quinta-feira, 13 de março de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – considerações sobre o repórter fotográfico Luiz Alfredo, sua trajetória profissional e os registros de 1961

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil.html antes de ler esta postagem:

As reproduções fotográficas que aparecem em Holocausto Brasileiro são de documentos de 1961 feitos por Luiz Alfredo, que naquela época trabalhava como repórter fotográfico da revista O Cruzeiro.
Em abril daquele ano, Luiz Alfredo seguiu para Barbacena acompanhado do jornalista José Franco. A revista preparava uma reportagem sobre a “varredura na área da Saúde” capitaneada pelo secretário de governo, Roberto Resende.
É claro que logo que chegaram ao Colônia se espantaram com a situação degradante com a qual se depararam. Para José Franco, o cenário era como que uma encenação do “Inferno” de Dante... Luiz Alfredo, que não parou de disparar a sua Leica, acabou se impressionando com os amontoados humanos, que mais lembravam os campos de concentração nazistas...
Luiz Alfredo se impressionou com o esgoto a céu aberto, as banheiras coletivas repletas de fezes e de urina, além da utilização do chão imundo pelos funcionários para cortar carnes que seriam servidas na refeição dos pacientes... O repórter não teve a menor dificuldade para reconhecer o necrotério da instituição, onde se deparou com três cadáveres em adiantado estado de putrefação.
A revelação dos filmes chocou o pessoal da revista. O próprio Luiz Alfredo disparou que o Colônia não se tratava de um acidente, mas de um “assassinato em massa”... A matéria foi publicada na edição de 13 de maio de 1961 e a partir dela o Colônia ficou conhecido entre os jornalistas como “a sucursal do inferno”.
A contribuição de Luiz Alfredo para as denúncias que se passaram a fazer contra o hospício é imensurável. A reportagem causou profundo impacto na sociedade... Apesar disso, passada a efervescência, a situação permaneceu a mesma.
(...)
Arbex reserva um capítulo de seu livro para tratar do trabalho de Luiz Alfredo e suas fotografias denunciadoras do descaso com os internados em Barbacena... Em A história por trás da história, a autora esclarece a trajetória do repórter desde a sua admissão em O Cruzeiro no começo de 1952. O texto cita suas matérias jornalísticas de maior destaque (muitas delas premiadas): Chegada da seleção brasileira de futebol depois da conquista do campeonato na Suécia; “sobre as linhas do Correio Aéreo Nacional” e o registro acerca de comunidades indígenas remotas; visita ao Brasil do líder cubano Fidel Castro no início de 1959; sobre a vida e obra do pintor Guignard em Minas Gerais...
Na companhia do repórter Fernando Brant, parceiro de Milton Nascimento em várias canções, Luiz Alfredo realizou uma viagem seguindo a antiga estrada de ferro Bahia-Minas... O episódio propiciou a reportagem com belas fotografias. Para Milton e Brant a viagem dos jornalistas resultou na composição da bela “Ponta de Areia”.
Com José Nicolau, Luiz Alfredo realizou a cobertura jornalística da visita de Juscelino Kubitschek aos parentes em Belo Horizonte. Na ocasião (1967) o ex-presidente vivia no exílio e seu retorno só foi possível após autorização do Regime Militar que vigorava no país... O fotógrafo conseguiu registros espetaculares da euforia da multidão ao reconhecer o político cassado.
O repórter fez matéria sobre a esquadrilha da fumaça e cobriu o concurso de Miss Universo (1968, nos Estados Unidos) vencido pela brasileira Martha Vasconcelos. Em 1972 ele fez reportagem no Parcel de Manuel Luís, ambiente marítimo considerado “o maior banco de corais da América do Sul”. Localizado a cem quilômetros da costa do estado do Maranhão, o lugar propicia mergulhos e a contemplação de cerca de 200 embarcações naufragadas... Embora as imagens recolhidas fossem espetaculares, nenhuma delas estampou a capa da revista. Em vez da maravilha submersa, O Cruzeiro destacou o beijo entre Beth Klabin (uma socialite) e Waldick Soriano (famoso cantor conhecido por seu repertório brega).
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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