção de que aquilo significava o rompimento, o fim do SRL e a debandada de L’Espoir para o lado dos anticomunistas... Disparou que reuniria o comitê imediatamente e que, caso suas teses fossem apoiadas, Henri seria publicamente desautorizado.
(...)
Henri demonstrou não se importar... Sabia que seria desautorizado, mas deixou claro que responderia a qualquer retaliação dos aliados de Robert. O “velho” sentenciou que Henri estava prestes a trair a causa... Então ele respondeu que havia refletido muito para chegar àquela decisão.
Retirou-se da casa dos Dubreuilh.
Nunca mais retornaria.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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