Gosto muito do trabalho com os fragmentos de Vila dos Confins, de Mário Palmério. Sobretudo para tratar de eleições ao tempo da República Velha (1889-1930). Há muitos anos li o livro e fazia vários comentários sobre ele. De tanto que me ouviam falar do texto, alguns alunos mostraram interesse. Lembro que emprestei o meu exemplar a um aluno do Casais. Parece que ele achou a leitura enfadonha. Não era o que eu pretendia, então tentei mostrar que o meu maior interesse é o de apresentar o texto, que é uma leitura alternativa, e ao mesmo tempo ilustrar os estudos que fazemos sobre o conteúdo em questão.
Trata-se de um romance de época: Um homem da cidade grande, “onde as coisas acontecem”, viaja para o interior, onde passa uma temporada. Em Vila dos Confins ele vivencia o cotidiano dos interioranos e o período eleitoral. Várias aventuras ocorrem naqueles sertões, como os ataques de sucuris aos animais de criação, pescarias, ou uma épica caçada à onça. Pelo que me lembro, não há datas precisas, mas podemos inferir tratar-se de um tempo que se relaciona ao período de interesse.
Em História da sociedade brasileira, de Francisco Alencar, Lucia Carpi e Marcus Venício Ribeiro, temos trechos interessantes de Vila dos Confins. Eles facilitam a introdução para uma leitura mais contextualizada do livro em questão.
Esses trechos estão às páginas 194, 195 e 199. Neles notamos uma discussão sobre como a disputa política sempre esteve vinculada a gastos de consideráveis somas de dinheiro. Além disso, temos uma caracterização do "Cabo Eleitoral" dos tempos de República Velha. Se atualmente ele é definido como aquele que faz a propaganda do candidato distribuindo panfletos, brindes e "santinhos", a leitura permite inferir que outrora o "Cabo Eleitoral" (no livro temos o personagem Pé de Meia) era pago para convencer o eleitor a se alistar e a ensiná-lo a preencher o requerimento e assinar o próprio nome. Cada eleitor inscrito significava um voto garantido.
Os trechos de Vila dos Confins citados ajudam-nos a entender quem eram os eleitores de então. Por força da Lei, deviam ser homens maiores de 21 anos e alfabetizados. O voto não era obrigatório... Daí a importância de o Cabo Eleitoral convencer o eleitor a se alistar... O eleitor era normalmente um homem do campo, que lidava nas terras de algum grande proprietário. O patrão normalmente exercia influência econômica e política na região onde vivia. O eleitor era analfabeto... Sua lida era a dos difíceis e pesados trabalhos com a terra, as ferramentas e os animais do campo... É por isso que o texto de Palmério destaca tão bem a conversa entre o camponês (João Francisco Oliveira) e Pé de Meia. De um lado temos o trabalhador rural se esquivando das tarefas com o lápis; de outro temos a solicitude do alistador no convencimento... "A eleição vem aí... a gente vira pessoa... ganha a estima do patrão."
Abaixo seguem as questões que solicitei aos alunos para discussão e elaboração de respostas-síntese (duplas ou trios):
1- O que é tratado nos trechos escolhidos de Mário Palmério?
2- Quais são as características do eleitor retratado no texto?
3- A narrativa revela algum controle ou intimidação política? Explique.
Um abraço,
Prof.Gilberto
Leia: História da Sociedade Brasileira. Ao Livro Técnico Editora.
Leia: Vila dos Confins. Editora José Olympio.