sábado, 28 de janeiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Cai o principal aparelho da Shindo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_26.html antes de ler esta postagem:

Na ocasião em que Kikawa, Negoro e Tomari solicitaram à polícia que a Shindo Renmei fosse legalizada, deixaram várias assinaturas de afiliados que endossavam o pedido, além do endereço da sede da associação: Rua Paracatu, 98, Bosque da Saúde.
Foi para lá que os policiais seguiram após o atentado sofrido por Shigetsuna Furuya e o assassinato de Chuzaburo Nomura ocorridos no início de abril de 1946. O delegado Geraldo Cardoso de Mello recebeu a incumbência de presidir o inquérito contra os envolvidos, que deveriam ser expulsos do país.
No casarão da Rua Paracatu encontram onze japoneses que não ofereceram nenhum tipo de resistência... Entre eles estavam Ryotaro Negoro e Seiichi Tomari, que respondiam pela direção do movimento (já que Kikawa estava foragido), além de Eiiti Sakane (aquele do episódio dos “sete samurais” de Tupã). Os policiais logo notaram no interior do prédio a foto do imperador e bandeiras do Japão. O símbolo da Shindo, uma flor de cerejeira bordada num tecido branco, também se destacava... Uma casa vizinha era conectada ao ambiente. Lá foram encontradas as instalações de uma rádio, outras salas para reuniões, ambientes dormitórios, laboratórios para revelação fotográfica, documentos diversos como cartilhas e listas de nomes de “derrotistas” a serem eliminados...
Parte da imprensa ficou encantada com a ousadia e abnegação dos capturados em relações às suas crenças... E coube ao delegado Alfredo de Assis a apresentação do material apreendido (mapas, bandeiras, fotografias e até edições da Life em que o Japão e os japoneses eram noticiados como grandes vitoriosos dos conflitos da Segunda Guerra), fazer os esclarecimentos possíveis e apresentar a lista com 40 nomes que estavam na mira da Shindo para serem assassinados.
Dentre os nomes dos sentenciados pela Shindo, estavam os de Yoshikazu Morita (que havia sido enviado como interprete para Marília, também durante os episódios dos “sete samurais” de Tupã), Sukenari e Hideo Onaga (respectivamente pai e filho, jornalistas considerados “corações sujos” pelo pessoal da Shindo)... Os demais da lista eram empresários japoneses “derrotistas”, como os já executados Ikuta Mizobe e Chuzaburo Nomura.
Alfredo de Assis contou detalhadamente, não sem alguns equívocos, sobre os episódios que resultaram nos acontecimentos de 2 de abril... Ele explicou que os assassinos vieram de Quintana, Marília, Pompéia e Tupã... Eram divididos em grupos chamados tokkotai (Unidade Especial de Ataque)... Em São Paulo, recebiam dinheiro para a aquisição de uma arma usada (no caso de não possuírem uma), e treinamento em locais mais afastados do centro da cidade.
Os matadores eram contatados desde um bom tempo por homens como Sunao Shinyashiki, que arregimentava jovens dispostos a servir a Shindo em honra do imperador e do Japão... Os que se dispunham à tarefa entendiam que não estavam cometendo nenhum crime, seu serviço era de “limpeza” da colônia... Os sentenciados saberiam com antecedência que haviam sido julgados e teriam o “direito” de se suicidarem em vez serem executados... No caso de os matadores serem capturados pela polícia, não deviam oferecer nenhuma resistência, além de deixar claro que não tinham nada contra o Brasil ou o seu povo, apenas contra os “corações sujos”... Aliás, recebiam a orientação de se entregarem à polícia tão logo terminassem de executar todos da lista que recebessem... Nunca poderiam revelar qualquer relação com a Shindo Renmei.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_28.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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