Henri ficou angustiado ao saber que Scriassine havia mentido a respeito da inscrição de Dubreuilh no PC... Sem dúvida uma armação que, de certa forma, contribuiu para que ocorresse o rompimento entre ambos. Ele quis que Vincent lhe desse informações sobre o local onde poderia encontrar Nadine.
É por isso que ele acabou chegando ao café que ela costumava frequentar. Henri precisava conversar sobre o que sentia e ouvir a opinião da filha de Dubreuilh.
Vimos que ele foi friamente recebido.
(...)
Nadine
disparou que Vincent não havia escrito nada parecido com os artigos de Henri...
Ele devolveu que também Dubreuilh não havia sido amável em seu texto... A moça
redarguiu. Então Henri falou sobre o golpe que lhe aplicaram ao garantirem que
Robert havia se filiado ao PC.
Ela
se mantinha insensível às suas palavras. Por isso ele quis saber se seus
“amigos comunistas” a tinham convencido de que ele se tratava de um traidor...
Nadine respondeu que não tinha companheiros comunistas, no entanto concordava
que ele já não era o mesmo de outrora.
(...)
Henri
perguntou em quê ele havia mudado... Nadine foi direto ao assunto e falou sobre
a “sociedade imunda” que ele estava frequentando... Arrematou dizendo que o
comportamento dele contrariava a mensagem de sua peça... Disse também que
Sézenac havia contado a respeito de sua relação com Josette...
Como
que a justificar-se, Henri respondeu que sua vida particular só importava a ele
mesmo e que, como já conhecia Josette há um ano, considerava aquelas críticas
muito injustas... Ele não estava mudado, fazia questão de garantir isso...
Nadine
não gostou de ouvir que, na opinião dele, ela é quem tinha mudado... Disparou
que “agora sabia de coisas” que a fizeram perder a confiança nele.
Ele
quis que ela falasse mais a respeito daquele juízo... Mas Nadine nada respondeu
e apenas baixou a cabeça...
(...)
Henri sentenciou que aceitava o repúdio ao seu texto,
mas considerá-lo um “salafrário”! A opinião de Nadine só podia ser inspirada
nas palavras do próprio pai... Henri lamentava principalmente porque todos
sabiam que ela não tinha os conceitos de Dubreuilh como os de um Evangelho.
Ela explicou que em sua
opinião o modo como ele se posicionou em relação aos campos não fazia dele um
salafrário... A questão era saber por que ele decidiu publicar a denúncia...
Henri deixou claro que o próprio artigo esclarecia seus motivos... Ela
concordou que em seu texto ele havia tratado das “razões públicas”, no entanto
esperavam também suas “razões pessoais”...
(...)
A
direita o “cobria de flores”... Nadine não podia deixar de considerar tudo
aquilo muito embaraçoso.
Henri quis que ela
respondesse se tudo não passara de uma “manobra” para aproximá-lo da direita...
Ela não soube responder, mas garantiu que a direita se aproximara
escancaradamente dele.
(...)
Ele
protestou... Falou sobre L’Espoir e sua orientação, que permanecia a mesma. Ela
bem devia saber, já que era amiga de Vincent.
Nadine respondeu que
Vincent não podia ser tomado como referência, pois ele sempre defendia os
amigos, tratava-se de um tipo de coração puro...
(...)
Então
Nadine podia provar mesmo que Henri fosse um salafrário?
Ela
respondeu que apenas desconfiava... Isso o deixou ofendido.
Ele
sentenciou que havia errado ao comparecer para aquela conversa...
Se
a outra não lhe dava crédito era porque não lhe tinha amizade sincera.
Despediram-se.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-nao.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto