sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - regulamentos, confiscos e perseguição às escolas em tempos de guerra

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/01/sugiro-que-acesse-httpaulasprofgilberto.html antes de ler esta postagem:

Os problemas que a colônia japonesa enfrentava aumentaram tremendamente após o rompimento das relações entre o Brasil e o Japão. Isso já foi mencionado aqui... Em São Paulo, os “súditos do Eixo” deveriam obedecer a uma série de “regras” estabelecida por Portaria específica “regulamentando as atividades dos estrangeiros de São Paulo naturais dos países do Eixo” (início de 1942). Não há exagero em dizer que essas regras podem ser comparadas às que os nazistas impunham aos judeus onde quer que principiassem seu domínio. Anne Frank reservou uma página de seu diário para relatar sobre as medidas antissemitas de seu tempo (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2010/10/o-diario-de-anne-frank.html). Acho que podemos estabelecer uma comparação...
A Portaria da Superintendência de Segurança Política e Social de São Paulo proibia aos “súditos do Eixo”: o uso de sua língua pátria; a execução de seu hino, exibição de símbolos de seu país ou de imagens de suas lideranças políticas; reuniões diversas, comemorações ou discussões políticas privadas; viagem sem salvo-conduto ou sem prévia comunicação à Superintendência; armas e aviões particulares; dentre outras proibições.
Prisões foram efetuadas devido ao uso da língua pátria... O livro cita o caso da prisão de um velho sacerdote que realizava celebrações “na única língua que conhecia”... A Secretaria de Segurança Pública exigiu que os cerca de 200 mil imigrantes japoneses renovassem seus registros... Em pouco tempo, os meios de transportes que possuíam foram confiscados e passados à guarda policial.
Após a declaração favorável do governo brasileiro aos Aliados em guerra, os laços entre Brasil e Estados Unidos se estreitaram ao mesmo tempo em que os bombardeios alemães a navios brasileiros aumentaram... Então, mais uma vez, as pressões recaíram sobre os “súditos do Eixo”. Parte (10 a 30%) de seus depósitos bancários (superiores a 2 contos de réis) eram confiscados como forma de indenização aos prejuízos causados à marinha mercante... Os brasileiros que se utilizavam de serviços dos estrangeiros se viam na obrigação de declarar às autoridades sobre os valores contratados... A única forma de se livrar do confisco monetário era esconder o dinheiro sob colchões ou em latas, que podiam ser enterradas no fundo do quintal.
O fechamento das escolas japonesas em nosso país mereceria uma atenção especial. A lei estabeleceu que só a partir dos 14 anos seria possível aprender um idioma estrangeiro, e com professores brasileiros... É claro que a colônia resolveu assumir os riscos de manter escolas clandestinas para suas crianças... Há vários episódios em que as autoridades policiais contaram com a colaboração de professores brasileiros para o fechamento de estabelecimentos ilegais do ensino estrangeiro. As ocorrências policiais resultaram na apreensão dos mais diversos e inofensivos materiais escolares. Em um dos casos denunciou-se que as crianças eram treinadas militarmente com exercícios físicos e o auxílio de rifles feitos de madeira... Em outro denunciou-se que as crianças aprendiam que, mesmo tendo nascido em território brasileiro eram japonesas, “filhos do Japão”, que deviam incorporar o ideal do Yamatodamashii.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/01/coracoes-sujos-de-fernando-morais_14.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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