domingo, 5 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - torturas policiais

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_28.html antes de ler esta postagem:

Após a morte de Chuzaburo Nomura, a polícia realizou uma caçada fenomenal aos quadros da Shindo Renmei  e superlotou as cadeias. Os registros detalhados da própria associação facilitavam o trabalho policial. Endereços, contabilidade, funções dos inscritos e mais uma série de dados muito bem organizados vinham à tona assim que os arquivos eram entregues. Raras eram as mulheres registradas... Entre os japoneses dizia-se que o assunto “não era para mulheres”.
O DOPS foi obrigado a aparelhar-se para atender as demandas que o caso requeria, assim todo inquérito contava com a colaboração de intérpretes, pois a maioria dos detidos não falava ou se recusava a falar português. A principal tática dos investigadores do delegado Cardoso de Mello, para conferir se um detido era membro ou simpatizante da causa Shindo Renmei, era perguntar sobre o resultado da guerra... Nos casos de respostas que davam a vitória ao Japão, as autoridades não tinham dúvidas... Também comuns eram as perguntas que conferiam a fidelidade do súdito em relação a hipotéticas ordens absurdas de seu imperador (do tipo, “você se atiraria do alto de um penhasco a pedido do imperador?”)...
Mas havia aqueles que se recusavam a prestar maiores esclarecimentos ou manifestar afirmações comprometedoras demais. Então a polícia utilizava o método do fumie... Isso aí era uma tortura das mais terríveis para os que incorporavam o ideal do Yamatodamashii. O fumie foi uma prática utilizada pelos samurais durante o século XVII para saber quem havia se convertido ao Cristianismo trazido ao seu país por padres jesuítas. Consistia em fazer a pessoa cuspir e pisar em imagens de Cristo. Por aqui, a polícia apresentava ao detento os símbolos de maior veneração (retrato do imperador, bandeira do Japão) para que ele cuspisse e pisasse neles.. Era tortura insuportável à mente dos doutrinados pela Shindo.
Outra prática policial era a de reproduzir cópias de poemas (os chamados haicus) em que a família imperial japonesa era ofendida das mais diversas formas... Só para notar reações de repugnância no suspeito, que sofria ainda a ameaça de ser enviado para a Ilha Anchieta, um presídio isolado localizado no litoral norte paulista... Como os detidos estavam vulneráveis e não tinham a quem recorrer, os policiais abusavam dos castigos físicos... Aqueles que se recusavam a desonrar o Yamatodamashii sofriam com borrachadas por todo o corpo e principalmente nas solas dos pés.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_07.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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