segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

“A Revolução dos Bichos” – Relações com a História

Depois das narrativas sobre o filme Revolução dos Bichos neste blog, seguem essas linhas sobre algumas analogias que podemos fazer:



Não há como ler Revolução dos Bichos, de George Orwell, ou assistir ao filme nele inspirado, sem relacioná-lo enquanto uma fábula sobre a trajetória do Socialismo que tantos sonharam tornar-se realidade, mas viram com decepção a experiência soviética resultar em totalitarismo com Stalin.
Assistimos ao velho idealista porco Major revelando seus sonhos e princípios. Logo pensamos em Lênin... Entre os animais há aqueles que consideram uma loucura, algo descabido, alcançar uma realidade sem o explorador (representado pelo fazendeiro Jones, que além de maltratar os animais, possui vícios degradantes como a preguiça e a bebida)... Um deles é a égua Mollie, que acha bom quando é enfeitada pelos humanos e não vê como poderia fazer isso sem eles. Muitos bichos percebem as revelações do Major como perigosas e improváveis... O rato, por exemplo, não sabe se conseguirá viver “sem negociar”. Mas também vemos Jessie, que é a cadela esperançosa de uma nova realidade para os explorados, e há Boxer que é o cavalo disposto a sacrificar-se pelo sistema... Não é preciso muito esforço para enxergar aí a complexa cadeia de reações daqueles que fazem parte da “camada social não dirigente” quando se deparam com as motivações para a mudança...
A revolução ocorre... Ela é o resultado de uma crise... O modelo existente não tinha como prosseguir. Jones se endividava, não tinha como pagar os credores e se mantinha com o seu procedimento degradante... A realidade torna-se insustentável para os explorados... Também aí a História é refletida...Tantas crises a humanidade vivenciou e que resultaram em movimentos sociais... Impérios como o dos Romanov (só para ficarmos com a temática em questão) foram derrubados.
O velho Major morreu e se tornou um ícone... Entre os insurgentes vitoriosos temos duas correntes: Snowball, que pode ser o Trotsky do pedaço; e temos Napoleão (o Stalin) e seu staff, que tem em Squealer o principal integrante.
Snowball pretende preparar melhor os membros da sociedade que surge... Quer que dominem leitura e escrita, que conheçam e defendam o Animalismo (Socialismo)... Ele foi decisivo na formação de seu exército de animais (o “exército vermelho”) para a luta contra os ataques que a fazenda sofreu... E sempre se mostrou disposto a tornar a sociedade mais eficiente e dar prosseguimento à Revolução, levando-a às outras fazendas (internacionalismo).
O porco Napoleão tornou-se o líder máximo com a ajuda de Squealer... Podemos dizer que eles passam a comandar o “Partido” que chefiará a nova realidade... O “Comando Supremo” criou uma poderosa guarda liderada pelo enorme rottweiler Pincher... Tratou de perseguir Snowball (assim como Stalin perseguiu Trotsky e tantos outros que considerava inimigos políticos). Sem opositores, Napoleão modelou a sociedade a partir de seus interesses. Anulou qualquer possibilidade de a Revolução expandir-se às outras fazendas... Bem ao contrário disso, procurou “garantir as conquistas do Animalismo internamente”. O “serviço de propaganda” realizado por Squealer possibilitava o controle das mentes dos governados.
Os governados dedicavam-se às tarefas que acreditavam torná-los livres... Porém percebiam que seu cotidiano era de trabalho árduo e que suas condições de vida tornavam-se cada vez mais degradantes... Enquanto sequer tinham o que comer, os porcos (“vanguarda” da Revolução) ficavam com as provisões de leite e, além de não trabalharem pesado, permaneciam no conforto da sede da fazenda... O cavalo Boxer era o que podemos chamar de “operário padrão”. O Sistema chamava a atenção de todos para a sua abnegação no trabalho... O pobre Boxer acreditou nos dirigentes e que o seu trabalho era essencial para o Animalismo. Agonizante foi enviado ao Matadouro de Cavalos numa negociação de Napoleão com os inimigos da Revolução... É bem isso o que ocorreu no Socialismo costurado por Stalin... Algo que se repetiu em todo o leste europeu... À classe dirigente os privilégios; ao povo o árduo trabalho, anulação das liberdades individuais e migalhas.
Assim como Stalin, o Napoleão de Animal Farm desviou-se dos princípios do Animalismo... Alterou esses princípios por vaidade pessoal... Com a ajuda de Squealer e da repressão impôs novos princípios. Negociou com os antigos inimigos e converteu-se na figura repleta de vícios que o Animalismo rejeitava. Devemos levar em consideração que as atitudes deploráveis eram heranças do modo de vida do explorador, bem caracterizado em Pilkington, um tipo sem escrúpulos (a ponto de envolver a própria esposa em negociatas) quando a proposta é levar vantagem ou “passar para traz” aqueles que representam alguma ameaça... Dessa forma destruiu-se e destruiu a esperança dos que sonhavam com o igualitarismo.

Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas