quarta-feira, 24 de novembro de 2021

“1984”, de George Orwell - Charrington remoçado e muito modificado, um verdadeiro integrante da Polícia do Pensamento, apareceu no quarto; isolamento e extrema vigilância em cela do Ministério do Amor; detenção provisória de presos comuns e políticos; postura abusada dos detidos por delitos comuns e arranjos para ilicitudes diversas

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2021/11/1984-de-george-orwell-forcas-de.html antes de ler esta postagem:

Logo que o velho Charrington entrou os agentes de repressão pareceram adotar uma postura menos agressiva... Winston notou que a aparência do antiquário também estava mudada. Surpreendeu-se ao ouvi-lo ordenar que recolhessem os pedaços do peso de papel que estavam espalhados pelo piso.
Não foi difícil reconhecer que sua voz era a mesma que havia saído da teletela momentos antes. O tipo trajava o mesmo paletó de ocasião, todavia sua aparência estava mudada, já que não mais trazia o grisalho nos cabelos ou óculos... Virou-se por um momento na direção do capturado e o olhou com agressividade sem nada dizer... Parecia ter conferido que aquele era mesmo Winston e depois não mais se voltou para ele.
De sua parte, Winston tinha certeza de que aquele era mesmo o antiquário com quem se entendera a respeito dos objetos antigos e do aluguel do quarto, mas o homem apresentava postura física bem diferente... Não tinha as costas curvadas como antes e sua estatura havia aumentado.
Charrington trazia pequenas mudanças no rosto, significativas para uma “completa transformação”. Nada de rugas... Além disso, as sobrancelhas pareciam ter se afinado. Também o nariz parecia outro, já que não estava tão proeminente quanto antes... No conjunto, as alterações deram-lhe uma aparência de um tipo bem mais jovem, contando uns trinta e cinco anos.
Winston teve a convicção de que estava diante de um integrante da Polícia do Pensamento.

(...)

O rapaz acabou sendo levado para uma instalação no Ministério do Amor... Mas antes passou por um centro comum de detenção, onde permaneceu por algum tempo em meio a outros presos políticos e outros por delitos comuns...
O ambiente no Ministério do Amor era de total isolamento e vigilância... A sala muito branca e iluminada por “lâmpadas ocultas” não tinha qualquer janela e em cada uma das paredes havia uma teletela. O silêncio só não era pleno devido a um constante zunido certamente relacionado ao sistema de refrigeração. Em quase toda extensão das paredes havia espécie de prateleira que servia de assento. Num determinado ponto localizava-se uma porta que dava acesso a um vaso sanitário desprovido de tampo.
O rapaz estava sem qualquer noção do tempo que havia se passado desde que o encaminharam para ali... Ainda estava perturbado pelo fato de não saber em que momento se efetuara a sua captura, se era noite ou dia. Sabia apenas que sentia forte dor de barriga e que estava esfomeado sem saber quantas horas haviam se passado desde que fizera a última refeição... Provavelmente mais de um dia e meio.
Sentado no estreito banco, Winston mantinha as mãos sobre os joelhos e permanecia imóvel o mais que podia. Qualquer movimento repentino que fizesse era repreendido pela teletela. Ele parecia bem treinado a permanecer na imobilidade, mas a fome o incomodava muito e por um momento imaginou que trazia algumas migalhas de pão no bolso... Não conseguiu resistir e levou a mão ao local onde supunha estarem as migalhas, mas no mesmo momento a placa metálica vociferou: “Smith! 6079 Smith W! tira a mão do bolso!”
Decepcionado, obedeceu tornando-se novamente imóvel e cruzando as mãos sobre os joelhos.
(...)
Como se afirmou anteriormente, antes de ser encaminhado para as instalações do Ministério do Amor, Winston passou um tempo em um local que parecia ser “uma prisão comum ou um depósito temporário” utilizado pelas forças de repressão.
Não sabia por quanto tempo permaneceu no ambiente sujo, malcheiroso e barulhento... A sala era bem parecida com a que foi deixado isolado, com a diferença de que parecia malcuidada e, por alguns momentos, abarrotada de detidos.
No local havia alguns presos políticos como ele, mas a maioria era de presos comuns... Logo que chegou, colocou-se em silêncio no longo banco e em pouco pôde perceber a companhia de tipos pouco acostumados aos banhos diários. Apesar da fome e dor de barriga, além de amedrontado, não podia deixar de notar o comportamento dos presos.
Os que tinham vínculos com o Partido permaneciam calados e tinham um olhar aterrorizado... Os presos comuns se comportavam extravagantemente e não se importavam com os demais, além disso, esbravejavam com os carcereiros, implicavam com a repressão e rabiscavam palavrões no piso.
Podia-se perceber que alguns deles conseguiam comida por meios não conhecidos pela polícia... E quando se cansavam da falação das teletelas, se injuriavam e provocavam gritaria para que fossem silenciadas. Conseguiam seu intento, já que a balbúrdia que provocavam era insuportável.
Os guardas usavam de violência contra eles, mas até quando os estapeavam demonstravam certa consideração. Winston entendeu que no mundo dos criminosos sempre havia aqueles que lidavam com contrabandos e ilícitos que, uma vez tramados com as “pessoas certas”, podiam garantir alguns privilégios. Um dos tipos chegou mesmo a dizer-lhe que, se conhecesse “bons contatos e os truques certos”, não enfrentaria muitos problemas nos campos de trabalho forçado.
Leia: “1984”. Companhia Editora Nacional.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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