domingo, 12 de setembro de 2010

Vila dos Confins


Gosto muito do trabalho com os fragmentos de Vila dos Confins, de Mário Palmério. Sobretudo para tratar de eleições ao tempo da República Velha (1889-1930). Há muitos anos li o livro e fazia vários comentários sobre ele. De tanto que me ouviam falar do texto, alguns alunos mostraram interesse. Lembro que emprestei o meu exemplar a um aluno do Casais. Parece que ele achou a leitura enfadonha. Não era o que eu pretendia, então tentei mostrar que o meu maior interesse é o de apresentar o texto, que é uma leitura alternativa, e ao mesmo tempo ilustrar os estudos que fazemos sobre o conteúdo em questão.
Trata-se de um romance de época: Um homem da cidade grande, “onde as coisas acontecem”, viaja para o interior, onde passa uma temporada. Em Vila dos Confins ele vivencia o cotidiano dos interioranos e o período eleitoral. Várias aventuras ocorrem naqueles sertões, como os ataques de sucuris aos animais de criação, pescarias, ou uma épica caçada à onça. Pelo que me lembro, não há datas precisas, mas podemos inferir tratar-se de um tempo que se relaciona ao período de interesse.
Em História da sociedade brasileira, de Francisco Alencar, Lucia Carpi e Marcus Venício Ribeiro, temos trechos interessantes de Vila dos Confins. Eles facilitam a introdução para uma leitura mais contextualizada do livro em questão.
Esses trechos estão às páginas 194, 195 e 199. Neles notamos uma discussão sobre como a disputa política sempre esteve vinculada a gastos de consideráveis somas de dinheiro. Além disso, temos uma caracterização do "Cabo Eleitoral" dos tempos de República Velha. Se atualmente ele é definido como aquele que faz a propaganda do candidato distribuindo panfletos, brindes e "santinhos", a leitura permite inferir que outrora o "Cabo Eleitoral" (no livro temos o personagem Pé de Meia) era pago para convencer o eleitor a se alistar e a ensiná-lo a preencher o requerimento e assinar o próprio nome. Cada eleitor inscrito significava um voto garantido.
Os trechos de Vila dos Confins citados ajudam-nos a entender quem eram os eleitores de então. Por força da Lei, deviam ser homens maiores de 21 anos e alfabetizados. O voto não era obrigatório... Daí a importância de o Cabo Eleitoral convencer o eleitor a se alistar... O eleitor era normalmente um homem do campo, que lidava nas terras de algum grande proprietário. O patrão normalmente exercia influência econômica e política na região onde vivia. O eleitor era analfabeto... Sua lida era a dos difíceis e pesados trabalhos com a terra, as ferramentas e os animais do campo... É por isso que o texto de Palmério destaca tão bem a conversa entre o camponês (João Francisco Oliveira) e Pé de Meia. De um lado temos o trabalhador rural se esquivando das tarefas com o lápis; de outro temos a solicitude do alistador no convencimento... "A eleição vem aí... a gente vira pessoa... ganha a estima do patrão."

Abaixo seguem as questões que solicitei aos alunos para discussão e elaboração de respostas-síntese (duplas ou trios):
1- O que é tratado nos trechos escolhidos de Mário Palmério?
2- Quais são as características do eleitor retratado no texto?
3- A narrativa revela algum controle ou intimidação política? Explique.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: História da Sociedade Brasileira. Ao Livro Técnico Editora.
Leia: Vila dos Confins. Editora José Olympio.

Páginas