
Os guerrilheiros se aproximaram do trator enquanto Sem Medo dava as ordens para bazucar o veículo e queimá-lo na sequência.
Um dos trabalhadores que se contorcia e apertava a barriga pediu permissão para se retirar por uns instantes... Mundo Novo respondeu que ele podia se retirar para defecar.
A bazuca provocou um grande estrondo e o resultado foi uma tremenda avaria no motor do trator... Depois foi o cheiro da pólvora se misturando ao odor das fezes do tipo amedrontado e que não tivera tempo de se afastar.
O moço ficou visivelmente envergonhado... O Comandante viu que Mundo Novo o olhava e não pôde conter a gargalhada escandalosa. De fato, a situação do outro era das mais constrangedoras, já que sequer conseguira baixar as calças.
(...)
Tomando
ares de seriedade, Sem Medo disse que era momento de incendiar o trator... Não
restara nenhuma peça que pudesse interessar-lhes no amontoado de sucata. Foi
assim que juntaram lenha e a ensoparam com gasolina para iniciarem o fogaréu.
As chamas atingiram
elevada altura... Os quatro prisioneiros foram afastados por dois guerrilheiros...
Ingratidão do Tuga tratou de instalar e camuflar três minas perto do buldôzer
destruído.
Depois o Comandante
tomou uns papéis onde escreveu:
“Sacanas
colonialistas,
Vão à merda, vão
para a vossa terra.
Enquanto estão
aqui,
Na terra dos
outros,
O patrão está a
comer a vossa mulher
Ou irmã, cá nas
berças!” (conforme o texto - p.32)
O papel foi deixado em posição de evidência e no meio da área onde as
minas foram instaladas. O camaradas sorriram da iniciativa do Comandante... O
Chefe de Operações disse o que todos ali já sabiam a respeito da armadilha...
Qualquer tuga sacana mais curioso de ler o bilhete iria pelos ares.
Ingratidão lamentou não ter armado mais minas...
O Comandante ordenou a retirada... Não podiam perder tempo.
(...)
Os guerrilheiros
conduziram os prisioneiros pelo Mayombe ao “ponto de recuo”. Ao todo haviam
feito dez prisioneiros.
O Comandante percebeu que o mecânico era o mais instruído entre os
trabalhadores, então perguntou-lhe a respeito da picada aberta até a área de
corte das árvores... O tipo explicou que ela tinha uns cinco quilômetros e dava
acesso à estrada entre Sanga e Caio Nguembo.
Sem
Medo quis saber quantos soldados havia no quartel. O mecânico mostrou que não
sabia, pois voltou o seu olhar para os demais trabalhadores. Nenhum deles se pronunciou
e foi por isso que ele sugeriu que talvez fossem uns cem. Nem todos eram tugas.
Certamente havia soldados angolanos que faziam parte de Tropas Especiais.
(...)
Novas perguntas foram
feitas e dessa vez direcionadas a outros trabalhadores. Aquele que havia sido
capturado por Mundo Novo era um jovem de quatorze anos e não se intimidava ao
falar. O mecânico tinha um olhar inquieto e desconfiado, e a todo momento
fitava os demais. Sem Medo era o guerrilheiro que mais chamava a sua atenção.
Lutamos
pediu autorização para se comunicar com os detidos em “fiote” (que é o dialeto
dos originais da Cabinda). O Chefe de Operações respondeu no mesmo instante que
não havia necessidade... O Comissário quis dizer algo a respeito, mas foi
impedido pelo Comandante. Este resolveu continuar o interrogatório em
português, a língua que bem ou mal todos conheciam.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2018/06/mayombe-de-pepetela-rumando-para-congo.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto