quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Osvaldo Cruz, episódios que antecederam uma tragédia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_10.html antes de ler esta postagem:

Na cidade de Osvaldo Cruz menos da metade de seus 12 mil habitantes era de japoneses. Porém, nessa localidade os seguidores da Shindo eram tão radicais que, além dos ataques aos makegumi, eram conhecidos por ameaças que faziam aos brasileiros (a quem chamavam de gaijin) de tornarem-se subjugados tão logo o Japão concretizasse seu vasto império.
Ao que tudo indica, apenas Izuyo Suzuki (farmacêutico) e Yutaka Abe (engenheiro) não pertenciam aos quadros da seita em Osvaldo Cruz. Suzuki era um tipo mais discreto; Abe propagava suas convicções mais abertamente. Diferentemente da maioria dos membros da colônia nipônica, Abe passara boa parte de sua vida em Minas Gerais, onde nasceram os seus filhos. Ele era tão “descolado” das tramas que envolviam makegumi e kachigumi que um de seus filhos, Shiguemizu, tinha o nome cristão de Marcelo. Sua família havia se convertido à Igreja Batista.
Os problemas de Abe com a Shindo Renmei surgiram depois que a associação promoveu um encontro no clube japonês (bunka) para discutir a situação da pátria-mãe após a guerra. Abe não titubeou ao manifestar-se, esclarecendo que não acreditava em nenhuma das afirmações propagadas pelos nacionalistas... Foi confrontado publicamente por San-It Chimen, madeireiro e corretor de imóveis também conhecido por ser o principal líder da Shindo Renmei em Osvaldo Cruz... Abe deixou a reunião do bunka acompanhado pelo farmacêutico Suzuki antes que ela terminasse... Ouviram os mais diversos impropérios e ameaças da assembléia.
Abe, de certa forma tinha confiança para assim proceder... Ele tinha autorização policial e por isso andava armado. Sua casa era bem iluminada e cada membro de sua família também possuía uma arma. Logo teremos notícias sobre atentados que sofreram... Mas é importante conhecermos um pouco dos ataques anteriores aos que eles viriam a sofrer...
(...)
Era o enfermeiro Eiiti Sakane (um dos “sete samurais” dos episódios em Tupã contra o cabo Edmundo que havia profanado a bandeira japonesa) que articulava os planos de ação dos tokkotai na região. Em julho de 1946 ele incumbiu Sueto Yiama, Kazuto Yoshida, Kohei Kato e Kohei Itikawa de assassinarem dois makegumi de Osvaldo Cruz, que viviam no distrito de Inúbia. Um deles era Assano, que deveria ser executado por Kato e Yoshida; o outro era o sitiante Maramatsu, cujo assassinato ficou ao encargo de Yiama e Itikawa... Toshimi Assano, que os tokkotai acreditavam ser farmacêutico, era um bem sucedido advogado com excelente relacionamento com autoridades, era intermediário em negócios de compras e vendas de terras e, graças ao domínio de vários idiomas, acompanhava empresários em viagens aos Estados Unidos.
De fato, quando Assano sofreu o atentado, estava atendendo no balcão da farmácia de seu filho. Os tokkotai atiraram em sua cabeça e fugiram, o tiro fez um estrago considerável, mas não foi fatal... Já o atentado contra Maramatsu não se concretizou porque ele estava viajando.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_17.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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