quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - o atentado a Jinsaku Wakiyama

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_07.html antes de ler esta postagem:

Kamegoro Ogazawara, da Tinturaria Oriente, recebera de Kikawa a incumbência de dar prosseguimento à onda de assassinatos. Ele reuniu os tokkotai Shimpei Kitamura, Tokuiti Hidaka, Kozonori Yoshida e Hiromi Yamashita para o plano que deveria resultar na morte do velho coronel Jinsaku Wakiyama... O próprio Ogazawara cuidou pessoalmente de coletar maiores informações sobre a residência da vítima, e do cotidiano dos familiares, realizando uma série de visitas... Que não levantaram suspeitas, já que ele próprio era amigo de Wakiyama e sempre cuidara de apresentar-se com algum regalo à família.
Também por ocasião deste atentado da noite de 2 de junho de 1946, os tokkotai deveriam dar continuidade à matança na residência de Shibata Miyakoshi (como devemos saber, este é aquele que sugeriu o “documento de esclarecimento à comunidade nipônica”, o mesmo que se safara de atentado anterior por morar nas proximidades da mansão dos Matarazzo).
Os quatro tokkotai receberam as orientações de praxe. Levaram duas cartas com o “conselho para o suicídio” que cada um dos alvos deveria ler; as capas amarelas de feirantes; bandeiras do Japão; adagas e armas de fogo... Sem desconfiar da ação, a esposa do velho Wakiyama atendeu os assassinos, que chegaram afirmando possuir um documento a ser entregue ao coronel, e permitiu-lhes a entrada na residência. Ela e o filho presenciaram o assassinato que ocorreu na sequência... Viram Wakiyama ler e reler o “conselho”, achar tudo aquilo uma “coisa sem sentido”, e recusar a se suicidar por não se considerar um traidor da pátria... Foi Kitamura quem disparou o primeiro tiro, logo depois vieram os disparos de Hidaka... Os quatro abandonaram rapidamente o local do crime e não seguiram para o segundo compromisso (mais uma vez Miyakoshi se safara) porque Shimpei Kitamura definiu que deveriam se entregar às autoridades policiais da Rua Brigadeiro Tobias... E assim procederam.
Uma série de outros assassinatos cometidos por tokkotai  da Shindo Renmei aconteceram no interior do estado de São Paulo... As pequenas cidades de Bastos, Bilac (que antigamente, não por acaso, se chamava Nipolândia), Tupã, Coroados, Cafelândia, Guaiçara foram palco de atentados e outras ações tokkotai. Em algumas ocasiões notava-se o ataque a japoneses que não tinham vínculo algum com o modo de ser makegumi... Pessoas eram atacadas apenas por serem bem sucedidas em seus negócios... Houve situações em que os assassinos se deram muito mal, além de não terem concluído com êxito sua macabra tarefa, apanharam de vítimas... Aconteceu também de executarem a pessoa errada, que não era a marcada para morrer... Seria enfadonho tratar mais detalhadamente esses vários casos.
Na tentativa de colocar um fim nas ações tokkotai, o interventor José Carlos Macedo Soares, que governava o estado de São Paulo, decidiu convidar os japoneses residentes na capital que pertenciam à Shindo e a outras associações para um diálogo no Palácio de Governo (por aquele tempo era o dos Campos Elíseos, no bairro de mesmo nome). Nem todos os secretários de governo concordavam com sua iniciativa... Ele aguardava uma ou duas dezenas de partidários... Mas mais de quinhentos apareceram para a reunião...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais_09.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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