Não se tratava de uma expedição qualquer...
O sol castigava os romeiros e suas montarias. Teodorico dá a entender que a boa conversa de Topsius aliviava a jornada. Além disso, havia os cigarros feitos por Pote com o excelente tabaco de Alepo.
(...)
Apenas a desolação entre uma e outra serra...
Enquanto buscava
maior proteção ajeitando seu guarda-sol na montaria, Topsius explicou que
Maqueros localizava-se naquelas paragens... Nela viveu o tetrarca da Galileia,
Herodes Antipas, personagem que ele vinha estudando há um bom tempo. Esse
Herodes era filho de outro Herodes (o Grande).
Com
ares de seriedade, o alemão emendou que, naquela cidade, João Batista (Iocanã) foi
degolado.
(...)
O alemão deu
prosseguimento à sua narrativa...
Disse
que Maqueros era “a mais alta fortaleza da Ásia” e que fora edificada sobre “rochedos
de basalto”. Suas muralhas eram de tal modo elevadas que as águias dificilmente
atingiam suas torres.
Ao aproximar-se pela
primeira vez de Maqueros, o estrangeiro só podia admirar-se com a colossal
cidade “toda negra e soturna”... Por fora, ele não contemplaria mais do que
isso. De modo algum podia imaginar o esplendor interno que ela ostentava, os “marfins,
jaspes e alabastros”.
Herodes a planejara...
A montanha escondia num subterrâneo o abrigo de suas duzentas éguas “brancas como
leite”. Esses belos animais eram tratados “a bolos de mel”. Não se conheciam
animais mais ligeiros.
Mais abaixo estava o
cárcere do Batista.
(...)
Teodorico quis saber
como o santo foi para na fortaleza...

Herodes ficou encantado pela beleza de Herodíade e a raptou, enviando-a
para a Síria. Depois passou a viver em Maqueros. Evidentemente repudiou a própria
esposa (uma “moabita nobre, filha do rei Aretas, que governava o deserto e as
caravanas”).
A traição de Herodes repercutiu negativamente.
Todos entenderam que ele vivia em pecado, em desacordo com as Leis de Deus. A
Judeia inteira sabia o que estava acontecendo.
Herodes concluiu que
só havia uma maneira de reverter sua impopularidade... Foi assim que resolveu
que seus homens deviam trazer Iocanã ao palácio.
(...)
O Batista pregava às margens do Rio Jordão e era muito respeitado por
todos os que o ouviam.
A
ideia do tetrarca era a de agraciá-lo com o vinho e o conforto que suas
instalações podiam proporcionar... Esperava que o profeta se manifestasse a
respeito de sua relação adúltera de modo favorável e que o poupasse de
críticas.
Ainda de acordo com
Topsius, João Batista carecia de “originalidade”. É bem verdade que ninguém
poderia suspeitar de seus propósitos em relação à ética religiosa... Mas,
segundo o intelectual alemão, ele era um imitador de Elias. Sua conduta
reproduzia o modo de ser do profeta do Antigo Testamento...
(...)
Elias vivia numa toca e se alimentava de gafanhotos...
Ele
foi um exemplo de homem que se pautava pela fé no Deus verdadeiro e clamava “contra
o incesto de Acabe” (rei que desposara Jezabel, adoradora de Baal e que punira
muitos profetas que a denunciaram).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_55.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto