terça-feira, 2 de novembro de 2021

“1984”, de George Orwell - perseguição aos proletários dotados de talentos; equívocos dos antigos grupos socialistas em relação às questões da hereditariedade e predominância das oligarquias; ao Partido interessava transmitir o poder a membros devidamente preparados e convictos da necessidade de perpetuação da entidade; do baixo nível da formação dispensada aos proletários; sobre o patrulhamento ideológico dispensado aos membros do Partido

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/11/1984-de-george-orwell-tatica-da.html antes de ler esta postagem:

Como vimos, os proletários constituíam uma classe à parte... O Partido os mantinha na condição subalterna e sem qualquer formação que lhes possibilitasse a autonomia. Não havia modo de os agentes de repressão não reconhecerem os dotados de algum talento, que pudessem criar situações indesejadas formando grupos descontentes com o sistema. Não demorava e os enquadrava para tirá-los de circulação.
Evidentemente os proles não eram aceitos no Partido, mas esse não era um princípio permanente ou inquebrantável... Temos de reforçar a ideia de que o IngSoc não podia ser confundido com uma classe na qual os direitos e privilégios são transmitidos de pai para filhos. Seria o mesmo que imaginar que o poder extremado pudesse ser transferido por herança. O que contava era a capacidade, e se ocorresse a impossibilidade de manter os postos de comando ocupados por falta de gente competente, o Partido saberia agir rapidamente e recrutar talentos observados no meio proletário.
(...)
O fato de o Partido não ser uma instituição hereditária foi de extrema importância para a neutralização da ação de opositores... No passado, os grupos socialistas se preparavam para combater “privilégios de classe” na certeza de que “o que não fosse hereditário não podia ser permanente”. Todavia não aprofundavam a questão e não percebiam “que a continuidade de uma oligarquia não precisa ser física”. Ao mesmo tempo não reconheceram que a duração das aristocracias hereditárias não é das mais prolongadas. Não analisaram alguns exemplos, como o da Igreja Católica que, passando por renovações e adequações, se mantém por séculos.
Cedo o Partido percebeu que, mais do que a herança, é “a persistência de certo ponto de vista em face do mundo e de certa maneira de viver, imposta aos vivos pelos mortos” que conta para a essência oligárquica. O que conta é o grupo dominante, e este só mantém-se no poder enquanto faz os sucessores. Nesse sentido, não se busca a perpetuação de sangue. Em vez disso, coloca-se em primazia a “perpetuação da entidade” para que a estrutura hierárquica da sociedade permaneça... Em síntese, pouco importa quem conduz o governo.
(...)
O Partido fez de tudo para sustentar sua mística e usou todos os recursos para incutir nas mentes a sua importância... As “crenças, gostos, emoções e atitudes mentais” foram canalizadas para este fim. Desse modo as pessoas foram cada vez mais deixando de se interessar pela “verdadeira natureza da sociedade”.
O quadro que se apresentava indicava que a situação era de ampla estabilidade... Não havia a menor chance de qualquer tentativa de rebelião avançar... Em relação aos proletários, o “livro proibido” sentenciava que não possuíam qualquer organização e que, além disso...

                   “Entregues a si mesmos, continuarão, de geração em geração e de século a século, trabalhando, procriando e morrendo, não apenas sem qualquer impulso de rebeldia, como sem capacidade de descobrir que o mundo poderia ser diferente do que é”.

A situação se reverteria se houvesse significativo desenvolvimento da indústria, pois isso obrigaria o regime a melhorar a formação dos operários... Acontece que a tendência era bem outra, já que o padrão de “educação popular” declinava na mesma medida em que “rivalidades comerciais e militares” tornavam-se insignificantes. Assim, o Partido não tinha qualquer motivo para se preocupar com o que o proletariado pensava ou deixava de pensar.
Para a classe dirigente prevalecia a máxima de que a massa de excluídos sequer possuía intelecto e dessa maneira não tinha como reivindicar “liberdade intelectual”. De modo diferente lidavam com os membros do Partido... Em relação a esses era preciso muita atenção e não se permitia qualquer “desvio de opinião a respeito do assunto menos importante”.
(...)
A Polícia do Pensamento jamais deixaria de acompanhar de perto a vida dos membros do Partido... Isso era uma constante e nenhum deles podia garantir que estivesse completamente só, pois a todo instante (em isolamento, dormindo ou acordado, no trabalho ou no ócio, no banho ou a fazer uma refeição) prevalecia a desconfiança de estarem sendo vigiados... Não havia qualquer aviso ou elucidação de motivos, e dessa forma vivia-se sob a sombra do patrulhamento.
A direção do Partido obtinha todo tipo de informação a respeito dos membros... Nada lhe escapava!

                   “Suas amizades, seus divertimentos, sua conduta em relação a esposa e aos filhos, a expressão de seu rosto quando está só, as palavras que murmura no sono, e até os movimentos característicos do seu corpo, é tudo ciosamente analisado”.

Utilizando os mais modernos equipamentos de espionagem, a Polícia do Pensamento podia descobrir qualquer tipo de infração e excentricidades... Uma simples mudança de hábitos ou alteração de estado de espírito podiam ser indicadores de escrúpulos indicadores de incertezas em relação à fé no regime.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas