terça-feira, 12 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Lenoir e sua defesa dos campos soviéticos; novo rompimento

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_11.html antes de ler esta postagem:

Henri ouviu de Lenoir que na União Soviética a “sorte” dos trabalhadores instalados nos campos era “menos horrorosa” do que a situação dos operários dos países capitalistas... Na União Soviética, então, os “confinados” tinham vida diária assegurada... Para ele, a propaganda de oposição exagerava absurdamente...
Lenoir ressaltou ainda que a mentalidade do homem soviético era diferenciada, pois para ele “era natural” ser deslocado segundo as necessidades da produção.
É claro que Henri não aceitou aqueles argumentos... Independentemente de mentalidades, nenhum ser humano acharia normal a “super exploração”, sem direito a alimentação adequada, privado de direitos, sujeito a temperaturas baixíssimas, ao escorbuto e ao esgotamento... Dizia isso e pensava no tipo que era Lenoir (que não suportava “ver sofrer uma mosca” e, no entanto, admitia a violência dos campos soviéticos).
Lenoir argumentou que a própria URSS não gostaria de recorrer àquele expediente cruel...
Tratava-se evidentemente de uma necessidade... Perguntou como é que Henri ousava criticar a situação se ele nem conhecia as dificuldades do regime... Aquilo, sim, era intolerável. Henri rebateu a crítica e disse que Lenoir bem devia saber de seu artigo que não condenava “em bloco o regime soviético”. Esclareceu que aceitá-lo na totalidade era uma covardia... Os campos são necessários? A denúncia de Peltov acabou mostrando “que o socialismo é uma utopia”.
Lenoir quis fazer crer que os campos eram uma “necessidade do momento” e que não haveriam de existir indefinidamente... A URSS vivia uma situação de guerra e as grandes potências capitalistas aguardavam o momento de sua queda para lhe dar o golpe definitivo.
Henri quis saber se “o mal pelo mal” se justificava... Não admitia que os campos fossem necessários mesmo em se sustentando que a condição da URSS fosse a de ameaças de potências capitalistas... Pretendia que Lenoir admitisse que também na URSS houvesse erros... Fomes, revoltas e massacres poderiam ter sido evitados... Lembrou que também Dubreuilh partilhava daquela opinião.
Mas Lenoir não aceitava a defesa que o outro fazia... Para ele, a publicação havia sido uma atitude má. Os ataques em nada contribuiriam para aliviar os problemas que a União Soviética enfrentava... Assim, Henri havia “trabalhado para a América e para a guerra” e ainda contribuiu para que as potências capitalistas prosseguissem em sua campanha contra o proletariado e o socialismo... Henri disse que a crítica ao comunismo ajudava a fortalecê-lo... Lenoir respondeu que aquela situação apenas confirmava que não havia a menor possibilidade de uma terceira via, como a que o SRL arrogava para si... O feito de Henri podia ser classificado apenas como anticomunista...
Henri arrematou dizendo que se Lenoir pensava daquela forma só lhe restaria inscrever-se no PC... Ele concordou e garantiu que faria isso mesmo... Sendo assim, Henri poderia considerá-lo um adversário... Henri lamentou...
Despediram-se.
(...)
Então tudo o que Stálin fazia era bem feito? Lenoir não era um comunista... Henri tinha a necessidade de falar com alguém como Lachaume, comunista de fato, mais inteligente e não sectarista...
Vincent acabou partilhando das ideias de Henri em relação aos campos soviéticos. Foi para ele que Henri perguntou a respeito de Lachaume e sobre o que este pensava em relação aos artigos.
Vincent respondeu que Lachaume estava revoltado e que, para ele, Henri praticava o anticomunismo... Os dramas sobre os campos seriam superados... Desapareceriam por si mesmos... Assim, Lachaume acreditava que os artigos eram um grande mal para a causa socialista.
(...)
E os periódicos comunistas? Eles fizeram referências aos campos como ambientes de reeducação e de trabalho corretivo... Os contrários a Stálin viam que a celeuma servia para “esquentar sólidas indignações”.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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