Henri e Dubreuilh finalmente deviam tomar a decisão a respeito da publicação dos campos soviéticos de trabalho forçado... Henri sofreu as pressões de Lambert Scriassine e Samazelle, que o alertaram a respeito de Dubreuilh... Garantiram que ele não tinha interesse em avançar na acusação aos comunistas porque era certo que estava filiado ao PC.
De fato, Henri entendeu que Robert não considerava em nenhuma hipótese publicar nenhuma matéria que soasse anticomunista. Do modo como o diálogo se desenvolveu tornou-se difícil não cogitar que Dubreuilh escondesse sua filiação.
(...)
Henri garantiu que também
desejava que L’Espoir publicasse as denúncias... Dubreuilh esbravejou e disse
que se tratava de um erro. Sentenciou que não era momento de se fazer campanha
anticomunista... O referendum e as eleições se aproximavam e não havia nenhuma
garantia de triunfo para a esquerda, assim corria-se o risco até mesmo de uma
ditadura gaullista.
Estaria Dubreuilh se manifestando de boa fé?
Henri perguntou-lhe sobre a possibilidade de uma publicação após as eleições...
O “velho” explicou que certamente tudo seria divulgado independentemente das
ações do grupo. Henri não discordou, já que o mais lógico seria Peltov
encaminhar o seu material ao “Figaro”... Então isso significava que o resultado
das eleições não teria nenhuma relevância que pudesse ser relacionada à
divulgação (ou não) por L’Espoir... Qual seria a vantagem de se permitir que a
direita tomasse a frente em relação às denúncias? Henri não via sentido, e
também não conseguia qualificar o papel que desempenhariam depois.
Para Dubreuilh também aí não havia nenhuma complicação. Ele acreditava
que deviam denunciar o “trabalho corretivo” e condená-lo sem atacar o regime...
Isso quer dizer que continuariam a defender a URSS... Henri destacou que seria
importante assumirem a dianteira, já que, publicando as denúncias,
demonstrariam independência, e a reação da direita é que seria associada a “partidarismo”.
Dubreuilh rebateu a mais essa argumentação...
Esclareceu que os inimigos interpretariam e tomariam proveito da situação
espalhando que até os simpatizantes passavam a criticar o socialismo... A
campanha contra a União Soviética ganharia combustível. Mais uma vez Henri
discordou e garantiu que a esquerda deveria tomar a dianteira da situação... E
sobre as críticas que viriam, era sabido que os comunistas já estavam
acostumados a elas... Então, para ele havia, sim, a esperança de que a URSS
revisasse o seu sistema penitenciário.
Henri bem que tentava convencer Dubreuilh... Lembrou-o de que ele mesmo
sempre quisera exercer alguma pressão sobre os comunistas. O sentido de
independência do SRL poderia ganhar
força com aquele caso, então tratava-se de oportunidade única.
(...)
Mas Robert seguiu sem admitir a possibilidade... Em vez disso,
considerava que a proposta de Henri levaria os comunistas a se afastarem
totalmente... SRL e L’Espoir seriam
tratados como anticomunistas, inimigos do proletariado. É claro que o grupo do
qual participavam formava uma “minoria oposicionista”, desvinculada do partido,
mas sua aliada... Deviam fazer de tudo para não serem tratados como traidores
do proletariado.
Henri raciocinou que o desejo dos comunistas de
os manterem neutros era uma indicação de que, de certa forma, podiam exercer
influência de fato. Ele disse que Dubreuilh estava recusando a oportunidade unicamente
por imaginar que um dia exerceria alguma influência sobre os comunistas... Que
eficiência haveria na oposição que ele vislumbrava? Henri deixou claro que não
entendia aquele raciocínio. Nervosamente manteve-se com a palavra e aproveitou
o momento para desabafar o seu ponto de vista... Deviam ser comunistas, então?
Ou deviam combatê-los na busca de uma síntese dos ideais socialistas? A
proposta de Dubreuilh foi entendida por ele como a busca da “mais fácil das
decisões morais”... Para ele, a postura do outro podia ser relacionada a
comodismo e covardia.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_8.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto