segunda-feira, 11 de agosto de 2014

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Paule e seu desvario sem fim; Lenoir aparece para criticar a publicação contra os campos soviéticos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_10.html antes de ler esta postagem:

A secretária anunciou a chegada de Lenoir... Mas Henri não podia recebê-lo sem antes fazer com que Paule se acalmasse.
Ela insistia em repetir que o amava... Chorava copiosamente ao mesmo tempo em que reclamava que significava muito mais para ele do que o Lenoir que acabara de chegar... Depois, em tom de lamentação, pediu desculpas por ter se envolvido em atividades sociais e de ter ousado escrever... Escreveu, mas era por amor a ele. Queria deixar claro que estava arrependida por ter se mostrado vaidosa... É por isso que em breve queimaria tudo o que havia escrito.
Henri não acreditava no que via e ouvia. Respondeu que seria uma estupidez da parte de sua parte queimar a produção textual... Explicou também que não havia nenhum sentido em agir daquela forma.
Manifestando transtorno jamais demonstrado anteriormente, Paule perguntou se nada poderia convencê-lo a respeito de seu amor... Henri quis que ela se tranquilizasse e, principalmente, que se retirasse... Respondeu que estava “profundamente convencido” a respeito do amor que ela manifestara... Mas, ainda aos prantos, ela disse que o aborrecia e sentia necessidade de dissipar o mal que causara.
(...)
Henri queria agitá-la, esbofeteá-la para que acreditasse que não havia nenhum mal entendido... É claro que não faria aquilo, mas o seu desespero aumentava na medida em que não conseguia livrar-se dela...
Em seu desvario, Paule continuou a culpar-se dizendo que o aborrecia. Ela estava convicta de que ele não quereria mais vê-la... Em pensamento Henri confirmava... Isso mesmo, não tinha o menor interesse em revê-la... Mas proferiu o contrário: “certamente que sim!”.
Como não conseguia êxito em despachá-la de uma vez por todas, pediu mais uma vez que ela se acalmasse... Pôs-se a acariciar os seus cabelos por algum tempo... Enfim ela decidiu partir. Pediu que ele jurasse que a encontraria no dia seguinte para almoçarem juntos.
Ele jurou que almoçariam juntos... Queria ficar livre daquele estorvo... Pensou que a única solução seria não vê-la nunca mais... Fechou a porta e pensou que podia ajudá-la com dinheiro... Mas até para isso precisaria encontrá-la eventualmente... Era algo que ainda o incomodaria.
(...)
Depois de “despachar” Paule, Henri recebeu Lenoir.
Pediu desculpas pela demora... O outro estava avermelhado e tossia “uma tosse desagradável”... Ele foi falando que Henri já devia saber o motivo de sua visita... E este respondeu que certamente era porque ele devia estar solidário a Dubreuilh.
Henri lamentou o fato de seu artigo não o ter convencido... Lenoir, dando a entender que compreendia sua iniciativa, disse que não aceitava a sua argumentação sobre “não querer esconder a verdade aos leitores” porque seria preciso esclarecer “de que verdade ele pretendia tratar”.
Henri não esperava ouvir outra coisa... Sabia que Lenoir viria com aqueles conceitos previamente selecionados (“verdade ambígua”; “verdade parcial”...)... Logo após foram despejados os juízos sobre a pressão policial na URSS e o papel que a “pressão econômica” exerce nos países capitalistas... Ora, na URSS aquilo era legítimo porque no regime socialista “o operário não está ameaçado de ser despedido nem tem responsabilidade, no caso de falência”... Lenoir referia-se aos campos como “formas de sanções”.
Henri deixou claro que os campos de trabalho forçado significavam uma “sanção muito pesada e desumana”... Em nada podiam ser associados aos ideais socialistas. Além disso, entre a condição de um desempregado das sociedades capitalistas e a vida dos trabalhadores dos campos havia muita diferença...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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