domingo, 9 de março de 2014

“Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil”, de Daniela Arbex – considerações sobre o livro

A investigação que a jornalista Daniela Arbex realizou sobre o Hospital Colônia, manicômio em Barbacena localizado na Serra da Mantiqueira, estado de Minas Gerais, resultou no livro Holocausto Brasileiro – Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil.
Barbacena é cidade produtora de flores, mas ficou famosa pelo hospício que funcionou desde o começo do século passado.
Para lá eram encaminhados pacientes de todas as partes do país. Eles eram transportados nos “trens doidos” e desembarcavam na estação Bias Fortes, que dava para os fundos do hospital.

Não. O Colônia não era uma referência para tratamentos psiquiátricos... Projetado para atender até 200 pacientes, o local tornou-se um depósito para o qual se destinavam aqueles que deviam ser mantidos afastados do convívio social.
A partir dos anos 1960 sua população chegou a contar cinco mil miseráveis!
As péssimas condições do ambiente e o tratamento desumano a que as milhares de pessoas foram submetidas não eram conhecidos pelo público... Aliás, a ideia que se tinha da função do Colônia era exatamente a de “esconder” aquele contingente desprezado pelos “não loucos”.

Escondidos pelos muros da instituição, tornavam-se expropriados de qualquer direito e definitivamente excluídos da sociedade... Perdiam a identidade e sequer eram tratados por seus nomes. Os pavilhões se tornavam repletos de pessoas esfarrapadas (muitas delas permaneciam o tempo todo nuas) que não recebiam a menor atenção. Mantinham-se jogadas no chão ou perambulando desnorteadamente... Recorriam à água do esgoto para matar a sede.
Como podemos notar, as condições eram as piores e mais degradantes que se possa imaginar... A tortura fazia parte do cotidiano... O tratamento dispensado aos mais agitados era o eletrochoque nas têmporas, e as injeções com medicamentos intoxicantes faziam parte da rotina. Havia celas para o isolamento total do paciente problemático; os doentes ainda eram submetidos a duchas de água fria e tinham de passar a noite ao relento. Também a alimentação era parca e preparada sem a menor higiene.

Holocausto!
Não é por acaso que a mortandade no Colônia era altíssima. Contavam-se dezesseis mortos ao dia! Sabe-se que a instituição vendia cadáveres a faculdades de medicina... E ossadas também. Tanto é que os próprios pacientes presenciaram funcionários mergulhando cadáveres em tambores cheios de gasolina. Mas a quantidade de internações não parava de aumentar. Isso garantia o recebimento de verba governamental. Com os dormitórios lotados, tornou-se comum acondicionar doentes em montes de capim para que passassem as noites.

Mais da metade dos que eram internados em Barbacena não tinham laudo psiquiátrico, porém o cotidiano marcado pelas condições sub-humanas só podia levá-los à loucura... Muitos nem sabiam por que haviam sido internados!

Tiveram aquele destino porque sofriam ataques epilépticos, e suas famílias queriam mantê-los afastados... Havia os casos dos que foram apanhados nas ruas sem documentos... E também das mulheres abandonadas por maridos ou familiares que pretendiam escondê-las por terem engravidado antes de se casarem...
Entre os flagelados contavam-se muitas crianças. Como se pode imaginar, elas sofriam todo tipo de violação.
Há muitos dramas registrados em Holocausto Brasileiro. Mas ali eles não são dados frios de gráficos do holocausto... Arbex entrou em contato com personagens que vivenciaram os dias mais sombrios daquela instituição. Médicos, funcionários e pessoas abnegadas na defesa dos direitos humanos e de cidadania deram os seus depoimentos. E além desses, sobreviventes foram visitados. As páginas do livro tornaram suas histórias conhecidas.

Traremos mais detalhes sobre a pesquisa nas próximas postagens.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/03/holocausto-brasileiro-genocidio-60-mil_13.html
Leia: Holocausto Brasileiro. Geração Editorial.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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