De fato, Teodorico só podia se impressionar com a magnífica paisagem que passou a contemplar... Uma rica vegetação, plantações e árvores frutíferas passaram a fazer parte do caminho. A atmosfera pesada e descorada verificada em Jericó havia ficado definitivamente para trás.
Evidentemente o ânimo do rapaz melhorou. Sequer se lembrava de refletir a respeito das incoerências daquela viagem. Quando passou a cavalgar por um trecho ladeado por belo e perfumado roseiral deu início a uma animada cantoria... E assim permaneceu até ser interrompido por Topsius.
(...)
O alemão quis mostrar-lhe uma casa no alto de uma elevação...
O
lugar era tomado por cedros e ciprestes... O imóvel tinha o pórtico branco
voltado para o leste... De acordo com o estudioso, a propriedade pertencia a um
parente de Valério Grato (“antigo Legado Imperial da Síria”).

De
onde estavam observavam tantas estátuas quanto as que podiam ser encontradas
nos mais ricos templos... Pelo menos foi isso o que Topsius sustentou.
Teodorico notou que
tudo ali transmitia tranquilidade e paz. Observou a presença de um velho servo
atarefado... E também que, próximo a um caramanchão, havia uma fonte em que a
água caía lentamente sobre um artefato de bronze.
Uma estátua de
Esculápio (da mitologia greco-romana) completava o ambiente onde um senhor de
toga lia registros em papiro. Uma jovem lhe fazia companhia enquanto fazia
grinaldas de flores.
O trotar dos cavalos
chamou a atenção da moça, que dirigiu o olhar aos dois viajantes. Topsius transmitiu-lhe
uma saudação... Teodorico gritou-lhe “Viva la Gracia”.
(...)
Mais à frente,
Topsius quis falar sobre outra vivenda... Esta tinha aspecto severo... Disse
que pertencia a certo Osânias, “rico saduceu de Jerusalém, da família
pontifical de Boetos, e membro do Sanedrim”.
Ali não havia ornamentos. O desenho da casa era quadrado e podia-se
dizer que seu aspecto era resultado da lei austera do poder local. Tributos
rendiam a riqueza acumulada nos grandes celeiros... Dez escravos estavam
guardando sacas de trigo vinhos, carneiros e tudo o mais que vinha sendo
arrecadado como pagamento pelo dízimo do dia de Páscoa.
Teodorico observou que na beira da estrada estava a “sepultura doméstica”.
(...)
Na sequência alcançaram Betfagé, povoado carregado
de palmeiras...
Topsius parecia
conhecer bem aqueles caminhos e decidiu que deviam seguir por um atalho que
passava pelo Monte das Oliveiras. Seu objetivo era alcançar o quanto antes o
local onde as caravanas costumavam parar no percurso que realizavam desde o
Egito até Damasco. A paragem era conhecida por abrigar um importante lagar.
Teodorico encantou-se logo que chegaram ao topo do Monte Moabita...
O
que ele viu de tão impressionante?
O lugar estava tomado
por uma infinidade de barracas. Formou-se um “acampamento sem fim” e aquele
povo todo se deslocava para Jerusalém!
Tendas
foram ajeitadas entre as oliveiras da encosta e imaginava-se que elas se
estendiam até o Cédron... Também os pomares do vale estavam tomados de
peregrinos desde Siloé... Nada diferente do que se via na estrada de Hébron. A
ocupação era simplesmente extraordinária.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_25.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto