sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sobre "Filosofia da Ciência"

Leia os fragmentos que selecionei:
“O que é que as pessoas comuns pensam quando as palavras ciência ou cientista são mencionadas? Faça você mesmo um exercício. Feche os olhos e veja que imagens vêm à sua mente. As imagens mais comuns são as seguintes:
* O gênio louco, que inventa coisas fantásticas;
* O tipo excêntrico, ex-cêntrico, fora do centro, manso, distraído;
* O indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas incompreensíveis ao comum dos mortais;
* Alguém que fala com autoridade, que sabe sobre o que está falando, a quem os outros devem ouvir e ... obedecer. (...)
Quando o médico lhe dá uma receita você faz perguntas? Sabe como os medicamentos funcionam? Ele manda, a gente compra e toma. Não pensamos. Obedecemos.”


Esses são fragmentos de texto de um livro que li há muitos anos, “Filosofia da Ciência”, de Rubem Alves. De tempos em tempos o retomo para proporcionar discussões sobre o conhecimento considerado válido em nosso meio. Normalmente as pessoas associam a tarefa de conhecer ao cientista... E fazem dele as imagens mais excêntricas porque, sendo o que é e fazendo o que faz, só pode ser mesmo muito diferente das demais pessoas. Apenas ele tem a capacidade de revelar-nos o que é bom para as nossas vidas.
Não é por acaso que muitas propagandas veiculadas procuram relacionar os produtos que querem vender ao “cientificamente provado”. Está claro que para o público consumidor “se os cientistas aprovam é bom!”. As agências de publicidade abusam de cenas de laboratório com moços e moças (de óculos) analisando substâncias em tubos de ensaio... Atrás, normalmente há outros tubos que liberam uma fumacinha... É, o negócio também é misterioso... Tudo impecavelmente branco e limpo... Paredes, aventais, e os cientistas também!
É como se a tarefa de pensar fosse apenas de alguns letrados especializados... Só os especialistas, a partir desse ponto de vista, teriam condições de explicar aos demais, que não têm o conhecimento acadêmico, o que é correto ou incorreto, bom ou ruim, necessário ou desnecessário, e assim por diante.
Essas e outras considerações sempre aparecem quando lemos esses fragmentos selecionados.
E o que isso tem a ver com Ensino de História?
Penso ser fundamental proporcionarmos aos alunos reflexões que os levem a confrontar o que pensam ser “pronto e acabado”... Vocês sabem muito bem, muita gente acha que o conhecimento sobre o passado está “pronto e acabado”. Alguns dizem que basta decorá-los! Também há muitos “especialistas interpretes” e os que insistem em não admitir que a visão arraigada seja sequer questionada... Precisamos “desvelar” seus discursos, entendermos suas reais intenções. Enfim, devemos pelo menos admitir o confronto de versões para possibilitarmos a uma construção do conhecimento histórico.
Se você achou interessante, leia também as reflexões que serão postadas logo após.
Um abraço,
Gilberto
Leia: Filosofia da Ciência. Editora Brasiliense.

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