quinta-feira, 14 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – graças à ponderação de Vincent, Henri controla os nervos; o texto original de Lachaume continha agressões contra Josette; reflexões sobre o ódio; Scriassine com fortes dores de cabeça faz nova visita após a publicação de L’Enclume

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-fim.html antes de ler esta postagem:

Até mesmo Lachaume ousara publicar um texto ofensivo a Henri e a toda a sua produção intelectual... Evidentemente havia recebido a incumbência do PC... Era sem sucesso que Samazelle tentava atrair Henri para a causa dos gaullistas. Ele queria fazê-lo entender que, após as denúncias contra os campos soviéticos, não haveria alternativas a não ser o anticomunismo... Como vimos, foi Samazelle quem lhe apresentou a ofensiva edição de L’Enclume.
A indignação de Henri foi tal que a única resposta que ele considerou a altura do texto do moço foi partir para o enfrentamento físico.
(...)
Henri dirigiu-se ao Bar Rouge, que era onde esperava encontrar Lachaume... Encontrou apenas Vincent, que bebia com os amigos... O rapaz poderia estar na redação de L’Enclume, então Henri quis partir imediatamente para lá. Mas aconteceu que Vincent o acompanhou até a porta e o convenceu a largar mão daquela reação violenta. É claro que ele havia lido o artigo, pois conhecera o texto mesmo antes de sua publicação.
Vincent contou que discutiu com Lachaume a respeito de sua matéria ofensiva... Henri não conseguia se conter e revelou que pretendia, de fato, socar o rapaz.
Vincent lembrou que era isso mesmo o que os comunistas pretendiam, ou seja, um escândalo que proporcionasse novos e violentos ataques contra ele.
Henri imaginava que não poderiam atacá-lo ainda mais... Colocaram-no na condição de fascista!
Vincent queria que ele entendesse que as coisas podiam piorar... Lembrou-o das fofocas que envolviam o nome de Josette... Disse que o texto original de Lachaume continha umas dez linhas sobre a garota... Ele mesmo o havia persuadido a suprimi-las. Certamente não a poupariam nas próximas cartadas.
Depois Vincent argumentou que Henri não possuía mais uma “vida particular”, pois tudo o que ele viesse a fazer se tornaria “domínio público”...
Henri refletiu sobre a vulnerável condição de Josette... Atacá-la era algo lamentável e inaceitável... Haveria defesa contra calúnia? Os comunistas haviam sido perfeitos ao escolherem Lachaume... Certamente eles nutriam um verdadeiro ódio por Henri...
Vincent concordou.
(...)
Henri foi convencido a não procurar Lachaume na redação de L’Enclume. Vincent o acompanhou até L’Espoir.
Quando chegaram ao jornal, ele disse que precisava dar uma volta e que em cinco minutos se encontrariam novamente... Na verdade ele queria apenas ficar sozinho por alguns instantes para pensar a respeito da conversa que tivera com o amigo...
Como era pesado ter de considerar que não gostavam dele, que o odiavam...
Imaginou que alguns comunistas ainda conservariam a estima que nutriam por ele, mas as palavras de Vincent o convenceram do contrário. A partir de então, só uma certeza o dominava, a de que seria odiado por onde quer que andasse...
“A amizade é precária como a vida; mas o ódio não abandona o seu homem, e é tão seguro quanto a morte”.
(...)
De volta ao escritório, Henri encontrou Scriassine, que o aguardava. O tipo parecia bem abatido e com forte dor de cabeça, resultado da ingestão de muita vodca.
É claro que ele havia lido o artigo de Lachaume, e estava ali para saber se Henri tinha mudado a sua opinião... Ele deixou claro que não...
Scriassine se referia à conversa com Bennet e a aliança com os norte-americanos para impedir a influência soviética sobre a esquerda europeia.
Depois advertiu que o tratamento dispensado a ele pelos comunistas deveria levá-lo a uma reflexão melhor e ao rompimento definitivo...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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