quarta-feira, 15 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – a potencial relíquia e o dilema; exigindo que a natureza dos ramos espinhentos seja a de nenhum milagre provocar; de ansiedades e incertezas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_94.html antes de ler esta postagem:

O galho espinhoso tinha potencial...
Haveria algo mais sagrado? Recolhido no vale do Rio Jordão, e bem numa manhã de domingo reservada à missa... Haveria relíquia mais significativa?
Essas considerações deram ao Teodorico a sensação de que não teria mais complicações com aquela tarefa. Mas ao mesmo tempo outra preocupação passou a assombrá-lo... E se aquele estranho tronco possuísse uma “virtude transcendente”?
Nesse caso a tia Patrocínio teria seus problemas de saúde sanados! Já pensou? Logo que os espinhos fossem acomodados no oratório, o fígado da mulher se restauraria! Mas isso seria o seu fim!
(...)
Ele não pensava em lhe restaurar a saúde! Bem ao contrário! Imagine só... Torná-la “ininterrável”! E foi por isso que ele começou a andar em volta do estranho a arbusto...
Como louco perguntou se ela era uma relíquia poderosa... Ou era apenas um tipo exótico desses que constam nos livros de botânica? Teria o dom de cura?
A árvore espinhenta precisava saber que, levando um de seus ramos para o oratório de uma confortável casa em Lisboa (bem longe daquele sítio ermo e seco), Teodorico não desejava que se operasse o prolongamento de uma vida que o estorvava...
A “aberração vegetal” precisava saber que ele pretendia apenas iludir a velha tia. Ele tinha intenção de tomar posse o quanto antes da herança acumulada desde os tempos do comendador Godinho.
(...)
Como saber se o ramo espinhento não faria bem à tia?
O Raposo tinha suas dúvidas, e é por isso que se pronunciou... Insistiu que não era porque o galho estava ligado a uma árvore fincada em terras do Evangelho que tinha de se embeber dos ideais de “caridade e misericórdia”. Se era dotado de propriedades miraculosas, era melhor que permanecesse no deserto, sofrendo com a poeira, o calor e os excrementos de aves de rapina.
O rapaz disse ao galho que ele precisava prometer que jamais atenderia às preces de tia Patrocínio... Era essa condição para que o levasse para uma “capela afofada”, onde receberia beijos e adoração...
Evidentemente nenhuma voz saiu do arbusto.
(...)
Todavia Teodorico teve o pressentimento de que algo inexplicável (uma ligeira brisa) lhe disse que a tia Patrocínio morreria em breve... Então encheu-se de convicção de que aquilo só podia ser um presságio...
O arbusto não respondeu de “modo convencional”, mas deu um jeito de se comunicar através da atmosfera local. Só podia ser isso!
A promessa estava acertada. O rapaz entendeu que podia levar alguns daqueles ramos horrorosos para o oratório da tia. Eles não impediriam o inchamento do fígado da velha.
(...)
Teodorico retirou-se. Deixou o arbusto para trás...
É que a rapidez com que recebera a reposta o estava incomodando... Foi por isso que decidiu ir ter com Topius.
Encontrou-o junto à fonte de Eliseu...
O alemão analisava pedras e lascas, lixos e outros restos da cidade outrora reconhecida pelas vistosas palmeiras. Estava agachado e dispensava atenção a um fragmento de pilastra escurecida que se achava em parte enterrada no solo encharcado... O local bem podia ter abrigado as termas de Herodes.
Teodorico foi logo falando a respeito de sua descoberta. O sábio alemão quis ter certeza... “Um arbusto de espinhos?” Talvez fosse o nabka, muito comum em toda a Síria. Depois acrescentou que um estudioso de Botânica chamado Hasselquist garantia que era dessa espécie que haviam feito a coroa de espinhos.
Topsius perguntou se Teodorico vira “umas folhinhas verdes em forma de coração”... A resposta foi negativa, então só podia ser “o lycium spinosum”... Esse, de acordo com os latinos, serviu para confeccionar a “coroa da injúria”.
Topsius quis conferir no mesmo instante...
Logo os dois se dirigiram ao sítio cercado de penedos, onde se escondia o arbusto espinhento descoberto pelo Raposo.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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