sexta-feira, 19 de novembro de 2021

“1984”, de George Orwell - forças de repressão tomaram conta da situação e usaram de violência também contra a proletária do quintal vizinho; Júlia entendeu que o momento era de se despedirem; a “voz de ferro” declamou pequeno trecho da cantiga sobre os sinos das igrejas; brutamontes em uniformes negros quebram o peso de papel, chutam o calcanhar de Winston; Júlia violentamente golpeada e retirada do quarto; pensamentos desconexos, confusões com o horário e preocupações com o velho Charrington e a pobre lavadeira; o antiquário chega ao cômodo

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/11/1984-de-george-orwell-dos-proles.html antes de ler esta postagem:

Infelizmente para Winston e Júlia a aventura amorosa e de rebeldia contra o sistema terminou... No quarto sobre a loja de antiguidades, até então o esconderijo ideal, havia uma teletela que passou a transmitir ordens ao casal... Estavam detidos.
Os dois tiveram de se manter no meio do quarto e com as mãos na nuca... A “voz de ferro” exigiu que não se tocassem. Amedrontados, fizeram exatamente como lhes era exigido. Winston imaginava sentir a tremedeira da companheira, mas podia ser que o maior tremor fosse o do próprio corpo. Sequer conseguia controlar os maxilares que tiritavam... O pior eram os joelhos que pareciam se dobrar a cada instante.
Da janela chegavam sons de pesadas botas militares... Podia-se perceber que havia tropas fora e dentro do prédio. Certamente o pátio já estava repleto de homens da repressão. Pelo barulho que provocavam, Winston calculou que implicaram com a proletária do varal, pois ouviu o “barulho metálico, prolongado, arrastado, como se a tina de roupa tivesse sido jogada de um lado a outro do quintal”. Na sequência, gritos e um “uivo de dor” deram a entender que estavam espancando a pobre mulher.
(...)
Winston estava tão convicto de que a casa estava cercada que pronunciou sua afirmação... A “voz de ferro” confirmou. Júlia tremeu dos pés à cabeça, pois entendeu que estavam definitivamente nas mãos da repressão. Ela só teve forças para dizer que achava melhor se despedirem.
A voz da teletela repetiu que era mesmo o melhor que tinham a fazer. Na sequência uma voz diferente, aparentemente “fina e culta”, se fez ouvir... Winston teve a nítida impressão de que a conhecia:

                   “E por falar nisso, já que falamos do assunto, Aí vem uma luz para te levar para a cama, Aí vem um machado para te cortar a cabeça!”

No mesmo instante a tropa de repressão arrombou a vidraça com uma escada e a trava despencou sobre a cama. Na sequência, homenzarrões trajando pesadas botas e uniformes negros invadiram o quarto. Os tipos eram fortes e traziam bastões e outras armas...
Winston ainda mais se apavorou com a possibilidade de ser espancado, apesar disso parou de tremer e paralisou o olhar. Manteve-se imóvel para evitar o pior... Um dos agentes colocou-se à sua frente. Sua aparência lembrava a de um boxeador e o modo como manipulava o bastão davam a entender que refletia a respeito do que iria fazer. Era de aterrorizar...
Sempre com as mãos sobre a nuca, Winston olhou-o nos olhos... Sua posição era de extrema fragilidade e ele sabia que a qualquer momento podia ser surrado com socos, pontapés e bordoadas de bastão. Mas o brutamontes apenas umedeceu os lábios com a ponta da língua e deu mais alguns passos pelo quarto.
Na sequência um dos agentes de repressão pegou o peso de papel que o rapaz tanto admirava e o atirou contra a parede da lareira. Winston olhou de canto sem movimentar a cabeça e conseguiu ver o pequeno coral de cor rosa rolando pelo chão. Pensou apenas que se tratava de um artefato misterioso e pequeno, que “sempre fora pequenino”. Depois um dos tipos exclamou qualquer coisa e o chutou no tornozelo... Apesar de violento, o golpe não foi suficiente para derrubá-lo.
Outro soltou um pesado murro no estômago de Júlia. No mesmo instante a moça se dobrou e pôs-se a rolar pelo chão, contorcendo-se de dor. Obviamente Winston não movimentou a cabeça em sua direção, mesmo assim por algumas vezes conseguiu captá-la quando ela “entrava no seu campo de visão”. O sofrimento da namorada o abalou ainda mais porque a via numa condição de extrema fragilidade, algo que jamais pensou que pudesse acontecer com ela.
A moça rolava de um lado para outro, provavelmente sem sentir completamente a dor porque seus esforços concentravam-se na respiração. Depois de alguns segundos, dois dos tipos a ergueram como se fosse um saco e a conduziram para fora. Winston ainda pôde notar sua cabeça cambaleante, os olhos cerrados, a pele amarelada e contorcida ainda manchada de maquiagem.
(...)
Ele mal podia imaginar que aquela seria a última imagem que teria da namorada... Na verdade sequer tinha condições de pensar a respeito. Permaneceu quieto e sem se mexer. Enquanto não sofria nenhum golpe, permitiu que a mente vagasse por reflexões a esmo. No momento a questão mais pertinente que lhe veio à cabeça foi a respeito do velho Charrington... Será que os agentes da repressão o haviam capturado? Depois pensou na pobre lavadeira do quintal vizinho... O que teriam feito a ela?
Sentiu a bexiga cheia e estranhou, pois fazia apenas duas ou três horas que se aliviara... O relógio apontava às nove horas da noite. Perturbou-se também com isso porque pelos seus cálculos já não devia haver tanta luz. Será que tinham dormido por mais de dez horas? Nesse caso ele e Júlia teriam acordado às oito e meia da manhã do dia seguinte, e não às oito e meia da noite.
A tensão era grande demais para prosseguir com tal problematização e logo deixou de se perturbar com o horário. Além disso, ouviu umas passadas rápidas pelo corredor... Elas trouxeram o Senhor Charrington ao quarto.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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