terça-feira, 14 de setembro de 2010

Sobre “Ética para meu filho”

Já faz um bom tempo que li este "Ética para meu filho". Faz alguns anos que alguns alunos pediram-me para falar sobre o seu conteúdo... Um deles era o Henrique Felício, ex-aluno do Casais, disso eu tenho certeza... Lembro que conversamos nos corredores da escola e eu fiquei de “rabiscar algumas letras” para ele e os seus amigos. Decidi postar aqui porque considero que o texto ficou interessante, de fácil compreensão e, melhor que isso, com um potencial de instigar a leitura do “Ética para meu filho” na íntegra, isso vale a pena, pode ter certeza.


Tal como Aristóteles fez o “Ética para Nicômaco”, Fernando Savater fez o seu “Ética” para o próprio filho (Amador). O autor faz diversas referências a Aristóteles e, dessa maneira, consegue tornar o conceito de “ética” mais claro e fácil de ser entendido.
Devemos considerar que o ser humano é o único que pode escolher entre os diversos caminhos que se lhe apresentam. Quer dizer, o ser humano pode fazer escolhas decisivas. É na liberdade de poder decidir que a ética se manifesta. Logo no início do livro, o autor cita o exemplo das formigas térmitas, da África, cujos soldados martirizam-se para defender o formigueiro contra “outros insetos mais poderosos”. Percebemos que tal comportamento é da natureza dessas formigas. Para contrapor a esse exemplo, Savater cita o exemplo de Heitor, guerreiro de Tróia, que mesmo sem a menor chance contra Aquiles, partira da segurança das muralhas de sua cidade para enfrentar aquele que não poderá vencer. Verificamos que Heitor, ser humano que era, poderia perfeitamente arranjar alguma desculpa para não enfrentar Aquiles. Mas como bom guerreiro educado pela cidade, sabe que tem o “dever ético” de sacrificar-se.
Em relação a essa importância da liberdade, é o próprio Savater que nos diz que “não somos livres para escolher o que nos acontece”. Assim, não escolhemos a nossa família e estamos sujeitos a alguns acidentes e doenças. Mas somos livres “para responder de um ou de outro modo àquilo que nos ocorre”. Assim, podemos obedecer ou rebelar-nos, atuar prudentemente ou de modo mais arriscado, e assim por diante.
Um texto de Aristóteles mostra a situação em que uma embarcação leva uma importante carga para o porto, porém ocorre uma terrível tempestade e o capitão se vê em uma situação em que deve decidir. Quer dizer, ele não escolheu a tempestade, mas deve escolher entre arriscar a vida de todos os tripulantes e levar a carga até o destino final, ou dela se desfazer para salvar a todos. O trecho escolhido por Savater exemplifica e conceitua muito bem a Ética.
A maior parte de nossos atos do dia-a-dia são praticamente instintivos porque já os incorporamos e fazemos automaticamente, quer dizer, não nos perguntamos porque acordamos a determinada hora do dia e partimos para os afazeres cotidianos. Isso à parte, é preciso considerar que a família, a religião, a escola, e até as propagandas da televisão formam os vários conceitos que carregamos. Eles podem nos induzir a tomarmos certas iniciativas.
Devemos considerar que não estamos sós. Vivemos em grupos diversos. Se cada um considerar apenas o seu interesse nas mais diversas ações, teremos o caos. Ações éticas são aquelas que levam em conta o bem comum e os interesses da maioria. O compromisso ético que temos com a humanidade é exatamente este, o de pretendermos cada vez mais a paz e que todos exerçam os direitos básicos de vida digna. Isso leva-nos a afirmar que nenhum ato de exploração é correto, e que nenhum ato de terror se justifica.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Leia: Ética para meu filho. Editora Martins Fontes.

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