Scriassine e Peltov também apareceram para falar com Henri. Chegaram com outros dois tipos. Eles foram anunciados por Samazelle que estava eufórico pela grande quantidade de telegramas de felicitações... Henri já foi esclarecendo que “o projeto deles” não o interessava... Samazelle destacou que era importante recebe-los...
O rapaz ainda aproveitou para entregar-lhe papéis que haviam sido enviados por Volange... Mas Henri deixou claro que o rival jamais publicaria em L’Espoir... Samazelle lamentou e se retirou de cena.
(...)
Depois Scriassine entrou.
Sorria e anunciava que trazia consigo um jornalista americano chamado Bennet e
um tipo chamado Moltberg, comunista em Viena na época em que o próprio
Scriassine abandonava o PC... Bennet havia passado 15 anos em Moscou como
correspondente... Scriassine queria muito que Henri os visse.
Os tipos entraram e Henri deixou claro a Scriassine que
provavelmente a reunião seria das mais improdutivas, principalmente porque ele
não era um anticomunista como podiam crer... Acrescentou que seria mais
razoável eles entrarem em contato com a “União Gaullista”... Scriassine
respondeu que não se afinava com De Gaulle, e citou que, quando este estivera
no poder, seu primeiro ato havia sido a visita a Moscou.
Moltberg antecipou-se e disse que provavelmente Henri não conhecesse o
programa que defendiam... Tratavam-se de militantes esquerdistas... Emendou que
o Gaullismo era sustentado pelo grande capital... Pretendiam uma união contra o
totalitarismo russo e se consideravam “forças vivas da democracia”... Depois o
jornalista americano rebateu a garantia de Henri sobre não ser interpretado
como anticomunista... O tipo argumentou que contra o totalitarismo soviético o
engajamento devia ser total, sendo assim, não haveria como ele retroceder em
relação às denúncias que publicara... Em vez disso, devia avançar ainda mais.
Scriassine argumentou que o SRL havia sido criado “para impedir que a Europa caísse nas mãos de
Stálin”... Eles também pretendiam isso, mas, acrescentou, entendiam que isso só
seria possível com uma aliança concreta com os Estados Unidos... Henri destacou
que “uma Europa livre da colonização americana” era justamente o que o SRL pretendia... A ideia de que Stálin
um dia anexaria a Europa nunca havia sido cogitada pelo grupo.
Bennet protestou contra o que chamou de preconceito contra a América...
Os comunistas viam nos Estados Unidos apenas um “sustentáculo do capitalismo”,
mas o país “do progresso, prosperidade e futuro” era também de um grande
contingente proletário... Henri destacou que os Estados Unidos estavam marcados
por tomarem “o partido dos privilegiados em todo o mundo”... Destacou que era
assim na China, Grécia, Turquia, Coreia... Só se via os norte-americanos
defendendo o grande capital e a grande propriedade... Por fim, lamentou o apoio
que eles davam a Franco e Salazar, e disse isso amargurando ter sabido (através
de uns conhecidos seus) a respeito da repressão em Portugal, que resultara em
900 prisões por aqueles dias.
O jornalista americano destacou que Henri precisava deixar a política
praticada pelo departamento de Estado um pouco de lado, e pensar no povo dos
Estados Unidos... Os sindicatos de trabalhadores do país estavam ativos e
defendiam a liberdade e a democracia. Henri destacou que os sindicatos não
retiravam o seu apoio à política daquele governo...
(...)
Scriassine se intrometeu e sintetizou que não se
podia impedir a esquerda europeia de aceitar que apenas com o apoio dos Estados
Unidos se teria condições de barrar a influência soviética... Henri criticou
essa opinião e afirmou que se a esquerda fizesse uma “política de direita” não
teria mais razão de ser.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto