quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Considerações sobre "A águia e a galinha" - Leonardo Boff

Resolvi postar esse texto. São considerações sobre um livro de leitura bem fácil, do Leonardo Boff. A elaboração data do começo de 2001... O material foi trabalhado com alunos do Casais.
É interessante como retomamos alguns materiais no decorrer dos anos, com outros isso já não ocorre... Fiz a adaptação do livro que acabara de ler e só a usei uma vez com uns dois ou três grupos de alunos daquele ano... E nunca mais.
A gente pensa que várias de nossas atitudes ou propostas em sala de aulas caem no abandono do esquecimento de nossos alunos. Afirmo isso porque não percebi grande retorno deles por ocasião das reflexões sobre o “A águia e a galinha”...
Confesso que fiquei surpreso quando recebi um e-mail de ex-aluna da escola (a Bárbara), que passou a fazer História na PUC, citando exatamente as aulas em que trabalhamos a temática por mim proposta. É claro que isso é gratificante, alegra a gente... Sinceramente nem me lembrava das situações provocadas pela leitura, discussão, nem mesmo tenho as questões que foram levantadas.
É uma pena... Se ainda tivesse aquele e-mail copiaria aqui... Tratava-se de uma resposta para uns “parabéns” que enviei aos amigos professores em seu dia (15/outubro)... Ao que tudo indica, eu estava meio desanimado ao cumprimentá-los naquele final de 2009... A Bárbara “aplicou” uma injeção de ânimo recordando-me daquelas “inspiradoras aulas”.
Segue o texto:

A ÁGUIA E A GALINHA
Por volta de 1960 aconteceram muitas revoltas na África. Os vários povos estavam lutando por independência em relação aos países europeus (Alemanha, Inglaterra, França, Portugal e outros), que por muito tempo, desde o século anterior, vinham explorando as riquezas locais. Muitos anos antes, no meio das várias sociedades africanas, grupos nacionalistas se organizavam para a luta contra os poderosos exploradores. Em Gana não foi diferente. Havia muito tempo que os ingleses exploravam a região, que chamavam de “Costa do Ouro”. O nome que deram à região nos dá uma clara idéia do que mais exploravam.
James Aggrey foi um importante líder dos ganenses na luta contra os imperialistas europeus. Certa vez, em 1925, Aggrey participou de um encontro com os que lideravam a resistência contra os ingleses e percebeu que havia muitas divergências entre as propostas de ação. Alguns eram contra a luta armada. Outros, inclusive, achavam que não valia a pena lutar e que melhor seria continuar dependentes e explorados pelo país estrangeiro. Ao perceber o desânimo daqueles que deviam incentivar o povo na marcha para a liberdade, Aggrey contou uma fábula. Ela é narrada pelo teólogo Leonardo Boff em seu livro “A águia e a galinha”. Aqui temos um resumo da fábula contada pelo líder ganês que não chegou a ver o seu país livre, pois morreu em 1927, mas semeou sonhos.

“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha para apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
_ Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia;
_ De fato – disse o camponês. É uma águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
_ Não – retrucou o naturalista. Ela é e sempre será uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
_ Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
_ Já que de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra as asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas. O camponês comentou:
_ Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
_ Não – tornou o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:
_ Águia, já que você é uma águia, abra as suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga:
_ Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
_ Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
_ Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez mais para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...”

Um abraço,
Prof.Gilberto
Leia: A águia e a galinha. Editora Vozes.

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