quarta-feira, 13 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Scriassine e Peltov trazem Bennet e Moltberg para uma conversa com Henri; querem associá-lo a um movimento anticomunista e favorável à intervenção norte-americana

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_12.html antes de ler esta postagem:

Scriassine e Peltov também apareceram para falar com Henri. Chegaram com outros dois tipos. Eles foram anunciados por Samazelle que estava eufórico pela grande quantidade de telegramas de felicitações... Henri já foi esclarecendo que “o projeto deles” não o interessava... Samazelle destacou que era importante recebe-los...
O rapaz ainda aproveitou para entregar-lhe papéis que haviam sido enviados por Volange... Mas Henri deixou claro que o rival jamais publicaria em L’Espoir... Samazelle lamentou e se retirou de cena.
(...)
Depois Scriassine entrou. Sorria e anunciava que trazia consigo um jornalista americano chamado Bennet e um tipo chamado Moltberg, comunista em Viena na época em que o próprio Scriassine abandonava o PC... Bennet havia passado 15 anos em Moscou como correspondente... Scriassine queria muito que Henri os visse.
Os tipos entraram e Henri deixou claro a Scriassine que provavelmente a reunião seria das mais improdutivas, principalmente porque ele não era um anticomunista como podiam crer... Acrescentou que seria mais razoável eles entrarem em contato com a “União Gaullista”... Scriassine respondeu que não se afinava com De Gaulle, e citou que, quando este estivera no poder, seu primeiro ato havia sido a visita a Moscou.
Moltberg antecipou-se e disse que provavelmente Henri não conhecesse o programa que defendiam... Tratavam-se de militantes esquerdistas... Emendou que o Gaullismo era sustentado pelo grande capital... Pretendiam uma união contra o totalitarismo russo e se consideravam “forças vivas da democracia”... Depois o jornalista americano rebateu a garantia de Henri sobre não ser interpretado como anticomunista... O tipo argumentou que contra o totalitarismo soviético o engajamento devia ser total, sendo assim, não haveria como ele retroceder em relação às denúncias que publicara... Em vez disso, devia avançar ainda mais.
Scriassine argumentou que o SRL havia sido criado “para impedir que a Europa caísse nas mãos de Stálin”... Eles também pretendiam isso, mas, acrescentou, entendiam que isso só seria possível com uma aliança concreta com os Estados Unidos... Henri destacou que “uma Europa livre da colonização americana” era justamente o que o SRL pretendia... A ideia de que Stálin um dia anexaria a Europa nunca havia sido cogitada pelo grupo.
Bennet protestou contra o que chamou de preconceito contra a América... Os comunistas viam nos Estados Unidos apenas um “sustentáculo do capitalismo”, mas o país “do progresso, prosperidade e futuro” era também de um grande contingente proletário... Henri destacou que os Estados Unidos estavam marcados por tomarem “o partido dos privilegiados em todo o mundo”... Destacou que era assim na China, Grécia, Turquia, Coreia... Só se via os norte-americanos defendendo o grande capital e a grande propriedade... Por fim, lamentou o apoio que eles davam a Franco e Salazar, e disse isso amargurando ter sabido (através de uns conhecidos seus) a respeito da repressão em Portugal, que resultara em 900 prisões por aqueles dias.
O jornalista americano destacou que Henri precisava deixar a política praticada pelo departamento de Estado um pouco de lado, e pensar no povo dos Estados Unidos... Os sindicatos de trabalhadores do país estavam ativos e defendiam a liberdade e a democracia. Henri destacou que os sindicatos não retiravam o seu apoio à política daquele governo...
(...)
Scriassine se intrometeu e sintetizou que não se podia impedir a esquerda europeia de aceitar que apenas com o apoio dos Estados Unidos se teria condições de barrar a influência soviética... Henri criticou essa opinião e afirmou que se a esquerda fizesse uma “política de direita” não teria mais razão de ser.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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