sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - repercussão da "reunião pacificadora" com os japoneses; novos esforços

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_09.html antes de ler esta postagem:

Terminada a “reunião de pacificação” promovida pelo interventor Macedo Soares, a repercussão foi das mais agitadas. A imprensa nacional demonstrou decepção, criticou a ousadia dos japoneses e as concessões feitas pelo governo. O pessoal da Shindo é que não perdeu a oportunidade de propagar a sua vitória em meio à colônia japonesa. E é claro que fez isso exagerando nas palavras... Seus boletins afirmavam que o interventor dissera que proibiria qualquer publicação que se referisse à derrota do Japão e as de críticas à organização secreta.
Se inicialmente as discórdias eram concentradas no seio da comunidade nipônica, a partir desses episódios cresceu a aversão de muitos brasileiros à questão japonesa, à truculência da Shindo e à comunidade de um modo mais abrangente.
Em entrevistas, o brigadeiro Ararigbóia e o embaixador Kumlin defenderam a estratégia de Macedo Soares. Para o primeiro, a tática exigia paciência e logo os resultados se revelariam positivos; Kumlin mostrava que Macedo Soares tinha a experiência como diplomata e sabia que os japoneses se convenceriam por seus argumentos. O antropólogo e professor Octávio da Costa Eduardo defendeu a estratégia do governo dizendo que ela foi “etnologicamente correta”, e criticou os que queriam o endurecimento porque avaliava que isso só uniria os mais radicais em torno de ações ainda mais violentas. O padre Sabóia de Medeiros justificava que as ações terroristas dos japoneses só podiam ser relacionadas com seu paganismo. Ele era contrário à expulsão porque os japoneses constituíam importante mão-de-obra nas fazendas, além disso, eram “rebanho” que precisava conhecer o Evangelho pelas mãos da Igreja Católica.
O governo paulista autorizou o retorno da circulação do jornal São Paulo-Shimbun, que esteve proibido durante a guerra. A ideia era garantir um veículo de comunicação em que as orientações das autoridades pudessem ser reproduzidas para a comunidade nipônica.
O consulado americano também decidiu fazer algo para que a ordem fosse restabelecida. As medidas adotadas receberam o nome de “Operação Verdade”. O cônsul-geral Cecil Cross trabalhou para que o Supremo Comando Aliado enviasse jornais publicados no Japão. Os exemplares foram fartamente distribuídos nas localidades nipônicas, que podiam conhecer a realidade de momento de seu país: derrotado, destruído e ocupado por forças estrangeiras, bem o contrário do que a maioria da colônia imaginava. Para a decepção dos americanos, a “Operação Verdade” não resultava em mudanças... Os japoneses viam tudo aquilo como propaganda enganosa.
Onze dias depois da “reunião pacificadora” no Palácio do Governo paulista, o interventor Macedo Soares esteve no Rio de Janeiro (que era a capital do país) para apresentar relatórios sobre seus esforços de serenar os imigrantes japoneses ao Ministro da Justiça, Carlos Luz... Soares demonstrou-se animado porque desde a “reunião pacificadora” nenhum outro assassinato ocorrera.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_16.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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