quarta-feira, 6 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – ainda as denúncias; dúvidas, dúvidas; enfim, o encontro entre Henri e Dubreuilh; argumentos contrários; esclarecendo (?) o boato sobre a inscrição no PC

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_5.html antes de ler esta postagem:

Lambert também deixou o escritório de Henri... Levava consigo a certeza de que o outro vacilava... De fato, a imagem de milhões de pessoas sendo escravizadas pelos agentes do regime soviético pesava na consciência de Henri... Ao mesmo tempo ele não se sentia nada bem em “fazer o papel de inimigo dos comunistas”... Quanta covardia! Ele nem era comunista... Então por que não conseguia assumir a condição de independente? Não estava fácil admitir que na Rússia houvesse “algo de podre”...
Os pensamentos de Henri levavam em consideração a condição confortável de tipos como Lachaume, que desejavam a abolição dos campos, mas não tinham coragem de protestar contra eles abertamente... Bem poderia ocorrer de a própria URSS rever a atrocidade a partir das críticas dos partidos comunistas... A experiência soviética representava a esperança de um dia o socialismo se tornar uma realidade...
Haveria sentido em não revelar as atrocidades? Logo Henri saberia a posição de Dubreuilh.
(...)
Henri seguiu até a casa de Robert Dubreuilh... Inicialmente trocaram breves palavras a respeito da peça... Depois seguiram para o escritório, onde tratariam das denúncias de Peltov...
Henri disparou que, para ele, o dissidente havia dito a verdade.
Dubreuilh respondeu que os campos soviéticos eram uma realidade, mas não eram “campos de morte” como os dos nazistas... Ele mesmo sabia que os condenados eram enviados para lá sem julgamento e permaneciam por até cinco anos... Mas quantos seriam os condenados à prisão perpétua? Para Dubreuilh nada devia ser publicado... Henri perguntou se essa era a sua decisão definitiva e ele argumentou que todos sabiam que o caso não seria abafado... Se a equipe de L’Espoir fizesse as denúncias suscitaria o entendimento de que estaria acusando o regime soviético... E o que Dubreuilh não queria de nenhum modo era exatamente essa “autoacusação”. Então que deixassem a direita cuidar dos ataques à URSS.
(...)
Estava claro que Dubreuilh havia tomado a sua decisão. E ela seria imposta ao comitê... Henri considerou não mais discutir a esse respeito, então perguntou sobre o que lhe disseram sobre sua inscrição no PC... Dubreuilh quis saber se ele levava a sério aquilo que classificou como absurdo. Até porque, garantiu, teria explicado suas razões publicamente... Henri cogitou que talvez ele pretendesse retardar seus esclarecimentos...
Dubreuilh quis dar ao assunto um caráter de boataria... As pessoas dizem qualquer coisa mesmo... Henri não acreditava que ele houvesse feito conforme Scriassine queria fazer crer, todavia começou a imaginar que talvez fosse interessante aceitar falar com o informante que ele sugerira.
(...)
Depois Henri falou sobre o jornal... Explicou que todos consideravam a necessidade de publicar as denúncias... Citou Lambert, que estava decidido a abandonar L’Espoir. Dubreuilh rebateu imediatamente, garantindo que tal perda não seria sensível... Depois Henri falou sobre Samazelle e Trarieux, que estavam em vias de romperem com o SRL.
Dubreuilh surpreendeu ao sustentar que, no caso da saída de Lambert, ele mesmo compraria suas cotas... Apesar de não se interessar por jornalismo, arranjaria dinheiro...
De repente, Henri começou a construir um raciocínio que encaixava Robert no PC. Já que ele havia passado o verão com Lambert, certamente sabia de sua intenção de retirar-se de L’Espoir... Então, um acerto devidamente secreto entre os comunistas garantiria que Robert selaria uma campanha pela não divulgação das denúncias... E ainda lhe proporcionaria a direção do jornal.
Se era assim mesmo, talvez Scriassine estivesse correto a respeito da filiação ao partido.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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