sábado, 28 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – folclore do sertão vaqueiro; o arraial avistado ao longe; Raimundo responde às perguntas sobre os vaqueiros e a respeito da intriga entre Silvino e Badú; destrocando as montarias de Francolim e João Manico; conclusões do major e sérias recomendações ao “secretário”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_27.html antes de ler esta postagem:

Você há de concordar...
Os causos do Calundú e do “Madurêra” são assustadores e típicos do folclore sertanejo e vaqueiro.
Também os vaqueiros se tornaram figuras folclóricas... O seu modo de ser, pensar, falar, se vestir e lidar com a boiada ficaram no passado...
E fazem parte do arcabouço cultural de nossa gente.


(...)

O Major Saulo exclamou que faltava bem pouco para chegarem... Desde o alto onde se encontravam já podiam avistar o arraial e sua igrejinha toda branca no cimo do morro... Lá estavam “as casas, da Rua de Baixo e da Rua de Cima; e a estação com os trens parados, no meio da fumaça das locomotivas”.
Por fim o patrão comentou que ao que parecia tudo estava nos conformes e chegariam bem com todo o gado. A respeito da conversa sobre Badú e Silvino, ele disse que concordava com Raimundo... Aquela rixa não daria em nada! Prova disso era o fato de tudo ter acabado em risada após a topada de Badú com o zebu enlouquecido.
Raimundo confirmou que todos haviam levado na brincadeira.
O major quis saber se Silvino respeitava o irmão dele (o Tote)... O vaqueiro respondeu que pelo menos até o dia anterior aquilo era uma verdade. Mas no momento não tinha certeza porque os dois estavam sem se falar por causa de uma discussão.
Discussão? O Major Saulo perguntou, pois tinha interesse de tirar uma conclusão definitiva sobre os temores de alardeados por Francolim. Raimundo não sabia os motivos, mas sugeriu que talvez fosse por causa de um dinheiro que Tote devia ao irmão.
O patrão deu a entender que ficou satisfeito com o que ouviu... Ele sorriu como sempre fazia nessas ocasiões e disse que estava “direito”, “tudo em ordem”.
(...)
Não havia mais o que especular a respeito das intrigas entre Badú e Silvino...
O Major Saulo disse a Raimundo que sua companhia e prosa tinham sido muito boas. Então o vaqueiro podia se adiantar para assumir posição na dianteira da tropa e logo que chegasse ao João Manico devia dizer-lhe que estava sendo chamado pelo patrão para que sua montaria fosse destrocada com a de Francolim.

O “imediato” foi o primeiro a chegar com o Sete-de-Ouros... O burrinho deu o ar da graça sem que se notasse cansaço em suas passadas, e obviamente totalmente alheio à falação do homem que estava carregando.
O major foi dizendo que precisava saber se ele prestava “atenção nas coisas” que envolviam o trabalho de liderar a condução da boiada pela estrada. Francolim vivia se colocando como “homem de sua confiança”, então era necessário saber se, de fato, era assim mesmo.
Depois o major perguntou se ele sabia o que o vaqueiro Silvino levava de bagagem. O rapaz respondeu que o outro levava a patrona (cartucheira ou sacola de couro) cheia e mais um saco carregado até a metade na garupa. No capote, Silvino havia enrolado outras tranqueiras que ele não podia adivinhar... Mas acrescentou que se o patrão quisesse era só mandá-lo para junto do encrenqueiro para uma breve sondagem.
O Major Saulo garantiu que não havia necessidade de maiores incômodos. Na sequência chegou João Manico, que recebeu a ordem para destrocar a montaria. O patrão brincou dizendo-lhe que era preciso ter paciência e que “este burrinho é hoje só”.
Francolim tratou de ajeitar o gorro antes de retomar o cavalo que estava com o Manico. Mais uma vez o major fez gracejos sobre as manias de seu “imediato”, pediu para ele se apressar e posicionar-se ao seu lado, pois logo entrariam no arraial e todo o povo saberia quem era o “secretário” do fazendeiro.
(...)
A tropa passou pela ponte que atravessava o ribeirão...
Primeiro o subúrbio e seus casebres miseráveis... Lavadeiras carregando trouxas de roupas na cabeça se assustaram e saíram às carreiras tal como as formigas lava-pés ao perceberem o formigueiro sendo atacado.
Foi nesse momento que o major confidenciou ao Francolim que não voltaria à fazenda, pois permaneceria no arraial com a família... Sendo assim, esperava que ele liderasse os demais vaqueiros no retorno à Tampa... O patrão estava transferindo sua autoridade para “a algibeira” do “imediato”. Mas aquilo devia ficar entre os dois.
O Major Saulo salientou que Francolim devia permanecer de “boca fechada” a respeito da ordem dada. O rapaz garantiu que a palavra de seu patrão era lei e ele a cumpriria nem que tivesse de morrer.
(...)
A boiada seguiu pelo beco... Tchou... Tchou... Tchou...
Leofredo recontou os animais... Não faltava nenhum...
(...)
O Major Saulo tinha mais a dizer ao Francolim...
Ele devia vigiar o Silvino o tempo todo... Depois de tudo o que ouvira, o major tinha certeza de que o rapaz tentaria matar Badú e depois escapar.
Enfatizou que os dois deviam ser vigiados... E para mais deixá-lo alerta exclamou:
“Não perde os dois de olho, Francolim Ferreira!”
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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