domingo, 19 de setembro de 2010

A Década para Superar a Violência

Escrevi este texto para trabalhar com meus alunos no ano de 2003. Ele foi produzido após a leitura de um relatório sobre a dignidade humana e a paz no Brasil. Estávamos no começo da década e a proposta da UNESCO era a de desenvolvermos (todos) uma cultura de paz, de denúncias aos maus tratos e à violência contra a pessoa. Enfim, os dados alarmantes contra o desrespeito à dignidade das pessoas levaram organismos internacionais a declarar a primeira década do século decisiva para superar a violência. É claro que a escola tem importante papel em relação a tudo isso... Não deixei por menos.
Segue o texto que elaborei na ocasião:




SOBRE A DIGNIDADE HUMANA
“Uma singela contribuição para a reflexão”



Este texto trata de uma reflexão acerca do tema proposto a partir do documento “Relatório sobre a dignidade humana e a paz no Brasil” lançado ao final de 2002 pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil. O relatório é um documento que será atualizado anualmente até 2010, quando será encerrada a “Década para Superar a Violência”. A iniciativa do Conselho integra o movimento lançado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, as Ciências e Cultura (UNESCO), a década Internacional de uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo, a ser realizada nos mesmos anos.
A base de elaboração do documento foi uma pesquisa com diversas questões acerca do entendimento que as pessoas têm de dignidade e suas relações com a organização existente na sociedade, como cada um a percebe; a verificação dos índices de indignação que cada um pode manifestar frente a determinadas situações; e a apresentação de alguns estudos de caso.
Os dados tabulados a partir da pesquisa permitem-nos afirmar que a maioria das pessoas tem dificuldades para definir o que é “dignidade”. Apesar disso muitos apresentam exemplos de situações em que imaginam haver dignidade humana e outros exemplos em que percebemos a falta de dignidade humana.

A palavra “dignidade” surgiu do antigo latim e em sua origem ela estava mais relacionada a “poder”. Assim, podemos dizer que determinado homem, que comandava uma grande tropa armada, possuía a dignidade de general, por exemplo. Ou ainda que um outro, possuidor de terras, detentor de notável poder econômico, possuía a dignidade de barão. É claro que essas pessoas eram muito respeitadas e delas todos esperavam diversos atributos morais, tais como a honra, a bravura, que fossem verdadeiros exemplos de honestidade. Não é à toa que muitos definem a palavra dignidade a partir desses atributos.

Se considerarmos o contexto exposto no parágrafo anterior podemos concluir facilmente que os mais pobres (a esmagadora maioria da população!), por não exercerem nenhum tipo de poder, não eram detentores de dignidade. E essa situação torna-se ainda mais evidente quando reconhecemos que a realidade por eles vivida era das mais miseráveis, com muita exploração e diversas obrigações. Além de tudo isso, devemos ressaltar que nem sempre existiram leis escritas. Essa realidade ocorreu em diversos momentos da História e em sociedades diferentes: uma grande maioria sendo explorada por uma minoria de opressores que detinham o poder.

A História registra, também, que os que sofrem explorações sempre se organizam e lutam por direitos. Foi assim na Antigüidade, no Período Medieval, durante a Idade Moderna e nos dias atuais. Foi assim que muitas sociedades conquistaram leis escritas e garantias de direitos inalienáveis (vida, liberdade, igualdade, trabalho,...).

Um dos princípios iluministas (das idéias iluministas – século XVIII - que influenciaram a Revolução Francesa) que ajuda-nos a entender a dignidade é o da Igualdade. Então, posso afirmar que vivemos com dignidade quando, além de termos nossos direitos respeitados, somos tratados como iguais, não somos “passados para trás” por ninguém e temos a oportunidade de opinar livremente, de termos saúde e educação adequadas, de constituirmos nossas famílias, de trabalharmos e de educar nossos filhos, de termos um bom atendimento à nossa saúde e de termos lazer. Temos dignidade quando somos respeitados em nossa vontade de sermos diferentes. E mostramos dignidade quando protestamos (mostramos indignação) frente a situações em que nossos semelhantes são desrespeitados em sua dignidade humana.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: A década para superar a violência. CONIC.

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