quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eleições e Contrato Social

Em tempos de eleições, como num passe de mágica, muita gente vira entendedora de política e se torna “especialista” e crítica de propostas e candidatos...

Mas quem conhece a História de nossa sociedade e posiciona-se criticamente nela?

É claro que ninguém precisa ler Maquiavel, Rousseau, Locke ou Montesquieu para se tornar apto a debater política ou dela participar. Mas sem embasamento... Torna-se complicado...




Talvez por causa do despreparo e da falta de exercício político a que estamos habituados, surgem certos absurdos fenômenos que, do “absolutamente nada”, tornam-se potenciais lideranças políticas. Como não há um exercício de reflexão política... A situação vira circo (no pior sentido).






Talvez por causa disso sejamos pegos de surpresa e notamos as pessoas de nosso convívio emitirem juízos que nada têm a ver com a realidade, ou mesmo com a legalidade (se é constitucional)...

Talvez por causa disso tornamo-nos reféns dos chamados “salvadores da pátria” de última hora.

Lembro-me de eleições de tempos passados em que alguns diziam, como se estivessem a pronunciar a situação mais dramática de suas vidas: Se esse Fulano for eleito vou embora desse país... Pra dizer a verdade, ouvimos isso ainda hoje... (Esses privilegiam, sem dúvidas, a “vontade particular”).

É um tal de não aceitar os resultados... Cada um demonstrando “conhecer melhor a realidade”, saber “o que é melhor para todos” e ter convicção de que as pessoas (os outros) é que são facilmente manipuláveis, que não sabem votar...

Todos sabem que o modelo de sociedade liberal que temos é o resultado das fundamentações de textos de filósofos iluministas... As ideias de Contrato, de representação política, de defesa de “direitos inalienáveis” (liberdade, propriedade, segurança, a própria vida...), e da legitimidade da revolta social nos casos em que o Governo constituído não atende a essas expectativas, foram definidas por aqueles teóricos. Esses ideais fundamentaram revoltas e revoluções na Inglaterra, França, América do Norte e em outras partes do mundo (incluindo o Brasil).

Separei este trecho do Contrato Social, de J. J. Rousseau. Sem dúvidas, ele alicerça as Democracias Liberais de nosso tempo. Este trecho é citado em um exercício do caderno 2 de atividades de História para o 2º ano do E. Médio. Reflitam sobre ele:

Numa legislação perfeita, a vontade particular ou individual deve ser nula; a vontade do corpo, própria ao governo, bastante subordinada; e, por conseguinte, a vontade geral ou soberana sempre dominante é a regra única de todas as outras. Contrariamente, de acordo com a ordem natural, essas diversas vontades se tornam mais ativas à medida que se concentram. Assim, a vontade geral revela-se sempre a mais débil, a vontade do corpo a segunda em categoria, e a vontade particular a primeira de todas; de sorte que, no governo, cada membro é, antes de mais nada, ele mesmo, e depois magistrado, e em seguida cidadão, graduação inversamente oposta à exigida pela ordem social. (percebemos a crítica à concentração do poder e aos instintos “usurpadores” daqueles que querem se sobrepor à vontade geral). Os grifos são meus.


Um abraço,
Prof.Gilberto

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