O que diriam Lambert, Vincent, Volange, Lachaume, Paule, Anne, Dubreuilh, Samazelle e Luc? Por dentro, Henri sentia-se envergonhado... Sabia que não tinha razão... Mas estava brigado com Dubreuilh, desautorizado pelo SRL, considerado traidor por L’Enclume e por todos os comunistas...
(...)
Qual o remédio? Pensando em Scriassine, deu-lhe razão... Henri encheu o
copo e decidiu embriagar-se... Divertir-se...

Talvez ironizando, Henri respondeu que poderia pensar
que o episódio ainda lhe proporcionaria “arranjos” com o pessoal da direita...
Dudule se intrometeu dizendo que “esquerda” e “direita” eram noções superadas,
que só atrapalhavam o processo político... Para ele, o país devia compreender
que a “colaboração entre capital e trabalho” era necessária... Parabenizou
Henri pela “reconciliação” entre aqueles dois fatores.
(...)
Ser felicitado por “gente daquela qualidade” era o “pior tipo de
solidão”... Claudie emendou com satisfação que Dubreuilh “devia estar
espumando”; Lulu Belhomme quis também gozar da figura de Anne ao perguntar a
todos com quem ela dormiria, pois “Dubreuilh era quase um velho”...
É claro que Henri não tinha como responder àquela
curiosidade...
Lucie prosseguiu destilando o seu veneno e fez referência à ocasião em
que Anne apareceu em uma das reuniões das amigas... Relatou que se tratava de “uma
bela convencida”, que fazia questão de se apresentar com trajes que tinham a única
intenção de revelar a sua identidade socialista...
Era na qualidade de quem “viajou por todo o mundo” que Dudule se
manifestava... Para ele, “Portugal era um paraíso”. O que Henri poderia dizer?
Ele mesmo escolhera estar naquele meio... Concluía apenas que aqueles tipos
consideravam a riqueza um mérito e que mereciam o que possuíam.
(...)
Josette se acomodou ao seu lado. A moça trajava um “vestido verde,
generosamente decotado”.
Henri pensou que, para alguém que pretendia evitar os olhares e assédios
masculinos, ela expunha muito de si... É certo que não apreciava aquela
atitude...
Conversaram sobre a peça e
a apresentação daquela noite... Tudo correra bem mais uma vez e a carreira de Josette
tinha tudo para despontar.
Ela comentou sobre
certa Felícia Lopez, que estava numa mesa mais ao fundo... Comentou que a outra
estava muito bem arrumada e que era mesmo muito bonita. Neste ponto, Lucie
Belhomme chamou-lhe a atenção ao dizer que ela não devia dar a sua opinião a
respeito da beleza de outra mulher na presença de um homem porque este poderia considerá-la
menos interessante...
Henri respondeu que Josette não tinha por que temer.
Lulu sugeriu que ele oferecesse bebida à
filha... Talvez ela se animasse mais.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_19.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto